No caminho do meio

Para o psiquiatra Daniel Martins de Barros, manter o foco numa vida boa e saudável faz toda a diferença

O gosto pelo texto e a simplicidade na forma de se comunicar ficam evidentes na produção intelectual do médico e escritor Daniel Martins de Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq-HC), onde atua como coordenador médico do Núcleo de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (Nufor). Autor de livros como Viagem por dentro do cérebro (Panda Books), indicado ao prêmio Jabuti de 2014, Machado de Assis: A loucura e as leis (Brasiliense) e O preço do prazer (Manole), Barros, convidado do Desconstruir para Construir este mês, se dedica atualmente a um novo livro, em que investiga a relevância das emoções negativas para a experiência humana.
Barros também é autor de Pílulas de bem-estar 84 lições cientificamente comprovadas para transformar seus hábitos e viver melhor (Sextante), em que reúne dicas para melhorar a qualidade de vida das pessoas. No livro, o foco é estimular atitudes mentais e comportamentos que ajudem a emagrecer, dormir melhor, ter relacionamentos saudáveis.
Doutor em Ciências e bacharel em Filosofia pela USP, Barros também publica suas ideias como colunista de O Estado de S. Paulo e mantém um blog no Portal Estadão, além de ser consultor do programa Bem Estar, da Globo. Na Rádio Band News FM, fala sobre a mente e o cérebro no programa de entrevistas Humanamente e na coluna Isso é coisa da sua cabeça. Leia a entrevista que ele concedeu à Vila Cultural.

Vila Cultural. Por que falar de saúde parece ter se transformado em prioridade no mundo contemporâneo? Vivemos, de fato, numa sociedade “adoecida”?
Daniel Barros. Não sei se a sociedade hoje é mais doente do que antes, mas com certeza é mais atenta, mais preocupada. E certamente mais informada. Com as informações, vem a demanda por mais conhecimento, e isso se torna um ciclo virtuoso – desde que as fontes sejam sérias, claro.

VC. Existe “medida certa” quando o assunto é cuidado com a saúde?
DB. Creio que devemos manter o foco numa vida boa e saudável. Só pensar na vida boa pode levar a comportamentos pouco saudáveis, imediatistas. Mas só pensar na saúde pode também virar uma prisão, roubando qualidade de vida. Como os gregos, creio que a virtude está no meio.

VC. O que acredita ser fundamental para manter a saúde mental e emocional?
DB. Relacionamentos significativos e saudáveis são fundamentais. Nós não nascemos para o isolamento, e manter relações afetivas pode ser fonte de grande alívio mental. Atividade física regular e exercícios de meditação também vêm se mostrando eficazes pra controlar o estresse.

VC. O que a filosofia e a psiquiatria têm em comum e no que elas mais se distinguem?
DB. Ambas refletem sobre o que nos faz humanos, voltam sua atenção para nossa natureza, investigando afetos, raciocínio, crenças. Mas a psiquiatria se interessa basicamente pela mente adoecida, como tratar sintomas e restaurar a saúde mental. A filosofia tem uma vocação mais teórica, sobre a mente em geral.

VC. Poderia falar sobre o projeto Argumentação?
DB. Certa vez vi uns desenhos brincando com a ideia das falácias, ilustrando-as como se fossem monstros. Nasceu assim a ideia de fazer um jogo para as pessoas se familiarizarem com argumentos falaciosos. Cheguei a criar um piloto, mas ele ficou na gaveta até que encontrei a editora Matrix, que tem feito sucesso com os livros-caixinha. Apresentei o projeto e o resto é história.

VC. De onde vem o seu gosto pelo texto e a que atribui a habilidade para “simplificar” temas e ideias tão complexos?
DB. Eu sempre gostei de escrever, de ensinar. Acho que as tentativas de me comunicar com simplicidade refletem esse desejo de que as pessoas compreendam as coisas como eu as compreendi.

VC. Como decide pelos temas que trata em seu blog e como avalia a reação da “audiência”?
DB. Não tenho método pra escolher os temas. Eles vêm do noticiário, de algo que eu esteja lendo, de um filme, de uma brincadeira com meus filhos, uma conversa com minha esposa. O segredo é estar atento. Já fui mais ligado em curtidas, compartilhamentos, comentários etc. Hoje fico de olho, mas acho mais importante ser fiel ao que acredito de verdade.

VC. Em que projetos trabalha atualmente?
DB. Um novo livro de autoajuda, mostrando que as emoções negativas têm uma importância fundamental na nossa vida.