De personalidades marcantes, elas conquistaram espaço como figuras inesquecíveis na ficção
*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 191 (Março/2020)
Alice
Alice no País das Maravilhas
A personagem cativante de Lewis Carrol (1832-1898) é daquelas meninas/mulheres que, numa história surreal, se transforma em fonte inesgotável de reflexão sobre escolhas e descobertas. Ela é uma espécie de desenho psíquico para ser finalizado ao gosto de cada um, de cada uma. Garota ingênua? Que nada. Alice abre caminhos para conclusões das mais interessantes, sobretudo quando, como na vida de maneira geral, se está buscando o sentido das coisas.
Elizabeth Bennet
Orgulho e preconceito
Protagonista do livro da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), segunda de cinco filhas, Lizzy, como é chamada na história, fascina com o encantamento da resistência, do errar e acertar, como todo mundo. Ela resiste às pressões familiares, já que resolveria a vida das irmãs se casasse seguindo as orientações da mãe, e vive uma série de ilusões e desilusões amorosas que, em algum momento, fazem com que o leitor/leitora (e/ou espectador/espectadora dos filmes que o livro originou) se identifique com ela.
Emma Bovary
Madame Bovary
Emma Bovary, a personagem criada pelo francês Gustave Flaubert (1821-1880) no século 19, é tão humanamente irresistível quanto inesquecível. Casada com o médico Charles Bovary, que tem adoração por ela mas não é correspondido à altura, ela devora novelas românticas desde a adolescência e, na vida, está sempre pronta para paixões (ou obsessões, dependendo do ponto de vista) ou para renunciar à previsibilidade do papel de esposa se for para experimentar um grande amor.
Macabéa
A hora da estrela
Do livro inesquecível (da Rocco) de Clarice Lispector (1920-1977), é uma daquelas personagens pelas quais a gente se apaixona e aí já não tem mais jeito. Ela é tida como esquisita, pouco atraente, nada inteligente. É um corpo estranho que atrai olhares de preconceito, decepção e julgamento e que, a certa altura, diz que queria mesmo era ser uma estrela de cinema. Adorável por ser tão simplória, se ilude quando uma cartomante prevê um destino grandioso e, inclusive por isso, desperta empatia, compaixão, graça e todos os melhores sentimentos que não podem ser mobilizados na superficialidade do mundo das aparências.
Hermione
Harry Potter
Hermione Jean Granger é tão, tão interessante nos livros de J.K.Rowling (para a Rocco) que o seu carisma rendeu efeitos no cinema com a atuação brilhante de Emma Watson. Numa pesquisa realizada em Hollywood, ela foi apontada como uma das melhores personagens de todos os tempos. É aquela melhor amiga (de Harry e Ronny, no caso) dos sonhos: inteligente, rápida e que, por saber tudo, sempre ajuda na hora de sair das situações mais improváveis.
Capitu
Dom Casmurro
Maria Capitolina Santiago, ilustríssima Capitu, a personagem do romance Dom Casmurro, do escritor Machado de Assis (1839-1908), disponível em várias edições, é adorável ao mobilizar fãs-clubes e haters. Tudo por causa da dúvida sobre ter ou não cometido o adultério. Casada com o ciumento Bentinho, ela tem, de tão expressivo, o olhar mais famoso da literatura do Brasil, porque muda para dizer tudo. Às vezes são “olhos de ressaca”, às vezes “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Mas são os olhos de Capitu e ponto.
Ifemelu
Americanah
A personagem lindamente criada pela escritora Chimamanda em Americanah (Companhia das Letras) é a cara da nossa época. A jovem nigeriana protagoniza, no romance lançado em 2013, os encontros e desencontros com Obinze para construir uma história de amor contemporânea que sobrevive ao tempo, ao silêncio e aos deslocamentos. O livro e a personagem são um retrato ficcional da opressão, em especial por questões relacionadas ao gênero e à raça.
Lily
Travessuras da menina má
Inconformista, aventureira e pragmática, a personagem criada por Mario Vargas Llosa no livro (da Alfaguara) muda de nome e de marido com frequência e muita naturalidade. Na história, ela se envolve com Ricardo, um jovem peruano que sempre sonhou viver em Paris, o que se dá nos anos de 1960. A partir daí, na medida em que o tempo passa eles vão se encontrando em diferentes lugares do mundo, e Lily já terá mostrado a que veio no prazer da leitura.
Jo March
Mulherzinhas
A personagem é o alter ego da escritora Louisa May Alcott (1832-1888), cujo livro já foi publicado em várias edições e inspirou alguns filmes para o cinema. Jo é maravilhosa não só como “exemplo” de um nascimento na arte – o de uma escritora, no caso – como também pela representação intensa da escolha de remar contra a velha corrente patriarcal, que associa o casamento e a maternidade (oi?) ao apogeu feminino.
Offred
O conto da Aia
O que dizer da protagonista de O conto da Aia (Rocco), de Margaret Atwood? A atriz Elisabeth Moss, que deu vida à personagem na série inspirada na distopia da escritora canadense, disse o seguinte: “Eu acredito que ela representa qualquer pessoa – homem, mulher, o que você quiser identificar, quem você quer amar, quem você quer acreditar – que teve seus direitos humanos tirados, que foi abusado, ou que se sentiu como ela”. Definição mais cirúrgica, impossível.