De blogueira à autora

Paola Aleksandra lança segundo romance e diz que não abandona sua comunidade literária por nada

Paola Aleksandra. Foto Divulgação

*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 184 (Agosto/2019)

Depois do romance Volte para mim (Essência, 2018), Paola Aleksandra acaba de lançar seu novo livro, Livre para recomeçar (Outro Planeta), com todo o contentamento de quem conseguiu transformar a literatura, uma paixão e uma “válvula de escape”, em objeto de trabalho. Formada em administração, área na qual trabalhou a partir dos 18 anos, Paola, que vive em Maringá, no Paraná, criou o Livros e Fuxicos, originalmente um blog que evoluiu para site e canal no YouTube, e diz que “não abandona essa comunidade especial por nada”. Leia a entrevista de Paola.

Vila Cultural. Qual a sua expectativa com o lançamento de Livre para recomeçar?
Paola Aleksandra. Espero que os leitores se apaixonem pela obra tanto quanto eu. Que, ao lê-la, sintam-se transportados para o Rio de Janeiro do século 19 e, assim como meus protagonistas, inspirem-se a lutar pelo que acreditam e a construir um futuro brilhante.

VC. Depois de um primeiro livro bem-sucedido, você sente alguma (auto)pressão para repetir o feito?
PA. Achei que lançar um segundo livro ia ser mais tranquilo, mas a verdade é que o medo e a insegurança são ainda maiores. Trabalhei por meses nessa história, fiquei madrugadas sem dormir, sofri e ri durante maratonas de escrita, e dei o meu melhor para que a história dos personagens fosse contada com respeito – aos personagens e aos leitores. Mas, todos nós sabemos que às vezes nosso melhor não é o suficiente. Recebi críticas valiosas e construtivas depois de lançar Volte para mim e, ao começar a jornada de escrita de Livre para recomeçar, tudo o que queria era que o leitor sentisse no texto minha entrega, dedicação e melhora. Para ser sincera, não me importo com os conceitos atuais de sucesso, mas sim com a forma como o leitor sentirá minhas histórias. E assim como muitos foram tocados por Volte para mim, espero que Livre para recomeçar também toque e comova corações. É tudo o que eu mais quero, que o livro seja querido por quem lê-lo.

VC. Que avaliação faz da trajetória de Volte para mim até aqui?
PA. O lançamento de Volte para mim fez um ano em junho e, desde então, sempre paro para pensar no quanto a minha vida mudou. Sinto-me cada vez mais grata pela oportunidade de trabalhar com a escrita (principalmente no cenário nacional) e por ser lida. Além de gratidão, essa trajetória pode ser vista como um momento de autoconhecimento fundamental para uma importante guinada que minha vida profissional precisava sofrer – se eu não mudasse de área, permaneceria para sempre incompleta e insatisfeita comigo mesma. Sou formada em administração, atuo na área desde os meus 18 anos, e sempre vi meu trabalho com o Livros e Fuxicos (indicando e falando dos livros) como uma válvula de escape. Eu precisava do mundo literário para me sentir feliz. Ainda assim, nunca imaginei que encontraria na literatura aquilo que me faltava na minha formação profissional: a oportunidade de trabalhar com o que amo. Levei anos para amadurecer a ideia de escrever um livro e muito tempo para acreditar que era capaz. Contudo, cada dúvida fez com que eu crescesse profissionalmente e aprendesse a acreditar na minha voz como autora.

VC. Em que circunstâncias descobriu o prazer de “blogar”?
PA. Sempre gostei de ler, mas durante a adolescência o gosto pela leitura ficou de lado. Contudo, no meu último ano do ensino médio, ler virou uma fuga importante. Estava passando por momentos emocionalmente conturbados em casa e na escola, então usei os livros como bote salva-vidas. Eu lia para escapar dos problemas e encontrei nas leituras realidades divertidas o suficiente para alegrar meus dias. A emoção que tomava conta de mim era contagiante, mas não tinha ninguém com quem trocar indicações de livros. Então procurei comunidades e fóruns na internet voltados para literatura e, depois de encontrar uma comunidade online focada no amor pelos livros, resolvi que também queria comentar sobre as minhas histórias favoritas e, quem sabe, ajudar outras pessoas a encontrarem nos livros um pouco de alegria e aconchego. Foi por isso, em um impulso, que criei o Livros e Fuxicos. E, desde então, não abandono essa comunidade especial por nada – é incrível receber comentários de jovens que, assim como eu anos atrás, só querem fazer parte de um mundo que aprende, cresce e encontra apoio nos livros.

VC. Quando começou a publicar na internet imaginava que se transformaria numa autora?
PA. Não fazia a menor ideia de que, um dia, iria publicar um livro. Como falo em alguns vídeos meus, eu era uma aluna de redação regular/média. Minha escrita nunca foi ótima, então não imaginava que o blog me levaria tão longe. A verdade é que oito anos lendo e escrevendo resenhas – devo ter mais de quinhentas resenhas escritas – me preparou e ensinou muito. Escrever resenhas, assim como ler, melhorou meu vocabulário, minha forma de revelar minha opinião em um texto, e até mesmo como conversar da melhor forma com um leitor. Por isso sou tão grata a cada escolha que me trouxe até aqui: voltar a ler, criar o blog, escrever resenhas (escrever, editar, reescrever, pesquisar como melhorar meu texto). Tudo isso me preparou para o momento em que escrever um conto e um livro seria possível.

VC. Qual é, na sua opinião, o uso mais eficiente da internet quando se almeja a formação de novos leitores?
PA. Sinto que a internet precisa ser usada como forma de aproximação do leitor com o livro, com o autor e até mesmo com o processo editorial. Se todo mundo entender o trabalho por trás de um livro, conhecer todos os passos e o quanto de tempo é investido, fica muito mais fácil quem lê enxergar o livro como um produto valioso. Além disso, acho que os meios de comunicação online ajudam os leitores – principalmente os jovens – a entenderem que existem vários tipos de literatura: aquela que ensina, aquela que forma e aquela que entretém. Todas são valiosas, mas uma delas foi deixada de lado. Por isso, precisamos falar o quanto os livros podem, e devem, ser vistos como uma ótima forma de passar nosso tempo livre.

VC. Como se autodefine como “influenciadora digital” e o que pensa sobre esse título?
PA. Para ser sincera, ainda não tenho uma opinião formada sobre o uso do título de influenciadora. Não sei até que ponto ele realmente revela meu posicionamento na internet. Prefiro ser chamada de produtora de conteúdo. Ainda assim, acho que todos que decidem trabalhar com a internet são figuras que decidiram expor suas opiniões e escolhas – no meu caso, são minhas preferências literárias – a fim de reunir e ajudar aqueles que pensam e gostam das mesmas coisas. Minha ideia na internet é mostrar o quanto os livros são ótimos amigos, são fonte de crescimento e amadurecimento constante, e o quanto um livro (independentemente de gênero e estilo) é capaz de gerar empatia e amor.

VC. Que cuidados são necessários quando se tem uma relação tão direta com as editoras?
PA. Respeito e transparência. Sempre gosto de deixar claro para as editoras que trabalham comigo quem é o meu público, qual é a forma que converso com meus seguidores e quais são os meus valores pessoais. Hoje, sinto que quem trabalha comigo pensa da mesma forma que eu – não adianta ser contratada apenas pelos meus números, gosto de trabalhar com quem acredita em muito mais do que números. Por isso a transparência em apresentar quem sou e quais são os meus valores é tão importante, assim, as editoras já sabem como e com o que eu costumo trabalhar. E hoje acho que o interesse em anunciar comigo e o canal está exatamente pela minha forma de conversar com meus seguidores. Sou emocional (brinco que leio com o coração) e gosto de ler o que realmente me faz feliz. Levanto a bandeira das leituras clichês e do quanto elas são importantes e, no cenário atual, sou uma das poucas que fala tanto de livros românticos.

VC. O que você está lendo atualmente? Recomendaria?
PA. Terminei Frankenstein, em uma edição atual e com uma tradução impecável, e estou completamente encantada por tudo o que a obra representa – e inspirada também pela história de vida da autora. Sim, recomendo sem dúvida.