Do limão à limonada

Publicitário Carlos Domingos reúne novas histórias de problemas que viraram grandes oportunidades

*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 186 (Outubro/2019)

Foto Divulgação

O publicitário e escritor Carlos Domingos autografa dia 8 de outubro, na loja do Shopping JK Iguatemi, Oportunidades disfarçadas 2 – Histórias reais de pessoas e empresas que transformaram problemas em grandes oportunidades (Sextante). Trata-se da sequência do livro homônimo, de 2011, que fez enorme sucesso ao documentar e analisar a mentalidade de empresas e empresários que enxergaram, em momentos de crise, formas de revolucionar o mercado ou impulsionar trajetórias pessoais.

A ideia do novo livro é ampliar ainda mais o tema, incluindo histórias de invenções transformadoras para a humanidade, a reconstrução de grandes cidades, entre outros episódios e cases bem atuais, como a constatação de que empresas como Uber, Netflix e Nubank foram criadas por clientes insatisfeitos. Leia a entrevista que Domingos concedeu à Vila Cultural.

Vila Cultural. Em que circunstâncias teve a ideia de Oportunidades disfarçadas e que critérios usou para a pesquisa que desenvolveu?
Carlos Domingos. A ideia surgiu quando eu publicava artigos no jornal Valor Econômico. Foi um fenômeno de repercussão: recebi centenas de e-mails de leitores pedindo a fonte das minhas histórias. Como não havia uma única fonte, mas dezenas, resolvi compilar todo o material em um livro. O critério para a pesquisa foi o seguinte: qualquer empresa ou pessoa que tivesse transformado um problema real, de limitação, ameaça, concorrência, erro, fracasso ou crise, em uma bela oportunidade.

VC. O que aprendeu de mais valioso ao se dedicar ao projeto do livro?
CD. Quanto mais grave a situação, maiores os incentivos para inovar. As pessoas pensam que inovação é privilégio de companhias grandes, com “dinheiro sobrando”, mas o meu estudo aponta o contrário: são as marcas entrantes e os pequenos negócios que introduzem as inovações disruptivas. Por absoluta questão de sobrevivência. Estas empresas não têm escolha: ou inovam, ou morrem. Um exemplo disso são as startups.

VC. Que avaliação faz da trajetória do livro até aqui?
CD. Ele deixou de ser um livro para virar um movimento. A propagação do tema cresce exponencialmente na internet. Diversas empresas realizaram treinamentos internos baseados no conteúdo do livro. Fui convidado para alguns simpósios e eventos com o nome de Oportunidades disfarçadas, sem contar os que eu nem fiquei sabendo. Constantemente, empresas de todo o país me convidam para dar palestras para suas equipes e clientes. Enfim, o segundo livro chega neste ambiente efervescente.

VC. Entre as tantas histórias apresentadas, qual é a mais surpreendente para você?
CD. Talvez as histórias que envolvem tragédias. Exemplos: o tornado que transformou a Best Buy na maior varejista de eletrônicos dos Estados Unidos; a explosão do dirigível Hindenburg que deu origem à Ultragaz; o incêndio na fábrica da Vitra que gerou um parque turístico mais visitado que o Masp. Ou ainda a tese filosófica que foi concebida por um prisioneiro dentro do campo de concentração de Auschwitz, a obra-prima da literatura que foi escrita dentro da prisão, e assim por diante. Acho extremamente estimulante ver como as pessoas conseguem ser criativas mesmo nas situações mais extremas.

VC. O que há em comum, na sua percepção, na experiência profissional bem-sucedida e numa vida pessoal bem-vivida?
CD. Acredito que a atitude de enfrentamento do problema, base do pensamento Oportunidades disfarçadas, pode ser aplicada com sucesso na vida pessoal também. Todos nós conhecemos líderes que são altamente competentes no trabalho e relapsos fora dali, em relação à saúde, amigos e filhos, por exemplo. O segredo é estabelecer metas para a vida doméstica também. Como disse o filósofo Zygmunt Bauman, “a felicidade é o gozo de termos conseguido transformar conflitos em conquistas”.

VC. Qual é a sua definição de sucesso?
CD. Sucesso é o que vem depois do fracasso. Simples assim. Foi o que descobri depois de estudar milhares de histórias de empresas bem-sucedidas e não encontrar nenhuma que não tenha sido precedida por tropeços, limitações, erros e equívocos. Se temos menos casos de sucesso hoje é porque as pessoas não suportam o desconforto do risco, da falha e do fracasso. Então elas jogam a toalha. Não há fórmula para o sucesso, mas quem tem a ambição de alcançá-la deve desenvolver três habilidades: curiosidade, para se interessar pelo problema, criatividade, para encontrar saídas, e resiliência, para não desistir no caminho. O mandamento é: penso, logo insisto.

VC. O que significa, na prática, “fazer do limão a limonada”?
CD. Significa que, ao invés de reclamar de uma limitação, devemos buscar fazer o melhor dentro desta limitação. O filósofo americano John Dewey afirma que a gente só pensa quando se depara com problemas. Logo, quem não suporta problemas provavelmente não gosta de pensar. Ora, mas é isso que nos diferencia dos bichos. A capacidade de pensar e criar: soluções, ideias, produtos, obras de arte e catedrais. Com criatividade, é possível fazer do limão um livro inteiro de receitas.

VC. Tem outros projetos de livro sobre os quais pudesse falar?
CD. Tenho outros projetos, todos eles relacionados ao tema Oportunidades disfarçadas. Acredito que esta poderosa forma de pensar deve ser passada adiante, porque pode mudar carreiras, empresas e até o país. O Brasil nunca teve tantos problemas como agora. Imagine quantas oportunidades estão escondidas nestes problemas.

 

LANÇAMENTO
Livro: Oportunidades disfarçadas 2 – Histórias reais de pessoas e empresas que transformaram problemas em grandes oportunidades (Sextante), de Carlos Domingos
Loja: Shopping JK Iguatemi
Quando: dia 8 de outubro, terça, das 19h às 21h