Muito bem-vinda

*Matéria publicada na revista Vila Cultural 180 (Abril/2019)

A psicanalista Maria Rita Kehl confirma presença entre os convidados do Navegar

Há muito na lista de convidados do Navegar é Preciso, a psicanalista Maria Rita Kehl finalmente conseguiu espaço na agenda para confirmar presença na edição 2019 do projeto, que acontece no final deste mês, com a viagem pelo Rio Negro. Autora de diversos livros, doutora em psicanálise e psicanalista clínica desde a década de 1980, Maria Rita ganhou o Jabuti de melhor de livro de não ficção em 2010, com O tempo e o cão. O título integra o catálogo da Boitempo, que publica a sua obra.

No livro, a psicanalista observa a depressão como sintoma social contemporâneo. Escrito a partir de experiências e reflexões sobre o contato com pacientes depressivos, O tempo e o cão, como ela diz, aborda um tema que, apesar de muito comentado, é pouco compreendido em toda a sua complexidade. Para abordá-lo, Maria Rita faz um apanhado do lugar simbólico ocupado pela melancolia desde a antiguidade clássica até meados do século 20, quando Freud trouxe esse conceito do campo das representações estéticas para o da clínica psicanalítica. Para ela, “Freud privatizou o conceito de melancolia; seu antigo lugar de sintoma social retornou sob o nome de depressão”.

Recentemente, Maria Rita, uma voz importante e influente também nas atuais discussões sobre feminismo e gênero, trouxe a público uma nova edição de seu livro Deslocamentos do feminino, em que questiona as relações que se estabelecem entre a mulher, a posição feminina e a feminilidade na clínica psicanalítica. Em 2018, lançou a coletânea Bovarismo brasileiro, que reúne alguns ensaios marcantes sobre temas que abarcam desde a literatura de Machado de Assis até um estudo de caso – o atendimento de um militante do MST –, passando por reflexões sobre as origens do samba, do manguebeat, do período de expansão da Rede Globo e da primeira campanha de Lula. Para dar liga às suas análises, ela se vale do conceito de bovarismo, cunhado pelo filósofo e psicólogo Jules de Gaultier com base na personagem Emma Bovary, de Gustave Flaubert, uma ambiciosa e sonhadora pequeno-burguesa de província que, à força de ter alimentado sua imaginação adolescente com literatura romanesca, ambicionou “tornar-se outra” em relação ao destino que lhe era predestinado. “Seria o bovarismo um sintoma da sociedade brasileira?”, pergunta Kehl.

Também no ano passado, a psicanalista publicou, em coautoria com Laerte Coutinho, o infantojuvenil Neném outra vez! No livro, o menino Rodrigo tem oito anos e acabou de ganhar um irmãozinho. Enciumado com todas as atenções voltadas para o novo bebê, ele recebe uma visita inesperada ao brincar de bola sozinho no quintal: uma borboleta que diz ser uma fada e promete realizar desejos. Sem pensar duas vezes, na expectativa de resgatar a atenção dos pais, Rodrigo pede para voltar a ser bebê. A divertida incursão de Maria Rita Kehl na literatura infantil aborda o ciúme entre irmãos como pretexto para falar sobre questões mais profundas com as crianças.

VIAGEM
O que: Navegar é Preciso 2019, com participações de escritores e artistas convidados
Quando: entre 29 de abril e 3 de maio
Onde: Rio Negro, Amazônia, saindo de Manaus
Reservas e mais informações: reservas@auroraeco.com.br e (11) 3086-1731