A Flip de Hilda Hilst

Com títulos programados para chegada ao mercado editorial até 2020, a obra da escritora paulista ganha mais evidência com a homenagem que ela recebe na festa literária de Paraty, em julho

*Matéria publicada na revista Vila Cultural 165 (janeiro/2018).

Ilustração Jonas Ribeiro

A 16ª edição da Flip, que este ano acontece entre os dias 25 e 29 de julho, vai homenagear a escritora Hilda Hilst (1930-2004), cuja obra, em contínua “redescoberta”, promete manter-se em evidência no mercado editorial, a exemplo do que habitualmente acontece por causa das homenagens da Festa Literária Internacional de Paraty. Mais citada pelo erotismo de sua poesia, Hilda fez sua literatura em torno de temas como o amor, a morte, Deus, a  finitude e a transcendência.
“A escolha de Hilda Hilst se deu pelo fato de sua obra extrapolar fronteiras. Assim como outros poetas brasileiros, leu Drummond, Bandeira e Cabral, mas leu também Fernando Pessoa, o francês Saint-John Perse e o alemão Rainer Maria Rilke. O resultado é uma literatura inovadora do ponto de vista da linguagem que exerce, por exemplo, forte influência na cena da dramaturgia brasileira de hoje”, diz Mauro Munhoz, diretor da Flip.
Munhoz lembra que a criação pioneira, por Hilda, de um espaço voltado à literatura e às artes, a Casa do Sol, inaugurada em 1996, se encontraria, sete anos depois, com a concepção da Flip. “A Casa do Sol, sua residência literária, habitada pelo seu ofício de escritora e que foi lugar de convívio com artistas de múltiplas áreas como Caio Fernando Abreu, guarda a memória de um fazer artístico cuja singularidade esta homenagem se propõe a revelar”.
Paulista de Jaú, Hilda se interessou por literatura desde a infância e escreveu poesia, ficção, teatro e crônica, tendo construído uma obra singular em língua portuguesa. Aos 20 anos, publicou um livro de poesia e foi recebida com entusiasmo por Cecília Meireles e Jorge de Lima, de quem era leitora. Aos 22, formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo, onde conheceu a escritora Lygia Fagundes Telles, com quem manteve laço duradouro. Após a formatura, viajou pela Grécia, Itália e França.
Hilda costumava dizer que depois da leitura de Carta a El Greco, de Nikos Kazantzákis, desejou abandonar tudo para entregar-se em tempo integral ao ofício de escritora, o que a fez deixar a advocacia e uma vida social intensa para viver perto da natureza. Em 1996, passou a residir na Casa do Sol, uma chácara que construiu em Campinas, no interior de São Paulo, cercada de árvores e bichos, para servir como espaço de estudos e criação artística.
A obra de Hilda Hilst reúne dezenas de títulos, entre os quais Cantares de perda e predileção (poesia), Rútilo nada (ficção) e A obscena senhora D (ficção). Depois da morte da escritora, a Globo Livros relançou toda a sua obra sob os cuidados do crítico Alcir Pécora e, atualmente, tem em catálogo os títulos Pornô chic e Fico besta quando me entendem, compilação de entrevistas com a escritora.
A reunião da obra poética de Hilda, Da poesia, foi publicada em 2017 pela Companhia das Letras. A editora promete outros títulos sobre Hilda para 2018 e 2019, quando lança uma trilogia erótica, e para 2020, quando deve sair a biografia da autora. Daniel Fuentes, o detentor dos direitos autorais, negocia com outras editoras para publicar o que falta de Hilda Hilst, como cartas e inéditos.