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A CASA DOS LOUCOS E A DESGRACEIRA DE TIÃO PERNAMBUCO E MARIA TUPINAMBÁ – MÁRIO SÉRGIO DE MELO – ED. ESTÚDIO TEXTO
5 de setembro de 2023 das 19:00 as 21:30
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Mário Sérgio é geólogo de formação, pesquisador aposentado do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – e professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG. Desde 2019 é membro da Academia de Letras dos Campos Gerais.
Desde 2005, com o artesanal livreto de estreia “poemecos”, ensaia predicados de poeta: “A poesia é um saudável e necessário exercício de sensibilidade e comunicação da alma”. “A casa dos loucos” é seu nono livro de poesia. Inclui poemas escritos entre 2018 e 2023, segundo o autor “tempos de sombras”, abalados por desatinos sociopolíticos e pela pandemia. “O estro não logrou varar incólume estes tempos”, diz Mário Sérgio. Nesse cenário, “Qual é a verdadeira casa de loucos: o sanatório de recuperação dos desajustados no mundo atual, ou o mundo atual, que segrega e condena o que nele ainda resta de humanidade?”. Vários dos poemas do livro pretendem encorajar o sentir e o refletir sobre esta pergunta. A resposta que o autor consegue ensaiar, por enquanto, é: “Nesta realidade tão particular, absurda e enlouquecida que estamos vivendo, a poesia revigora-se como possível expressão de resistência, amorosidade e emancipação.”.
O livro “A desgraceira de Tião Pernambuco e Maria Tupinambá” narra a saga de um jovem casal de retirantes nordestinos e da família que viriam a constituir. Fugindo da seca, da miséria, da ambição e das injustiças de Ouricuri, no sertão pernambucano, Tião e Maria se recusam a bandear-se para o fascínio do Sul. Em obediência à advertência das últimas palavras da agonizante Jesuína, mãe de Tião, picada de jararacuçu, enveredam-se sem destino certo pela Floresta Amazônica, em busca de um lugar que lhes prometesse sustento e dignidade. Ainda no início de sua forçosa migração, Maria conhece e encanta-se com os vistosos frutos do jambo-vermelho. Guarda alguns caroços, eles lhe inspiram um inexplicável bom augúrio para as peripécias que estavam a iniciar. Embrenhados na selva, assentam morada como beiradeiros no Rio Roosevelt, afluente do Aripuanã. Enfrentam perigos e agudas renúncias, criam lar em palafita levantada com o próprio suor. Ali vivem por quinze anos, como posseiros desbravadores da mata. Apartados da civilização, escapam da fome e formam família, com a chegada dos filhos Donato, Raimundo, Rosália e a companhia do cão Baguá. Aprendem a conviver com o insulamento e comungar com a natureza, imponente e severa, que quase tudo provê, à custa de tino e determinação. Esse tempo de banimento revela-lhes importâncias essenciais da vida: a virtude da simplicidade e da serenidade, a parcimônia no trato com a desmesurada abundância da floresta, o lar e o convívio familiar, a generosidade e o encanto da natureza, a liberdade, a honradez. Mas a cupidez humana alcança-os, enfim, nos remotos ermos amazônicos onde tinham encontrado a paz e o alimento. A desgraceira que os expulsara do Nordeste volta a afligi-los, empurra-os para agravadas angústias e novos desterros, ditados pela cobiça de inescrupulosos grileiros. Poderosos que não hesitam expulsar as famílias de posseiros para derrubar e incendiar a mata, contrabandear madeira ilegal e explorar minérios. Os retirantes nordestinos terão de superar renovados desafios, com acrescentadas e inesperadas dificuldades, nas terras dantes renegadas. O roteiro de sua vida mostra-lhes que os infortúnios que os perseguem não resultam da geografia dos lugares, mas da índole dos homens.