Compor narrativas interligadas em tempos diferentes faz o leitor novelar, um enredar-se no texto, desacomodar-se para pensar em que plano ele se encontra ao virar a página. É como dobrar uma esquina, traz sempre novidades mesmo na rua já conhecida. Há simplicidade cativante na trama das histórias pelo escrito da Virgínia Kleemann propiciar o movimento algo lúdico da perseguição ao personagem da vez. E são tantos e tão familiares! Comuns e extremamente singulares, cheios de personalidade, cada qual esconde seu drama pessoal para repartir a descoberta com o leitor! Custódia, Vidêncio, Agenor, Josias, são paradoxalmente datados nos costumes dos campos altos do Sul brasileiro e, no entanto, eles são profundamente atemporais. Têm o poder de explicitar sua realidade, a de dentro e a do entorno, em completa simbiose. O silêncio da secura ecológica contrasta com a irriquieta crise do “si mesmo” voltado para o outro, presente ou ausente da convivência silenciosamente mantida. A alternância costurada de tempos e lugares, sentimentos e lembranças produz cenários psicológicos, que se desdobram em outras vidas. Virgínia furtivamente insere a morte de forma natural como é o acontecer, mas o faz com ênfase e suspense. Ao poetar metáforas e alegorias sem escapar do realismo, suas palavras se metamorfoseiam na medida em que veste e despe os protagonistas, comprometendo-os, inclusive o leitor. Não estranhe se ouvir um assobio, você está ultrapassando os limites que a escrita se propôs.