O Dia do Livreiro

*Matéria publicado na revista Vila Cultural 179 (Março/2019)

Suian Barros

“Chegou um livro que é a sua cara”, diz eventualmente Suian Barros a algum cliente, tamanha a familiaridade que tem com os frequentadores da loja da Lorena. É onde Suian vive, em versão contemporânea, o dia a dia de uma livreira ao cultivar a ideia de compartilhar, aprender e ensinar em via dupla ao vender livros. “Já fui a aniversário de clientes, dos filhos de clientes e até do cachorro de um cliente. Aliás, conheço todos os cachorros que frequentam a livraria. Certa vez, um senhor ficou muito chateado por conta de um erro em sua encomenda, resolvi o problema e ele me chamou para um café. O café evolui para jantar, convite para festa de aniversário e festa de Natal, e nos tornamos grandes amigos, coisas que só a Livraria da Vila possibilita”, diz Suian, citando outra história que diz muito sobre o Dia do Livreiro, que é celebrado em 14 de março.

 

Pablo Augusto da Silva

Com mais de uma década trabalhando com livros, Pablo Augusto da Silva, 34 anos, chegou à equipe da Livraria da Vila no ano passado para trabalhar na loja de Moema. Seu gosto pela leitura é tamanho que ele decidiu estudar história, ainda que já tenha se formado em mecatrônica. Pablo admite que não conseguiu ser feliz com a hipótese e a experiência de passar o dia no escritório. Da paixão pelos livros e pela rotina de socialização na livraria, Pablo não abre mão. “Primeiro que a questão do conteúdo, sempre muito citada, me parece ser apenas uma faceta do nosso trabalho. O principal, na minha experiência, tem sido o contato com os clientes, sobretudo pelo fato de não ser uma loja tão grande, o que estimula essa aproximação”, diz o livreiro, afirmando que, como experiência de vida, é justamente essa interação no cotidiano que lhe interessa. “Às vezes você precisa ler o cliente e entender que ele busca mais do que um título, um livro. Ele quer ideias”, declara. “Na minha percepção, é um trabalho em que você ensina tanto quanto aprende e vice-versa. Isso é o mais interessante”.

 

Alan Alberto Afonso

“Costumo brincar que trabalho para ‘o sistema’ com um produto que pode derrubar ‘o sistema’, por causa do poder de transformação dos livros. A educação, assim como a saúde e o trabalho, é essencial e transformadora. Nesse sentido, não há como desvincular o poder de mudança que os livros têm”, diz o livreiro Alan Alberto Afonso, 30 anos, da Vila do Shopping JK Iguatemi. “Sempre quis trabalhar com livros”, ele afirma, atribuindo a escolha à possibilidade de unir o útil ao agradável, já que por influência dos pais tem sido um leitor voraz ao longo da vida. No contato com os clientes, Alan preza as muitas perspectivas que se abrem nessa relação. “Quem sabe um livro que mudou a minha vida não pode também mudar a vida dele”, ele diz, relacionando rapidamente três livros que acaba de ler. E, melhor ainda, recomenda. Anote aí: O peso do pássaro morto (Nós), de Aline Bei (leia a entrevista aqui), Sociedade do cansaço (Vozes), de Byung-Chul Han, e Cloro (Companhia das Letras), de Alexandre Vidal Porto.

Thais Peçanha Cafazzi

Prestes a completar seu primeiro ano como livreira na loja da Fradique, Thais Peçanha Cafazzi, 30 anos, formou-se em psicologia e diz que encontrou o seu destino profissional depois de um insight no qual entendeu que a sua paixão por livros e leitura poderia se transformar em trabalho. “Me sinto vendendo mundos, visões, enredos, opiniões, reflexões, valores”, diz Thais, que cita Os sete (Aleph), de André Vianco, como um livro marcante. Assumidamente fã de vampiros, cuja imagem traz tatuada no corpo, Thaís está lendo atualmente Noturno – Trilogia da escuridão (Rocco), de Gillermo Del Toro e Chuck Hogan.
E diz que é ótimo.