Outro golaço – Livraria da Vila

Em Os beneditinos, José Trajano compartilha, na voz de um narrador, mais histórias apaixonantes do futebol

Foto Pablo Saborido/Divulgação

*Matéria publicada na revista Vila Cultural 167 (março/2018).

Entre amigos, convidados e histórias sempre memoráveis e cativantes, o jornalista José Trajano autografa dia 23 de março, na loja da Fradique, Os beneditinos (Alfaguara), seu novo livro. Sob o pretexto da paixão pelo futebol – e pelo texto, obviamente –, ele apresenta toda a fluência de um autor que seduz a audiência com a mesma espontaneidade com que acumulou leitores ou telespectadores ao longo de sua carreira no jornalismo.
Não por acaso, o narrador de Os beneditinos compartilha uma trama cheia de lances esportivos e divertidos. Jornalista desempregado, sessenta e poucos anos, ele vive na Mooca e tem de priorizar os cuidados com a saúde, que não anda lá essas coisas. Mas não lhe faltam pequenos-grandes prazeres, entre os quais assistir às partidas do Juventus, o Moleque Travesso, que o faz se lembrar do América, seu time do coração. Tomar ocasionalmente uma cerveja e se dedicar às suas partidas de futebol de botão contra veteranos do bairro também estão na sua pauta de felicidades cotidianas, até o dia em que, folheando uma revista na sala de espera do dentista, dá de cara com a manchete: “Será em Londres o 1º Mundial de Walking Futebol”.
“Futebol andando?”, ele se pergunta. Com a ajuda do filho, descobre mais sobre essa categoria, reservada aos que já passaram da flor da idade, em que não se pode, em momento nenhum da partida, tirar os dois pés do chão.
É a chance que o personagem de Trajano precisava para juntar o antigo time do Colégio São Bento, no Rio de Janeiro, e colocar os esportistas aposentados para treinar. Desta vez, os Beneditinos irão à desforra das derrotas sofridas para o Santo Inácio tantas décadas atrás.
“O esporte, o jornalismo e as mulheres sempre foram minhas maiores paixões. O que seria de mim sem elas? Mas já não faço planos. Vou empurrando a vida com a barriga. Faz seis meses que me mudei da Vila Madalena para a Mooca. Muita gente estranhou por eu ter vendido meu charmoso apartamento e alugado este onde só cabem meus discos, livros, pôsteres e três amigos que de vez em quando vêm me visitar. Falta de grana, torcida brasileira. Cumpro rotina: vou todos os dias à padaria, tomo café no balcão, compro pão integral, peito de peru, queijo de cabra e leite de soja zero. No supermercado escolho verduras, legumes, frutas, ovos e alguma besteirinha para colocar na geladeira”, compartilha, em tom intimista, o narrador cheio de carisma de Trajano.
Carioca, José Trajano estreou no Jornal do Brasil na década de 1960 e passou, na sequência, por todos os grandes veículos de comunicação do Brasil. Foi comentarista do programa esportivo Cartão Verde e diretor de jornalismo da ESPN Brasil, onde participava da mesa-redonda Linha de Passe. Tal qual o narrador de Os beneditinos, é torcedor fanático do América. Trajano já publicou os romances Procurando Mônica – O maior caso de amor de Rio das Flores e Tijucamérica – Uma chanchada fantasmagórica.