Tarsila popular

*Matéria publicado na revista Vila Cultural 179 (Março/2019)

As mulheres também protagonizam a cena de 2019 no Masp, o icônico museu paulistano, em plena avenida Paulista. Entre os destaques da programação, além da mostra recém-inaugurada de Djanira da Motta e Silva (1914-1979), estão as exposições de Lina Bo Bardi (1914-1992), a arquiteta que projetou o museu, e Tarsila popular, que reúne mais de uma centena de trabalhos de Tarsila do Amaral (1886-1973).

As duas exposições estreiam em abril e, no caso de Tarsila, a ideia é uma nova abordagem que, junto com o olhar modernista, quer enfatizar, como sugere o título, “personagens, temas e narrativas, especialmente em relação a questões sociais, políticas, raciais e de classe, bem como chamar atenção para as aproximações com a arte popular”, informa a curadoria
do museu.

É uma oportunidade e tanto para rever a trajetória e outros aspectos do trabalho de Tarsila, que, nos últimos anos, ganhou museus e críticas internacionais, reafirmando e revigorando seu nome e sua relevância na arte contemporânea.

Tarsila nasceu e passou a maior parte de sua infância numa fazenda no município de Capivari, em São Paulo. De família tradicional, aprendeu a tocar piano e falar idiomas, inclusive o francês. Aos 15, em 1901, começou a estudar no Colégio Sion, na capital paulista, onde pintou Sagrado Coração de Jesus, seu primeiro quadro. Antes de embarcar para Paris, em 1920, para completar sua formação artística, estudou modelagem em barro com o escultor sueco radicado no Brasil William Zadig (1884-1952).

Em plena efervescência das artes e da vida cultural na capital francesa, Tarsila aperfeiçoava suas técnicas de pintura e escultura. Além de conviver com os grandes nomes da produção local, manteve contato e vínculos com os artistas que articulavam, no Brasil, a Semana de Arte Moderna de 1922. Integrou-se oficialmente ao Grupo dos Cinco, formado por ela, Mario e Oswald de Andrade (com quem Tarsila se casaria em 1926), Menotti Del Picchia e Anita Malfatti.
Fascinada por viagens, Tarsila do Amaral materializou esse gosto e toda a sua vivência em diferentes lugares para descobrir e redescobrir o Brasil com seu trabalho. Devorou, para usar a linguagem antropofagista que deu fama ao modernismo brasileiro, todas as influências da arte europeia para transformá-las de maneira singular em sua obra. “Ela, inconscientemente, colocou em prática estratégias de mútua digestão simbólica. Não acho que Tarsila fosse ‘cubista’, assim como tampouco foi ‘surrealista’, mas sem dúvidas sua obra se informa de ambas as correntes e experiências. Tarsila sempre foi uma artista brilhantemente eclética”, avalia o curador venezuelano Luis Pérez-Oramas ao comentar a exposição Tarsila do Amaral: Inventing modern art in Brazil no MoMa de Nova York, exibida também no Art Institute of Chicago, nos Estados Unidos, em 2017.

Além de integrar o Movimento Pau-Brasil, ao lado de nomes como Blaise Cendrars, Goffredo da Silva Telles, Olívia Guedes Penteado, mais Oswald e Mario de Andrade, Tarsila deu cor e forma à ideia de brasilidade, levando para suas telas as cores da natureza e da cultura popular em quadros como Morro da favela, O vendedor de frutas e Paisagem com touro, todos feitos na década de 1920, assim como o mais famoso de todos, Abaporu, que ela pintou para presentear o marido Oswald de Andrade. Em tupi-guarani, aba significa homem; poru, comer. O quadro pertence a um colecionar argentino e vale, segundo especialistas, algo na casa de R$ 30 milhões. Tarsila do Amaral morreu aos 87 anos no dia 17 de janeiro de 1973.

 

Obra e vida em livros

Cinco títulos que focalizam a trajetória libertária da artista

 

Tarsila do Amaral, a modernista

Na biografia publicada pela Edições Sesc, a professora e ensaísta Nádia Battella Gotlib recria a trajetória libertária de Tarsila do Amaral. Lindo, o livro trata da formação artística, do circuito modernista, do Movimento Pau-Brasil e da Antropofagia, além de focalizar o empenho e a resistência da pintora em prol da diversidade artística ou afetiva-pessoal.

 

 

Contando a arte de Tarsila do Amaral
Da Global Editora, o livro de Angela Braga-Torres tem o tom didático que cativa o jovem leitor fazendo entender porque, com pinturas de tonalidades múltiplas, Tarsila trouxe novas faces do Brasil retratando paisagens, fauna, flora e também os brasileiros. O livro destaca as pinturas famosas como Abaporu e Operários, inserindo informações que cativam pela fluência e coloquialidade.

 

 

Tarsila 
No título da editora Globo, de 2012, a escritora e dramaturga Maria Adelaide Amaral dedica-se a entender, fascinada, a vida e a obra da artista que retorna ao Brasil em 1922 depois da temporada gloriosa em Paris, e a “personagem” que, meio século depois, chega à velhice. A relação de Tarsila com Mário de Andrade, Anita Malfatti e Oswald de Andrade é objeto de interesse no livro.

 

 

Tarsila do Amaral
Da Moderna, o livro de Angela Braga e Lígia Rego integra a coleção Mestres das Artes no Brasil e é uma alternativa para os pequenos se familiarizarem com a vida da filha de fazendeiros de café que se transformou numa das mais importantes artistas brasileiras. Com um trabalho influenciado pelo cubismo e pelo impressionismo, Tarsila criou obras que ficaram famosas mundialmente.

 

 

Aí vai meu coração
“As cartas de Tarsila do Amaral e Anna Maria Martins para Luís Martins” é o subtítulo do livro de Ana Luisa Martins para a Global Editora. O conteúdo é bombástico: o triângulo amoroso vivido por Tarsila do Amaral, a escritora Ana Maria Martins e o crítico de arte Luís Martins. Anna e Luís são os pais de Anna Luisa, que trouxe o segredo de família – de consequências traumáticas – a público em 2010.