Nobel em dose dupla

Livros dos vencedores do prêmio movimentam o mercado com lançamento e perspectivas de novas traduções

A escritora polonesa Olga Tokarczuk e o autríaco Peter Handke. /Foto Lukasz Giza (Olga Tokarczuk) e Divulgação

*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 187 (Novembro/2019)

A Estação Liberdade lança este mês O ensaio do maníaco dos cogumelos, de Peter Handke, o Nobel Literatura em 2019. O escritor já tem outros dois títulos em português no catálogo da editora, Don Juan (narrado por ele mesmo) e A perda da imagem ou através da Sierra de Gredos.

Sem títulos em português disponíveis em catálogos no país, a escritora polonesa Olga Tokarczuk, recém-anunciada Nobel de 2018, se destaca entre os lançamentos de novembro da Todavia, que publica Sobre os ossos dos mortos. A editora promete para 2020 a publicação, em português, de Flights, com o qual Tokarczuk venceu o Booker Prize em 2018.

O austríaco Handke, 76 anos, que já fez críticas pesadas à “instituição” que é o Nobel de Literatura, voltou ao tema ao declarar, em Paris, o quão surpreso ficou com a premiação. “Este tipo de decisão revela muita coragem da parte da Academia Sueca”, disse. O escritor ficou conhecido como roteirista de Wim Wenders (no filme Asas do Desejo, por exemplo) e por obras como O medo do goleiro diante do pênalti e A tarde de um escritor. “Com engenhosidade linguística, explorou as periferias e especificidades da experiência humana”, argumentou a Academia ao premiá-lo.

Em Don Juan (narrado por ele mesmo), apesar do subtítulo, a trama é recontada, de fato, por um cozinheiro solitário e ocioso, ávido leitor. Em meio a leituras de Racine e Pascal, ele decide dar um basta nos livros. A perda da imagem ou através da Sierra de Gredos se passa numa época indefinida de um século 21 já avançado. Na história, uma banqueira, “a princesa das finanças”, vive numa cidade portuária do noroeste europeu e segue rumo à região espanhola da Mancha, que Miguel de Cervantes tornou tão famosa. De lá, dirige-se à Sierra de Gredos em busca de um escritor que contratara para narrar sua história.

Foto Divulgação

Aos 57 anos, a polonesa Olga foi escolhida pela Academia Sueca por ter “uma imaginação narrativa que, com paixão enciclopédica, representa o cruzamento de fronteiras como uma forma de vida”. Best-seller na Polônia e traduzida para vários idiomas, Olga é formada em psicologia na Universidade de Varsóvia, estudou o psiquiatra suíço Carl Jung e chegou a trabalhar como psicoterapeuta. Loucura, injustiça social, indivíduos marginalizados e os direitos dos animais são alguns dos temas que aparecem no livro de suspense Sobre os ossos dos mortos. A personagem Janina Duszejko, que prefere a companhia de animais a de seres humanos, narra a história do desaparecimento de seus dois cães e situações improváveis a partir desse episódio.