Antes de tudo, leitora

*Matéria publicada na revista Vila Cultural 180 (Abril/2019)

Atriz, escritora e diretora, Maria Ribeiro diz que livro é “remédio, cultura, companhia, analista, tudo junto”

Foto Daniel Klajmic/Divulgação

“Acho que livro é remédio, cultura, companhia, analista, tudo junto. Não faço um ativismo no sentido de ‘ah, tem que ler para ficar inteligente ou para ter um emprego melhor’. O livro é útil já, para amanhã, a curto prazo, porque acima de tudo amplia sua visão de mundo e faz sentir empatia, te colocando sob outras peles que você nunca vai experimentar a não ser através de personagens”, diz a atriz Maria Ribeiro sobre a iniciativa e o hábito de falar continuamente de livros e da experiência da leitura a uma audiência de centenas de milhares de pessoas que a acompanham, no dia a dia, nas redes sociais.

Artista superversátil, atriz das mais carismáticas e autora passional e intensa, independentemente do tema a que se dedique, Maria é uma das convidadas do Navegar é Preciso em sua edição de 2019. Ela é autora de Trinta e oito e meio (Língua Geral), de 2015, uma coletânea de crônicas escritas para a revista TPM, e Tudo que eu sempre quis dizer, mas só consegui escrevendo (Planeta do Brasil), de 2018, em que elege destinatários aleatórios, de Freud a Lulu Santos, para dar forma a cartas que contêm o que é indicado no título do livro.

De pontos de vistas contundentes e posições políticas claras, que assume como cidadã e artista, Maria assina regularmente uma coluna no jornal O Globo. Terminadas as eleições do ano passado, por exemplo, a atriz documentou as sensações que vieram com a vitória dos candidatos que preteria. “Bolsonaro, brigada. Eu não sabia que a gente era tão forte. Eu não sabia que a gente se amava tanto. Você nos juntou, você nos levou pra rua, e a rua é o nosso lugar. Estamos há dias nos beijando e segurando a mão um do outro. Às vezes, a gente até dança. Sem Lei Rouanet, acredita? A gente dança de graça. Faz teatro pra cinco. Se ama por hábito. Cai bonito como no judô. Cai junto. E aproveita pra ficar deitado. Daqui, de onde estamos, temos visto cada estrela que você nem imagina. Quer saber? Eu entendo sua raiva da gente. Ver estrela é mesmo uma arte. Todo mundo que vê estrela é artista. Mas ó: se você quiser, deita aqui que a gente te ensina. Sem mágoas. Só dá um tempinho porque agora a gente tá em carne viva. Aliás, mais viva do que nunca”.

No texto Garotos legais, para a revista TPM, Maria reflete sobre a maternidade. “Fiquei grávida pela primeira vez aos 26 anos de idade. Na época, já intuía que ser mãe deveria ser um dos grandes prazeres dessa existência louca e sem garantia que a gente entra sem ter ensaiado. Eu não sabia como seria minha vida profissional, nem se seria feliz no amor, nem se encontraria Jesus, Buda, ou uma fé qualquer na qual me apoiar, mas tinha uma desconfiança boa e reconfortante de que procriar me daria algum sentido. E eu não tava enganada. Tirando o fato de que não tive leite suficiente pra alimentar meu João com meu próprio corpo, o que me deixou culpadíssima, a maternidade de fato mudou completamente o filme da minha vida, me dando pequenas alegrias diárias, como ver um filho aprendendo a ler ou presenciar uma criança sensível virar um cara legal. Meus meninos são garotos legais. Sete anos depois do João, veio o Bento, e, se o dia a dia com um já era de uma doçura sem fim, com dois a festa ficou ainda mais bonito.”

Na internet, Maria é uma das atrações do canal Hysteria, em que é a estrela absoluta da série Tudo, “que conta o básico que você precisa saber sobre os mais variados assuntos”. Do casamento à Coreia do Norte, de drogas a séries, de alimentação à sofrência, de férias a literatura, Maria transforma pautas aparentemente “banais” em entretenimento da melhor qualidade. Invariavelmente, como diz o material de apresentação do projeto, com “muita informação, bom humor e a doce acidez
de sempre”.

Carioca, formada em jornalismo, Maria também é documentarista. Além do filme sobre o diretor Domingos Oliveira, assina a direção de Esse é só o começo do fim da nossa vida, sobre a banda Los Hermanos, de quem sempre foi fã, por motivos tão diferentes como “a postura antimainstream e as letras rasgadas, tão sem máscaras”. O que também diz muito sobre ela.