Flip começa com a crítica Walnice Nogueira Galvão, estudiosa de Os Sertões, falando sobre Euclides da Cunha
*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 183 (Julho/2019)
A 17ª Festa Literária Internacional de Paraty, na cidade litorânea do Rio de Janeiro, reúne 33 autores de uma dezena de países entre os dias 10 e 14 de julho para confirmar toda a relevância de um dos eventos mais importantes do calendário cultural do país nas duas últimas décadas.
Autores, público, imprensa e todo o mercado editorial se movimentam para a cena que começa em tom de dupla homenagem, já que a mesa inaugural, no dia 10, às 19h, será uma “aula” sobre o autor homenageado este ano, o escritor Euclides da Cunha (1866-1909), com a crítica e professora Walnice Nogueira Galvão, responsável pela edição crítica de Os sertões, obra de Cunha que ela estudou ao longo de sua trajetória intelectual. No dia 17 de julho, Walnice participa de outro encontro especial, na temporada pós-Flip, na Livraria da Vila da Fradique
A homenagem a Euclides da Cunha traz à tona, segundo os organizadores, um pouco do método de intersecção entre artes e linguagens, fundamental para a criação de cada Flip, que este ano tem curadoria de Fernanda Diamant. “Para escrever com a sensibilidade necessária sobre a paisagem que nos leva ao povoado de Canudos, seus homens e suas mulheres, o escritor precisou valer-se de muitas linguagens – jornalismo, arquitetura, sociologia, história, geografia e várias expressões da literatura, como a épica e a dramática”, diz o texto de apresentação do evento.
Entre outras presenças confirmadas está a da americana Kristen Roupenian, escritora pouco conhecida até a publicação, em dezembro de 2017, pela revista na New Yorker, do conto Cat Person, que narra o envolvimento de Margot, de 20 anos, com Robert, de 34, e mostra como a troca de mensagens via celular cria uma expectativa que o encontro na vida real nem sempre é capaz de realizar. Influente, a New Yorker é responsável pela divulgação de contistas como a canadense Alice Munro, ganhadora do Nobel em 2013.
Com a repercussão da história – em um fenômeno identificado como “ficção viral”–, a autora teve os direitos de seu livro You know you want this, coletânea de contos que inclui Cat Person, comprados por US$ 1 milhão na Inglaterra, um dos mercados editoriais mais concorridos do mundo. O livro teve seus direitos vendidos também para a HBO, que prepara uma adaptação dos contos para a TV. O conto integra a coletânea Cat Person e outros contos (Companhia das Letras), lançada agora no Brasil.
Outro nome que estreia na Flip é a escritora e poeta Jarid
Arraes, autora de Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis (Pólen) e Um buraco com meu nome (Ferina/Pólen). Jarid aproveita para lançar seu primeiro livro de contos, Redemoinho em dia quente (Alfaguara). Filha e neta de cordelistas, cresceu em meio às manifestações do Centro de Cultura Popular Mestre Noza, associação de artesãos ainda presente no sertão do Cariri. Jarid vive em São Paulo desde 2014.
A Flip também promete trazer o slam, o encontro que se dá em torno da poesia falada, para o centro da programação. Com curadoria de Roberta Estrela D’Alva, uma das pioneiras do movimento no Brasil, o programa em Paraty é composto por um projeto de residência voltado a jovens da cidade, uma competição de poesia falada com poetas internacionais no Auditório da Praça e uma batalha aberta na Casa da Cultura de Paraty com a participação de grupos locais.
“É vital que poetas da oralidade estejam no centro da ação em uma Festa Literária de grande alcance como é a Flip. São vozes diversas que precisam ser ouvidas e o slam tem o papel de engajar o público, que participa ativamente dessa riqueza de estéticas e linguagens que surgem a partir da poesia em presença”, afirma Roberta. “Qualquer pessoa com poemas sobre qualquer tema pode participar de um slam. Essa é a sua principal característica”.
Confira a programação da Flip e todos os autores participantes no site