Uma perda indizível

Juntando ficção, crônica, ensaio e memória, Tiago Ferro escreve sobre vida e luto em O pai da menina morta

*Matéria publicada na revista Vila Cultural 167 (março/2018).

O jornalista e escritor Tiago Ferro autografa dia 15 de março, na loja da Fradique, O pai da menina morta (Todavia), livro que é uma autoficção sobre os reflexos da morte de uma menina de oito anos na família e no grupo de amigos e conhecidos de seus pais. “Fragmentário, é composto por seções que formam uma espécie de estrutura caleidoscópica do luto”, informa o material de divulgação da editora.
Um dos fundadores da editora E-Galáxia e da revista Peixe-Elétrico, Ferro viveu, em 2016, a dor irreparável de perder uma filha que tinha oito anos, e a experiência marcou para sempre a vida de sua família. “Como em qualquer casa com crianças, a nossa tem brinquedos espalhados por todos os cantos – material para desenho, massinha, bonecas. Cada um nos lembra uma festa, um Natal, um aniversário, uma viagem. O cavalinho de pau, a gaveta lotada de canetas e giz de cera, a flauta e o pandeiro, os livros e os DVDs, nada disso é velho. Diferentemente dos pertences deixados por um idoso, já cobertos pela poeira do esquecimento, os de uma criança parecem vibrar de tanta energia concentrada”, escreveu Ferro num artigo tocante para a revista Piauí em agosto de 2016.
O livro que o escritor lança agora não se restringe ao inventário doloroso de uma perda indizível, mas amplia o campo da escrita do luto a partir do manejo consciente e irônico de temas como autoimagem, sexualidade, humor, confissão, memória e fabulação. “A morte da menina forma uma espécie de redemoinho de dor e compaixão num grupo muito identificável de pessoas ligadas às profissões intelectuais (jornalistas, editores, artistas e escritores) da zona oeste de São Paulo, cenário da dor do protagonista e de sua busca de superação da tragédia”.
A morte da menina, explica o autor, é como a refundação do mundo para o protagonista. “A partir do enterro ele sempre será visto como ‘o pai da menina morta’. Se está feliz, é porque quer ‘esquecer’. Se está triste, é porque ‘só pensa na tragédia’. Assim os outros o encaram. Alternando os terríveis momentos da agonia, morte e dias e meses posteriores ao enterro da filha com seções sobre outros pais ‘órfãos’ (o pai de Kafka, Drummond enterrando a filha e outros momentos em que a morte de um filho parece alterar pra sempre o tempo e a natureza das coisas), é um livro que tem trechos muito pesados com outros mais leves, debochados e até fesceninos”.
Ferro diz que o escritor norueguês Karl Ove Knausgård, a quem se refere como “o grande romancista do próprio Eu”, é a maior referência do livro, que também dialoga com outros textos contemporâneos ao mesclar a confissão e a memória para tratar de temas difíceis da vida, além de ser um texto híbrido, com ficção, crônica, ensaio e memorialismo.

 

LANÇAMENTO
Livro: O pai da menina morta (Todavia), de Tiago Ferro
Loja: Fradique
Quando: dia 15 de março, às 19h30