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QUANDO AS ÁRVORES MORREM, Y: IDEOGRAMA DE PARTIDA e A VIDA AFINAL – TATIANA LAZAROTTO, MAR SNEIDER e CYNTHIA ARAÚJO – ED. CLARABOIA
26 de fevereiro das 18:00 as 21:00
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Quantas lembranças atravessam um corpo enlutado? O que fazer com o desejo de nossos mortos? Em sua estreia,Tatiana Lazzarotto nos apresenta em prosa poética o desenrolar de uma notícia de morte. É também uma história sobre um pai, uma filha e uma árvore.
“Nunca se retorna de um luto. Reconheço-o como minha casa desde já, embora eu possa caminhar para a janela, respirar outros ares.”
Quantas lembranças atravessam um corpo enlutado? O que fazer com o desejo de nossos mortos? Em sua estreia, Tatiana Lazzarotto nos apresenta, em prosa poética, o desenrolar de uma notícia de morte. É também uma história sobre um pai, uma filha e uma árvore. Um deles está morto. Os outros dois terão de sobreviver.
Narrado em primeira pessoa, o romance apresenta a história de uma mulher que perde o pai de forma repentina. Ela retorna a Província – cidade fictícia – para atender aos desejos deixados por ele: recuperar a casa da família e garantir que a velha árvore do quintal, já condenada, não seja derrubada. Ao mesclar uma experiência ficcional de luto com as próprias memórias (o pai da autora faleceu em 2018), a narradora relembra a trajetória do patriarca, que deixou a profissão de comerciante quando ela e os irmãos eram crianças para se transformar em Papai Noel profissional. A família, galhos entrelaçados de uma árvore, é rememorada como clã – e configura-se como uma espécie de cordão de pisca-piscas em que cada lâmpada acesa importa para iluminar toda uma fileira. É a partir das memórias reais e ficcionais, suscitadas pelo próprio estar de abandono, que a autora, já adulta, constrói uma narrativa madura e afetuosa sobre o luto.
“E é no entrelaçamento entre passado e presente que as faltas e ausências são expostas e preenchidas, a fim de nos fazer carinho em uma tentativa constante de decodificar o que é, ao mesmo tempo, indizível e enraizado na profundidade dos corpos. Uma árvore que se levanta nos fundos da casa, imponente, registro e artefato de que, contra todas as lógicas, Papai Noel existe.” (PILAR BU, poeta y professora)
Um corpo como uma casa assombrada, um corpo que treme, que sente um filete de zinco na garganta. Um poema como um corpo que perde as palavras, do qual as palavras caem verticais, abrindo fissuras no papel. Y é um livro no qual corpo e poema se misturam, se contaminam, roubam imagens um do outro. É assim, instaurando pontes entre territórios muito diversos – desertos, mangues, à beira de uma cama – que esse livro estende sua mão, um verso, em nossa direção.
A palavra corpo, a palavra casa, as fricções entre elas e o que resta depois desse atrito: palavras novas, desabadas, arruinadas – e que criam, justamente por isso, uma obra vigorosa, repleto de imagens táteis. Sentimos os abalos sísmicos sob seus poemas, as vibrações em suas superfícies, que resultam em fronteiras originais entre os territórios pelos quais caminham suas imagens.
Assim, esse livro é também uma espécie de mapa que instaura uma cartografia rara do espaço, ou ainda uma corpografia, que possa dizer do mundo a partir de uma leitura desejante de novas casas e novos corpos que possam ser reconfigurados pela palavra.
Sobre a autora
Mar Sneider é terapeuta da encruzilhada entre corpo, palavra e imagem, facilita processos de investigação em grupo pelo @coracaosubversivo, escreve para não esquecer de viver e Y é seu primeiro livro de poesia.
“O livro que temos em mãos é uma peça fundamental para o entendimento de um assunto que poucos realmente procuram entender e que muitos sofrem por seu consequente desconhecimento. A autora aborda com clareza, sensibilidade, inteligência e coragem um tema difícil e fundamental para a sustentabilidade do sistema de saúde e o cuidado de pacientes com doenças graves a partir de pesquisa sobre pessoas com câncer avançado.” Munir Murad Jr., oncologista e paliativista “Foi com Cynthia que aprendi o significado da palavra cuidado paliativo: sentada no sofá de casa, lendo para minha mãe as palavras sempre didáticas dessa pesquisadora e escritora que comunica a partir do coração. Embora neste livro as verdades trazidas pela autora não sejam fáceis de ouvir, cada sentença chega com o cuidado que só existe em abraços afetuosos em momentos difíceis. Este livro é um exemplo de que direito à informação deve ser acessível a todas as pessoas, deve tocar sem gerar sensacionalismo, e deve trazer a verdade sem perder de vista as diferentes opiniões, medos e crenças. É possível ler em uma tarde, mas é preciso estar com a cabeça e mente abertos para o processo de finitude. Até o fim desta leitura, tenho certeza de que o direito a uma morte digna passará por você tanto quanto o desejo ao bem viver.” Jéssica Moreira, escritora e jornalista “Cynthia viu o problema de alimentarmos uma falsa esperança, de sermos enganados em relação a tratamentos e prognósticos. E é sobre essa questão, em grande parte cultural, que ela trata nesta obra. Vem de uma dificuldade em comunicar a perspectiva de morte com clareza e sinceridade, de expor prós e contras de cada tratamento, informar estatísticas e pesquisas científicas. Dar o remédio pode ser, muitas vezes, o caminho mais fácil. Mas não o melhor para o paciente.” Camila Appel, jornalista, roteirista