O que o sol faz com as flores, segundo livro de Rupi Kaur, que é sucesso mundial, sai este mês no Brasil
Foto Baljit Singh/Divulgação
*Matéria publicada na revista Vila Cultural 167 (março/2018).
Imigrante no Canadá, a menina indiana tinha uma tremenda dificuldade para se comunicar em inglês na escola e, além de passar muito tempo sozinha, recolhida, precisou recorrer ao desenho, hobby herdado da mãe, para se proteger. Isso até o dia em que, já com o domínio da língua, encontrou na leitura e nos livros seu melhor refúgio. Adolescente, começou a escrever e quatro anos atrás, em 2014, ao publicar Milk and honey, editado no Brasil como Outros jeitos de usar a boca, virou fenômeno editorial
no mundo. 01
Em síntese, essa seria uma apresentação possível para Rupi Kaur, poetisa e artista contemporânea que usa os versos, a ilustração, o desenho, a fotografia e a linguagem audiovisual para se localizar no mundo e se expressar artisticamente, mobilizando uma audiência global. Com mais de 100 mil exemplares vendidos no Brasil, Rupi terá lançado este mês, pela editora Planeta, seu segundo livro de poesia, O que o sol faz com as flores.
O novo livro de Rupi, a exemplo do que aconteceu em seu título de estreia, explora temas como amor, infanticídio, depressão, perda e abuso sexual e psicológico. Pela maneira sensível como aborda assuntos tão delicados, os poemas de Kaur conseguem tocar um grande número
de pessoas.
Apresentado em cinco partes e ilustrado pela própria autora, o livro percorre uma jornada que faz metáforas com movimentos cíclicos da natureza e das plantas-flores: murchar, cair, enraizar, crescer, florescer. A ideia é percorrer circunstâncias que vão da solidão à recuperação da autoestima e da força. Nas duas primeiras partes, prevalecem os sentimentos ligados ao abandono e à solidão. Crescer trata da necessidade de se deixar o que é tóxico no passado para que o novo possa surgir. Por fim, ao florescer, na percepção dela, entende-se que o amor-próprio é o caminho para recuperar força e energia.
“Essa é a receita da vida/minha mãe disse/me abraçando enquanto eu chorava/pense nas flores que você planta/a cada ano no jardim/elas nos ensinam/que as pessoas/também murcham/caem/criam raiz/crescem/para florescer no final”, escreve Rupi em versos. Outro ponto que ela aborda no livro é o da ancestralidade, um valor ainda mais claro na cultura indiana. Em vários momentos, Rupi, que nasceu em Punjab, fala sobre sua vida em família. Na parte dedicada ao enraizar, ela trata da experiência de ser imigrante e das dificuldades de se adaptar a um novo país.