Tarrafa Literária, 10

Festival de literatura realizado em Santos há uma década promove bate-papo na loja da Fradique

Da cidade litorânea de Santos, onde se consolidou na última década como um dos mais importantes festivais culturais do Estado de São Paulo, a Tarrafa Literária, idealizada pelo livreiro José Luiz Tahan, da livraria Realejo, também dá o ar da graça este ano na Livraria da Vila da Fradique, que recebe autores participantes do evento santista para uma bate-papo sobre literatura contemporânea na Vila Madalena, no dia 1o de outubro.
Em Santos, a Tarrafa acontece entre os dias 26 e 30 de setembro, com presença de convidados como Djamila Ribeiro, Milton Hatoum e a sueca Katarina Bivald. Todas as mesas são gratuitas e acontecem no Theatro Guarany, palco do festival, no Centro Histórico. A abertura fica por conta do show “lítero-musical” com Zuza Homem de Mello, autor de CopacabanaA história do Samba-Canção (1929-1958), no Teatro do Sesc.
Entre as novidades deste ano, a Tarrafa comemora sua primeira década incluindo, a cada nova edição, um autor homenageado, a exemplo do que acontece em eventos como Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Em 2018, Ranulpho Prata (1896-1942), autor de Navios iluminados, é o nome a ser celebrado e homenageado. “É uma forma de trazer à tona nomes que não fazem parte do imaginário coletivo, mas que fizeram muito pela cidade, pela literatura”, diz o livreiro José Luiz Tahan. Ranulpho foi um médico sergipano que morou na região de Santos na década de 1930. Durante a programação, serão lidos trechos de sua obra. “Numa cidade tão acessível como Santos, e de tantas atrações como a praia e o centro histórico, era mais do que justo pensar também num convite à troca literária”, diz Tahan sobre a ideia original da Tarrafa (leia texto a baixo).
Santista e feminista em plena evidência atualmente, Djamila Ribeiro, autora de O lugar da fala e Quem tem medo do feminismo negro?, está entre os convidados dessa 10ª edição, que traz também a autora sueca Katarina Bivald (A livraria dos finais felizes), os portugueses Ana Margarida de Carvalho e Antonio Ladeira, Tiago Ferro, Milton Hatoum, Mamede Jarouche, Manoel Herzog, Cássia D´Aquino, Christian Dunker, Sérgio Augusto, João Gabriel de Lima, Paulo Roberto Pires, Eliane Brum, Giovana Madalosso,
Matthew Shirts, entre outros.

 

Essa raridade, o livreiro

Por José Luiz Tahan*

Escrevo estas mal traçadas direto do primeiro andar da praiana Realejo enquanto ouço o apito do vendedor de paçoca que passa sempre neste horário, comecinho da noite. Acabei de subir para escrever depois de ter atendido amigos clientes, o publicitário argentino, o advogado filho de jogador do Santos, a menina que faz mestrado em Coimbra. Todos atendidos, seus sotaques, leituras e histórias se misturam, seus nomes não. Conheço todos pelos nomes.
Os livreiros são raros e defendo cada vez mais que se tenha o olhar atento para este profissional. Digo pros meus funcionários que eles precisam mandar suas opiniões, mesmo que o cliente seja refratário. O tempo do self-service acabou. Agora é à la carte. Somos tenazes garçons que sugerem o prato e
até o experimenta na frente do faminto leitor.
Nos tempos de web é assim. Você pode comprar de casa, mas duvido que seja mais interativo do que vir até a boa e velha livraria e trocar ideias com a gente. Cercamos os clientes e despejamos nossas opiniões, mesmo que diferentes da do leitor, bebemos café, cerveja e cachaça. Cantamos junto com as bandas que se apresentam na calçada e agora nos aboletamos no recém-construído parklet da livraria.
As livrarias de rua ou as livrarias com caldo, com história, são amigas e cúmplices das escritoras e escritores. Formamos uma quadrilha do bem, e vamos em busca dos distraídos leitores. Um tanto órfãos dos veículos de imprensa e dos críticos literários, eles nos ouvem cada vez mais. Somos cada vez mais nobres no ofício de influenciar as leituras.
Na construção de cada livraria, cada história tem suas nuances, decisões. No nosso caso, de tanto receber autoras e autores na livraria, um dia tivemos uma vontade maior, a de realizar um festival internacional de literatura. Santos, vizinha da capital, cidade de praia, porto e história, tem personalidade de sobra para receber um evento dessa natureza. Assim, em 2009, nasce a Tarrafa Literária, e agora, na décima edição, vivemos a honra e a alegria de termos a Livraria da Vila como apoiadora e parceira do festival praiano.
A aliança de dois livreiros, numa só caminhada, para encantar leitores.

*José Luiz Tahan, livreiro e editor da Realejo Livros, é idealizador do festival Tarrafa Literária.