Este livro foi escrito a partir de uma sugestão do flósofo Adauto Novaes, na década de 1990. Naquela época, ele propôs vários ciclos de palestras proferidas por intelectuais e professores. Um desses ciclos foi sobre o tema da ética. Escolhi debater a relação entre a ética e a psicanálise a partir da pergunta: qual foi o papel da psicanálise na modernização do sentido daquilo que, na tradição pré-moderna, era considerado (desde Platão) ético? Para a psicanálise, toda a produção de sentido é destinada ao Outro. O próprio “sentido da vida” não é uma invenção individual — mesmo que varie de uma pessoa a outra. As produções coletivas de sentido participam das formações da cultura em cada sociedade; a ética, a estética, as convicções do senso comum, a moral. Para a psicanálise, o enfraquecimento desse imperativo passional, gozoso, que incita todas as formas de abuso e de violência não se dá através da repressão (a não ser, pela lei, em casos criminosos), mas através da sublimação. Esta palavra na psicanálise freudiana indica a possibilidade de transformar alguns impulsos corporais interditados, perversos, etc, em... palavras, músicas, obras de arte. A ética, para a psicanálise, indica esta segunda escolha para fazer face aos nossos impulsos destrutivos ou imorais