“Nossas mentes estão livres para explorar todo o universo”, dizia o físico e escritor Stephen Hawking
Ilustração Jonas Ribeiro
O mundo certamente ficou menos inteligente no último dia 14 de março com a morte, aos 76 anos, do físico, escritor e pesquisador britânico Stephen Hawking. Cientista genial e ícone da história contemporânea, ele publicou 14 livros, entre os quais os best-sellers Uma breve história do tempo, que vendeu mais de 10 milhões de exemplares e foi um marco na carreira de Hawking, e O universo numa casca de noz, outro sucesso editorial retumbante.
Hawking se transformou numa referência não só pelo brilhantismo ao compartilhar o conhecimento de forma acessível – sugerindo que a curiosidade é uma necessidade para vivermos melhor –, mas também pela determinação ao enfrentar e resistir bravamente a uma doença degenerativa, a esclerose lateral amiotrófica, que ele descobriu ainda na juventude.
O escritor jamais se vitimizou ou aceitou passivamente as limitações que a doença impôs ao seu corpo ao longo do tempo. Para superações de toda ordem, teve como aliados, além da ciência, alguns gigantes da indústria da tecnologia, que lhe deram alternativas para continuar vivendo e produzindo, já que, apesar das limitações físicas, ele não teve qualquer comprometimento intelectual.
Para conseguir “falar” e expressar suas ideias, por exemplo, Hawking usava um sintetizador eletrônico. Com o movimento dos olhos, que ele também usava para locomover sua cadeira de rodas, o físico formava as palavras em uma tela e a partir dali uma voz robótica, que acabou se transformando em outra de suas marcas registradas, era emitida. Sempre com algo a dizer, ele se fez ouvido no mundo inteiro.
Na fala do príncipe Hamlet, de Shakespeare, ato 2, cena 2, que Hawking cita inclusive para dar nome ao livro O universo na casa de noz, há muito sobre a sua personalidade e sua própria existência: “Eu poderia viver numa casca de noz e me considerar o rei do espaço infinito”. Na sequência, o físico argumenta: “Hamlet talvez quisesse dizer que, embora nós, seres humanos, sejamos muito limitados fisicamente, nossas mentes estão livres para explorar todo o universo e para a avançar audaciosamente para onde até mesmo Jornada nas estrelas teme seguir – se os maus sonhos permitirem”.
Assim, como quem não quer nada, usando a simplicidade para indicar descobertas, o Hawking escritor vai compartilhando constatações, ideias e teorias das mais complexas sempre com a elegância e a clareza necessárias para democratizar o que não precisa ser nem deve ser exclusividade da ciência. No caso dele, temas como a natureza da gravidade e a origem do universo ficaram ainda mais instigantes e fascinantes, além da descoberta de que os buracos negros – pontos tão densos do cosmos que nem a luz lhes escapa – emitem partículas de radiação antes de desaparecerem.
Tão ou mais ilustre que Albert Einstein, Hawking morreu na mesma data do nascimento, 14 de março, do cientista alemão, que nasceu em 1879. Ele era considerado, aliás, o mais brilhante físico teórico depois de Einstein. Nascido em 1942 em Oxford, Inglaterra, Hawking era matemático, astrofísico e doutor em cosmologia pela Universidade de Cambridge, onde ocupou a cadeira de Isaac Newton como professor
lucasiano emérito.
No final dos anos de 1960, Stephen Hawking ganhou visibilidade por causa da teoria da singularidade do espaço-tempo, na qual aplicava a lógica dos buracos negros a todo o universo. Com credibilidade insuspeita e respeito máximo entre seus colegas, deu detalhes da teoria em Uma breve história do tempo, originalmente lançado em 1988.
A vida de Hawking acabou sendo tão inspiradora quanto as suas descobertas. Em 2014, o filme A teoria de tudo, dirigido por James Marsh, levou a biografia de Hawking para o cinema, o que rendeu o Oscar de melhor ator para Eddie Remayner, que interpretou o cientista das telas. O filme mostra como o jovem astrofísico fez descobertas importantes sobre o tempo, além de retratar o seu romance com a aluna de Cambridge Jane Wide e a descoberta, aos 21 anos, da doença degenerativa.