Uma seleção de títulos que, além de excelente leitura, são ótimas dicas de presentes para o Dia dos Pais
Fotos Divulgação
*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 184 (Agosto/2019)
O chamado da tribo
Da Objetiva, o livro de Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura, é um ensaio que apresenta as leituras que moldaram o pensamento do escritor nos últimos 50 anos. É uma autobiografia intelectual fascinante. Vargas Llosa seleciona sete pensadores liberais que o ajudaram a desenvolver um novo conjunto de ideias após grandes decepções: o desencanto com a Revolução Cubana e o distanciamento das ideias de Jean-Paul Sartre, o autor que mais o inspirou na juventude. O escritor investiga uma tradição de pensamento que favorece o indivíduo frente à tribo.
F*deu geral – Um livro sobre esperança?
O best-seller Mark Manson, autor de A sutil arte de ligar o f*da-se, muda sutilmente o foco em mais um título para a Intrínseca. Depois de investigar a ansiedade típica da vida moderna, agora ele abstrai das falhas individuais de cada um para observar as calamidades que marcam o mundo e a época contemporânea. Ao combinar desde pesquisas psicológicas até a filosofia de Platão e Nietzsche, entre outros, Manson olha para religião e política e argumenta sobre a ideia de que ambas acabaram se assemelhando.
Memórias póstumas de Brás Cubas
Da Antofágica, o clássico de Machado de Assis ganha uma edição especialíssima com 88 ilustrações de Candido Portinari, um dos maiores artistas brasileiros. Os trabalhos foram originalmente feitos na década de 1940 para uma edição particular de apenas 400 exemplares, encomendada pela Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. Marco na transição do romantismo para o realismo, a história do “defunto” que faz uma celebração de sua própria vida já teve várias versões, no cinema, na TV e até em histórias em quadrinhos.
Forças armadas e política no Brasil
A Todavia disponibiliza o livro de José Murilo de Carvalho, publicado originalmente em 2005 e há muito fora de catálogo. A reunião original de ensaios ressurge com um texto inédito, que é uma reflexão sobre as transformações das forças militares nos últimos 30 anos. Carvalho analisa o percurso do Exército politizado desde o Império, passando pela Primeira República, Estado Novo, e ditadura militar. Depois das eleições do ano passado, com sinais da participação e interferência dos militares na política, a reflexão proposta no livro é tão estratégica quanto bem-vinda.
Sapiens – Uma breve história da humanidade
Do autor de Homo Deus e 21 lições para o século XXI, dois grandes sucessos editoriais, o livro de Yuval Noah Harari para L&PM repassa a história da humanidade, ou do homo sapiens do título. Do surgimento da espécie na pré-história até o presente, relaciona fatos históricos com questões da atualidade, sempre com questionamentos que surpreendem. Harari mantém o tom da investigação para seduzir o leitor com diversas interpretações para conhecidos episódios históricos.
Gold
O título da Taschen é outro valioso documento com a assinatura, o talento e a sensibilidade do fotógrafo Sebastião Salgado. Ele registra com sua maestria habitual a região de Serra Pelada, que durante uma década estimulou sonhos e histórias como a maior mina de ouro a céu aberto do mundo, empregando cerca de 50 mil escavadores em condições precárias. Hoje, a mais extravagante febre do ouro do país é apenas fonte de fábulas, mantida viva por algumas poucas memórias felizes e muitos arrependimentos dolorosos.
Pais e filhos
Da Companhia das Letras, a obra-prima do de Ivan Turguêniev, publicada originalmente em 1862, registra uma época de grande perturbação social e política na Rússia. O protagonista é Bazárov, que personifica a rebeldia que “não se inclina a nenhuma autoridade nem aceita nenhum princípio sem exame”. Jovem intelectual materialista, ele nega o amor, a arte, a religião e a tradição, e diz acreditar apenas em verdades cientificamente comprovadas pela experiência, para desafiar um contexto e uma época.
O coração das coisas
Da editora Contexto, o novo livro do historiador e escritor Leandro Karnal traz crônicas que ele publica regularmente na imprensa e que convidam à reflexão. “A ideia é que tudo possui uma parte interna, um coração, uma alma para quem desejar, uma essência, se nosso senso filosófico não estiver de mau humor. Olhar além da aparência, pensar o interior de tudo, ver partes que a fala, o gesto e o fato parecem ocultar, eis o motivo do título”, ele explica na apresentação do livro.
Antologia do humor russo (1823-2014)
Título exclusivo da Editora 34 para a Livraria da Vila, o livro organizado pela professora Arlete Cavaliere é leitura da melhor qualidade ao visitar, em sequência cronológica e sob a perspectiva do humor, a literatura produzida ao longo de quase 200 anos. Reúne escritores muito conhecidos no Brasil e no mundo todo e outros que aparecem como gratas surpresas. No total, são 37 autores, com pelo menos 40 textos até então inéditos e só agora traduzidos no Brasil.
Máquinas como eu – E gente como vocês
Da Companhia das Letras, o romance traz a assinatura inconfundível de Ian McEwan, autor do premiado Reparação. A trama focaliza os conflitos éticos que podem nascer da relação entre humanos e androides. Os anos 1980 aparecem como o melhor panorama de época que movimentou a penúltima década do século. É quando Charlie, Miranda e Adão – o robô que divide a vida com o casal – devem encontrar saída para seus sonhos e ambições, seus dramas morais e amorosos.
O caldeirão azul – O universo, o homem e seu espírito
Recém-lançado pela Record, o novo livro de Marcelo Gleiser (leia entrevista com o escritor nesta edição), autor do best-seller A simples beleza do inesperado, mistura muitos ingredientes para refletir, entre outras questões, sobre a relação entre ciência e espiritualidade. Gleiser nos lembra que a ciência, aliada à busca por respostas e ao fascínio pelo mistério, pode ser usada tanto como ponte para um mundo melhor como para construir a pior distopia imaginável.
Serotonina
Do selo Alfaguara, o livro de Michel Houellebecq confirma o escritor como um dos mais perspicazes analistas do século 21. Florent-Claude Labrouste, que detesta o próprio nome, é o protagonista da história. Aos 46 anos, ele toma antidepressivos que liberam serotonina e causam três efeitos colaterais: náusea, falta de libido e impotência. Nesse contexto, ele descobre vídeos pornográficos em que sua atual companheira aparece, e isso é a gota d’água para que ele deixe o trabalho e passe a viver em um hotel. Perambula pela cidade, visita bares, restaurantes e supermercados. Repassa suas relações amorosas, marcadas sempre pelo desastre. Ao se reencontrar com um velho amigo aristocrata, que parecia ter uma vida perfeita, mas que foi abandonado pela esposa e se vê falido, Florent-Claude aprende a manejar uma arma de fogo, algo que vai mudar sua vida.