Os valores marxistas

O bicentenário de nascimento de Marx movimenta o mercado editorial brasileiro e inclui até história em quadrinhos

Ilustração Jonas Ribeiro Alves

Um arquiteto da ciência social moderna e um dos pensadores mais influentes da história da humanidade, ao ponto de ter o próprio sobrenome transformado em expressão para identificação imediata de suas teorias. Maio de 2018 marca o bicentenário de nascimento de Karl Marx, autor de O capital, cujas ideias sustentam que o progresso da sociedade, da economia e da política se dá basicamente pelo conflito entre a classe que controla os meios de produção e que fornece a mão de obra, a classe trabalhadora. Na visão marxista, ainda que habilitado para defender o interesse de toda a sociedade, o Estado protege, na prática, a classe dominante. E o resto é história.
Até pela clareza e contundência de suas defesas, Marx é tanto admirado quanto criticado, sempre entre o amor e o ódio. Isso muito antes de o viés da segmentação dividir, com sentimentos similares, as sociedades globais interconectadas digitalmente. Mas como este é um outro capítulo, a efeméride do nascimento do pensador é um ótimo pretexto para citar um vida intelectual memorável e movimentar o mercado editorial mundial, inclusive no Brasil.
Marx nasceu em 5 de maio de 1818 na Prússia, estudou em Bonn e em Berlim, e viveu grande parte da vida em Londres, para onde se mudou depois de ser exilado, em 1849. Morreu aos 65 anos, em 1883. Foi Marx quem estabeleceu a compreensão sobre a relação do trabalho com o capital, o que garantiu a importância de seus livros mais citados, O manifesto comunista e O capital. Ele argumentava que antagonismo entre a burguesia e o proletariado, marca registrada do capitalismo, produziria tantas tensões e conflitos que a solução seria o sistema socialista, mais justo para toda a sociedade. A ideia sempre foi apoiada por Friedrich Engels, grande amigo e colaborador de Marx, e também um dos pensadores mais importantes da economia e da política.
Marx iniciou no século 19 uma discussão que se mantém até hoje. Como a que se dá, por exemplo, com o ciclo de debates Diálogos com Marx, que a editora Boitempo, principal casa editorial das obras de Marx e de Engels no Brasil, propõe para este ano do bicentenário do escritor. A editora também traz ao Brasil renomados pesquisadores da obra de Marx, como o alemão Michael Heinrich, o italiano Marcello Musto e o britânico David Harvey, além de programar diversos lançamentos. Um deles é justamente o primeiro volume da biografia Karl Marx e o nascimento da sociedade moderna, escrita por Heinrich, que é cientista político dos mais prestigiados. A obra anuncia-se como o trabalho definitivo para compreender, de forma integrada, a vida e a obra do filósofo alemão, voltando sua atenção não somente à vida e à obra de Marx, mas também ao mundo em que viveu e aos seus interlocutores.
Karl Marx – Uma biografia, de José Paulo Netto, e O velho Marx, de Marcello Musto, também da Boitempo, trazem análises perspicazes dos anos finais e ainda pouco explorados da vida de Karl Marx. O britânico David Harvey, um dos marxistas mais influentes da atualidade, retorna ao catálogo da editora com o lançamento de A loucura da razão econômica – Marx e o capital no século XXI; enquanto O marxismo ocidental, do historiador italiano Domenico Losurdo, aborda as formas conflitantes que o marxismo tomou ao se difundir pelo mundo.
Entre os lançamentos, este pelo selo Barricada, está Marx – Uma biografia em quadrinhos, de Anne Simon e Corinne Maier. A HQ aborda a vida e as principais ideias do filósofo alemão, passando por episódios como a redação do Manifesto Comunista e a influência do pensamento de Hegel em seu desenvolvimento intelectual.
Além de quadrinhos, a editora publica dois livros infantis pelo selo Boitatá: O capital para crianças, de Liliana Fortuny e Joan R. Riera, e O deus dinheiro, de Karl Marx e ilustrações de Maguma. O primeiro traz o personagem vovô Carlos que, ótimo contador de histórias, decide, no lugar de príncipes e princesas, contar uma trama sobre a luta dos trabalhadores. Já O deus dinheiro é uma narrativa visual sobre o mundo em que vivemos hoje, baseada nos Manuscritos econômico-filosóficos de 1844.