Centenário de Nelson Mandela tem lançamento de Cartas da prisão, escrito ao longo dos 27 anos
Celebrado no dia 18 de julho, o centenário de nascimento de Nelson Mandela, Prêmio Nobel da Paz em 1993 e primeiro presidente democraticamente eleito da África do Sul, em 1994, gera expectativas no mercado editorial mundial com lançamento, este mês, de Cartas da prisão, que a editora Todavia publica no Brasil.
Trata-se de uma obra histórica por ser a primeira e única coleção autorizada e autenticada de correspondências que abarca os vinte e sete anos em que o líder sul-africano esteve preso. Referência mundial por sua atuação política e luta contra o apartheid, Mandela é um nome fundamental para compreensão da história recente da humanidade.
Mandela nasceu no clã Madiba em Transkei, África do Sul, em 18 de julho de 1918, e se mudou para Joanesburgo em 1941. Personagem de várias biografias, ele aparece, em Cartas da prisão, a partir de um retrato íntimo do ativista político que também era marido devoto, pai afetuoso, aluno dedicado (que estudou para se formar em Direito enquanto esteve preso) e amigo fiel.
Pai de cinco crianças quando foi condenado à prisão perpétua, suas cartas para a família se tornaram a única forma de criar seus filhos – principalmente pelo fato de que lhe eram negadas visitas até que eles atingissem os dezesseis anos.
Assim, por estes e outros motivos, as cartas são comoventes, fervorosas, às vezes arrebatadoras. E sempre inspiradoras. Muitos nunca antes trazidos a público, os textos foram reunidos a partir de coleções públicas e privadas. O livro inclui um prefácio escrito por Zamaswazi Dlamini-Mandela, neta do líder sul-africano, além de já ter, antes mesmo do lançamento, o “aval” de algumas vozes de alcance global, caso do ex-presidente americano Barack Obama. “As palavras de Mandela são como bússola em mar revolto, terra firme em meio à forte correnteza”, declarou Obama.
Ao escrever para as filhas, num dos poucos textos autorizados para divulgação pela editora, Mandela relata suas observações sobre justiça e verdades. “Minhas queridas, […] Não é a primeira vez que a mamãe vai para a cadeia. Em outubro de 1958, apenas quatro meses antes do nosso casamento, ela foi presa com 2 mil outras mulheres quando protestavam em Joanesburgo contra os passes de locomoção e passou duas semanas na prisão. No ano passado ela cumpriu quatro dias, mas agora ela voltou para a cadeia e não sei dizer quanto tempo ficará detida desta vez. Tudo o que desejo que vocês sempre tenham em mente é que temos uma mamãe valente e determinada que ama sua gente com todo o seu coração. Ela abriu mão de prazeres e confortos por uma vida cheia de sacrifício e penúria por causa do profundo amor que ela tem por seu povo e seu país. Quando vocês forem adultas e pensarem detidamente nas experiências desagradáveis que a mamãe atravessou e na obstinação com que ela se aferrou a suas convicções, vocês começarão a compreender a importância da contribuição dela à batalha pela verdade e pela justiça e o quanto ela sacrificou de seus interesses pessoais e de sua felicidade. […]”. E assina: “Afetuosamente seu Papai”.
“Quando eu saí em direção ao portão que me levaria à liberdade, eu sabia que, se eu não deixasse minha amargura e meu ódio para trás, eu ainda estaria na prisão”, disse Mandela, numa das suas tão citadas declarações para demonstrar, pelas palavras, o porquê da relevância da sua existência e da sua liderança em uma época de políticas cínicas e desconfianças mútuas, independentemente das questões raciais.
Com sua coragem moral, generosidade de espírito e intelectual, Mandela conseguiu um desfecho pacífico para uma questão de injustiça e confrontos históricos. Com olhar humanamente privilegiado para ver o mundo, eternizou ideias que jamais poderemos perder de vista, ainda que complexas de concretizar. “A pobreza não é um acidente. Assim como a escravização e o apartheid, a pobreza foi criada pelo homem e pode ser removida pelas ações dos seres humanos.” Mandela morreu aos 95 anos, em 5 de dezembro de 2013.