Música para outubro

Com concerto vocal, show de jazz, livro com histórias e canções de Francis Hime e uma oficina infantil sobre a origem dos sons, todas as notas, acordes e estilos musicais ocupam seus espaços na Vila

*Matéria publicada na revista Vila Cultural 162 (outubro/2017).

A apresentação do Sexteto Cantareira na estreia do projeto Jazz na Vila, um concerto vocal com o cantor Carlos Nascimento, o lançamento do livro em que o cantor e compositor Francis Hime dá detalhes sobre seu processo criativo e a oficina para crianças Origem do som (leia nas próximas páginas), entre outras atrações, prometem deixar outubro ainda mais musical na Livraria da Vila, onde todos os sons sempre merecem seus devidos espaços.

Tema fascinante e tão ancestral quando a própria história da humanidade, a música é parte integrante da vida e, não raro, costuma dar mais sentido à ela já a partir de nossas experiências mais precoces. “Desde o nascimento, a música faz parte da vida de uma criança como se fosse um brinquedo”, diz a professora de música Mariceles Oliveira Catharino, do Colégio Visconde Porto Seguro, que comanda a oficina Origem do som este mês na loja da Fradique. “A criança é um ser musical e quando há, na educação, um desenvolvimento desse contato com a música, isso pode colaborar ainda mais para os aspectos da coordenação motora e rítmica, o que é importante para escrita ou para a própria fala, por exemplo. A música tem influência essencial no funcionamento cerebral não só da criança como de qualquer pessoa, inclusive por envolver as emoções. A música alegra, a música entristece, a música agita, a música tranquiliza. É exatamente isso que tentamos passar para as crianças, ou seja, que a música tem importância determinante na formação do indivíduo”, declara a professora.

“A música nunca se põe no mesmo plano da linguagem verbal: está sempre acima ou abaixo dela. Acima, por ser portadora de uma racionalidade autossuficiente, tanto mais pura enquanto não perturbada pela tarefa de remeter a algo específico; abaixo, por ser anterior à distinção entre significado e significante, portanto visceral, inarticulada, próxima ao grito animal. Sob o primeiro aspecto, é como se já tivesse se depurado de todo significado, deixando a estrutura significante tão nua que seria contraditório e inútil preenchê-la com conteúdos. Sob o segundo, é saudade ou relíquia de uma confusão primitiva em que expressão e denotação, sentimento e coisa, nem chegavam a se distinguir. De ambos os pontos de vista, o discurso trai a música, torna-a circunstancial e anedótica, enquanto ela resiste a toda especificação”, escreve, sempre inspirado, o crítico de música, ensaísta e professor de filosofia Lorenzo Mamni no recém-lançado A fugitiva (Companhia das Letras), que teve sessão de autógrafos mês passado na Fradique.

Citando o cantor e pesquisador sueco Johan Sundberg, autor do livro Ciência da voz (Edusp), Carlos Nascimento, que é cantor na Osesp e mestre em Música pela Unesp, lembra que “o canto pode ser considerado uma linguagem universal de forte poder expressivo, até mesmo capaz de dissolver barreiras culturais”. Por isso, qualquer pessoa pode cantar, diz Nascimento, outro convidado da Vila em outubro. “E os que já cantam podem cantar qualquer estilo desde que queiram e se disponham a gastar o tempo necessário ao aprendizado”, diz o cantor, que além de ser se dedicar a pesquisa e a performance de diferentes modelos de canto, vivencia, na prática, todos os vínculos e afetos despertados pelo seu principal objeto de trabalho.

“A ligação que a música inevitavelmente estabelece com nossa vida pessoal (uma viagem, um namoro) já altera para sempre a percepção que temos dela de maneira muito mais radical e imediata do que relações análogas afetam, digamos, a avaliação de um quadro de família ou de um romance que lemos na juventude. Com o quadro e o romance retomamos um diálogo, mas a música que nos marcou e que voltamos a ouvir parece sair de dentro, como se estivesse lá, mesmo quando não pensávamos nela”, lembra Mammi na introdução de seu ótimo livro. Para quem não quiser perder nem um acorde ou, ao contrário, para os quiserem se perder entre lançamentos e novidades, a Livraria da Vila refaz o convite e propõe as melhores trilhas sonoras da temporada.