Mediadora e entusiasta do Desconstruir para Construir, a jornalista Regina Volpato escreve sobre a experiência de compartilhar questionamentos em um espaço real de fala e escuta
*Matéria publicada na revista Vila Cultural 163 (novembro/2017).
Por Regina Volpato **
Foto Sérgio Saraiva/Divulgação
O Desconstruir para Construir nasceu a partir de uma conversa que tivemos, Gil Torres e Wilson Jr., da Livraria da Vila, e eu, no final de 2016. Falávamos da dificuldade de trocar experiências, de compartilhar inquietações. Da falta de entendimento e compreensão de realidades distintas das nossas, da impaciência para ouvir outros pontos de vista sem antes mesmo ter noção de quais seriam esses outros pontos de vista. Reclamávamos, enfim, dos obstáculos para acessar informações confiáveis, destituídas de má-fé ou do desejo de manipulação. E lamentávamos as discussões raivosas e as brigas motivadas por memes das redes sociais. Pessimistas nas constatações, determinados e confiantes nas ações, decidimos que poderíamos, sem grandes pretensões mas com muito empenho e seriedade, contribuir para tentar alterar essa dinâmica. Fazer o que estava ao nosso alcance. Ou seja, proporcionar, na Livraria da Vila, um espaço para reflexões coletivas e novas formas de pensar e agir. Colocar pessoas em contato real, ao vivo, e não só pelas redes virtuais. Conversar, pensar sugestões de possíveis soluções com otimismo, mas sem ingenuidade sobre diversos questionamentos. Decidimos organizar encontros mensais, gratuitos, com convidados que admiramos, para falar sem restrição sobre temas atuais, polêmicos. Uma roda de conversa. Solta, com poucas regras além daquelas que são imprescindíveis para um diálogo profícuo. Convidados e não palestrantes, note. A participação da plateia (tão importante quanto a dos convidados) não só tão desejada como estimulada a todo momento, sem apenas os famosos “20 minutos finais para perguntas”. Um espaço de fala e escuta, enfim.
Começamos na semana do Carnaval com o tema Moral. Sim, avaliamos que seria uma pauta “densa”, talvez um tanto inadequada para a época do ano. Mas não poderia ser outra para o começo da nossa jornada. Repensar, desconstruir para construir o que entendemos por moral, imoral e amoral teria de ser o pontapé inicial. Para nossa surpresa, apesar da concorrência com os blocos que animam a Vila Madalena, o auditório ficou lotado! Foram mais de duas horas de escuta respeitosa, falas esclarecedoras. Ao final deste primeiro encontro, a sensação era de que tínhamos conseguido dizer a que viemos.
E assim, durante o ano de 2017, toda penúltima terça-feira de cada mês, às 19h, nos reunimos no auditório da Livraria da Fradique Coutinho. Foram diversos convidados que se dispuseram a compartilhar conhecimentos e experiências. A plateia é sempre participativa, heterogênea e sedenta por diálogo. Não raro extrapolamos o horário estipulado para o fim das atividades.
Tem sido uma experiência muito enriquecedora para mim. Um privilégio. Além de ajudar na curadoria do evento, ao mediar os debates tenho contato com pessoas incríveis, e aprendo mais que poderia imaginar. Para o próximo ano continuaremos com os encontros. Gratuitos. Vamos manter a mesma dinâmica, que julgamos ter sido bem-sucedida. Além disso, estamos viabilizando algumas novidades que farão o Desconstruir para Construir ainda mais amplo, plural e inclusivo.
* *Formada pela USP, a jornalista e apresentadora Regina Volpato tem um canal no Youtube e é autora do livro Mudar faz bem (Academia/Planeta), lançado este ano.