O coração das coisas

Leandro Karnal autografa livro que traz uma seleção das crônicas originalmente publicadas na imprensa

*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 183 (Julho/2019)

O historiador e escritor Leandro Karnal. Foto R. Trumpauskas/Divulgação

O historiador e escritor Leandro Karnal autografa dia 10 de julho às 19h, na Casa Bossa, no Shopping Cidade Jardim, O coração das coisas, lançamento da Editora Contexto. Trata-se do terceiro volume dedicado a reunir uma seleção das crônicas que Karnal publica no jornal O Estado de S. Paulo, do qual é colunista. Também pela Contexto, ele publicou, entre outros títulos, Diálogo de culturas (2017) e O mundo como eu vejo (2018), ambos com textos que havia publicado anteriormente na imprensa.
“Dividi os temas em partes que representam diversos caminhos do meu pensamento: A microfísica da vida, O tempo e a História, Deus e os homens, Educar quem e como? e O universo cultural. São campos que me seduzem um pouco mais do que outros. No sentido positivo e negativo da expressão, sou um polímata, uma pessoa interessada em muitas coisas”, escreve Karnal na introdução do novo livro, em que volta a estabelecer um tête-à-tête com seus leitores e leitoras.

Sobre o título, extraído de uma das crônicas, Karnal explica que “a ideia não é mostrar aquele texto sobre o coração músculo e o coração símbolo como o texto mais definidor. A ideia é que tudo possui uma parte interna, um coração, uma alma para quem desejar, uma essência, se nosso senso filosófico não estiver de mau humor. Olhar além da aparência, pensar o interior de tudo, ver partes que a fala, o gesto e o fato parecem ocultar, eis o motivo do título. Viver é decifrar signos ‘sem ser sábio competente’, como cantava Violeta Parra. Os signos nos excedem, como excederam Violeta, que acabou se matando. É sempre preciso ter esperança, muita paciência, humildade e tentar, de vez em quando, ouvir o bater do coração das coisas. Esse tem sido o meu desafio. Eis uma parte do meu itinerário pela frente.”

Autor de livros como Estados Unidos: A formação da nação, História da cidadania, As religiões que o mundo esqueceu, Todos contra todos – O ódio nosso de cada dia, O historiador e suas fontes, História na sala de aula e História dos Estados Unidos, Karnal, que é professor, se transformou em respeitável formador de opinião com presença influente não só nas redes sociais, que usa para compartilhar ideias e divulgar o seu trabalho, mas também como palestrante dos mais prestigiados e presença regular em programas de rádio e televisão.

Com milhares de seguidores, é um orador admirável e não raro impressiona a audiência pela habilidade com que consegue transformar ideias das mais complexas em falas simples e claras. À Vila Cultural, disse o seguinte quando perguntado sobre esse seu talento evidente com as palavras. “Estudar literatura retórica ajuda muito: Cícero, Quintiliano, Bossuet, Vieira etc. Tenho um amor pelas palavras que foi reforçado na escola e encontrou apoio caseiro. Porém, existe uma prática também. Hoje eu falo um pouco melhor do que falava há 30 anos. Prática ajuda e, por fim, existe uma relação de desejo entre o orador e seu público e ela deve ser recíproca. Sou um professor: sempre quero que os alunos entendam. Para isto, humor, sínteses, imagens, gestos e gradação de voz ajudam. Meu objetivo maior é a compreensão. Conheço colegas brilhantes, geniais no conhecimento, densos no saber e que preferem nunca conspurcar a pureza do saber com sua sistematização para grandes públicos. Nunca achei que eles estivessem errados, mas meu objeto é o público e o que eu falo e escrevo é um signo aberto, acessível ao maior número possível”.

“Tenho um olhar atento para o cotidiano e a experiência nasce da rua. Observo uma cena na fila do aeroporto, um pequeno ato na rua, uma situação hilária ou triste: a escrita é o estuário de muitos pequenos filetes d’água. O ato individual remete a alguma leitura, vivência anterior ou devaneio que busca amparo bibliográfico e conceitual. Ver o todo pela parte e adensar coisas passageiras em seu sentido maior: eis minha maneira de encarar o coração de tudo. Com talento menor sigo o modelo de Michel de Montaigne. O modelo dos ensaios do francês sempre foi poderoso para minha busca. O filósofo se junta a Shakespeare, à Bíblia e aos acontecimentos históricos como as peças centrais da canastra da qual extraio as ideias. Escrever é uma ourivesaria meticulosa e algo obsessiva. No avião ou nas minhas alvoradas produtivas, vejo a tela e suponho um tema e um caminho mental para desenvolvê-lo. Tudo transcorre em silêncio abissal”, explica o escritor sobre seus processos e dilemas criativos, em texto que está no novo livro.

 

Organizada pela Editora Contexto e pela Livraria da Vila, a noite de lançamento do livro tem apoio da Casa Bossa, Shopping Cidade Jardim, M.Inq e Estadão.