Café Lacaniano – O narcisismo na era da reprodutibilidade técnica

Nas Sagradas Escrituras, impressas desde Gutemberg, a imagem & a semelhança da espécie foi registrada muito antes da invenção da fotografia. Desde sempre & para sempre, os espelhos têm sido os eternos reprodutores desumanos da forma humana, da sua beleza & da sua feiura, como dissera Umberto Eco, ecoando Lacan. Por sua vez, as técnicas multiplicadoras dos signos culturais potenciam ao infinito as miragens da indústria cultural. A Mona Lisa, única merecedora de fama exclusiva, seria igual à Gioconda, onipresente em todos os tipos de merchandising do Louvre? Qualquer pinico poderia ser atribuído a Duchamp, só por se tratar de um mictório? Urinol tem aura?

Qual o poder, a força da reprodução? As ideias, preto no branco, redigidas para serem editadas; as artes visuais, prontas para o prazer do olhar. Pois até Freud foi clicado, filmado, esculpido, enquanto Lacan gostava de fotografar & aparecer na TV. Se vivos hoje, tirariam selfies? Quais as consequências subjetivas da reprodutibilidade mecânica da nossa autoimagem? Foi Benjamin, profético antes da internet, quem augurou auroras midiáticas que colocariam em pauta a crise de renovação da humanidade…

Para abordar estas questões contaremos com a presença da MÁRCIO SELIGMANN-SILVA, professor titular de Teoria Literária (IEL – UNICAMP), dialogando com OSCAR CESAROTTO.