“Trata-se de um prêmio clássico, mas conectado com o seu tempo”, diz o curador da 61ª edição do Jabuti
*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 187 (Novembro/2019)
Desde 2016 no conselho do Prêmio Jabuti, o editor Pedro Almeida é o curador da 61ª edição do prêmio realizado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). “Estou entusiasmado com a possibilidade de torná-lo um meio cada vez mais expressivo para a promoção da literatura, da leitura e dos livros, as ferramentas da Educação”, declarou quando da divulgação de seu nome para o cargo, em abril. “Estamos criando um evento que deve ultrapassar o círculo da indústria do livro e se tornar uma grande celebração da Cultura no país”, diz Almeida sobre a expectativa com a cerimônia de premiação no final desse mês, em São Paulo. Leia a entrevista que ele concedeu à Vila Cultural.
Vila Cultural. Como se dá o trabalho de curadoria de um prêmio tão tradicional como o Jabuti e que avaliação, como editor e publisher, faz dessa sua experiência como curador?
Pedro Almeida. A curadoria do Prêmio Jabuti é um trabalho de extrema responsabilidade. O conselho curador tem a função de acompanhar todas as etapas do prêmio, analisar e deliberar sobre os casos omissos e validar o corpo de jurados. Durante três anos, fui membro deste conselho. Assumir o cargo de curador é uma honra e uma grande oportunidade de compartilhar minha experiência e trabalhar em prol da disseminação da leitura no Brasil. Neste ano compus um conselho com editores, e tem sido uma experiência bem interessante. Muitos poderão perceber os resultados dessas escolhas nas sutilezas. Toda a credibilidade de uma premiação está na seleção dos jurados e posso dizer que temos enorme orgulho do grupo que conseguimos reunir nesta edição.
VC. Poderia falar sobre a volta ao “formato original” infantil/juvenil?
PA. O Prêmio Jabuti sempre busca se renovar e, no ano anterior, decidimos reduzir bastante o número de categorias, concentrando a premiação nas que alcançavam o livro de interesse geral. A junção das categorias infantil e juvenil foi uma experiência que decidimos revisar e retomamos neste ano como grupos distintos. Em todos os anos, recebemos muitas recomendações e novas revisões sempre serão feitas. O nosso desejo com o Prêmio Jabuti é que ele esteja sempre conectado com a produção de literaturas no Brasil, e isso é algo em contínuo movimento. Trata-se de um prêmio clássico, mas conectado com o seu tempo.
VC. Qual é a conduta principal numa situação que envolve tantos interesses?
PA. Lisura no processo de seleção de jurados é a nossa obstinação, evitando qualquer concentração de jurados por regiões do país ou pessoas que tenham relações pessoais/profissionais com possíveis livros avaliados. Os membros do conselho também não podem inscrever obras de suas editoras. Nosso interesse é que o Prêmio Jabuti continue como uma referência tanto para indústria quanto para os leitores.
VC. Quais são, na sua opinião, as ações mais eficientes quando se trata de estímulo à leitura e, no caso específico do Jabuti, qual a relevância da ampliação da categoria Formação de Novos Leitores?
PA. A categoria Formação de Novos Leitores foi pensada para colocar foco nas centenas de grandes ações de fomento à leitura, nos projetos de mediação e educação criados a partir do livro. O percentual de não leitores no Brasil ainda é muito grande. Queremos conhecer os projetos e valorizar cada um deles para que possam inspirar e compartilhar experiências de norte a sul do Brasil. Cada região tem suas necessidades e é importante mostrarmos a diversidade de ações de incentivo à leitura, levando em conta a identidade e os símbolos culturais presentes em sua própria comunidade. Este ano, já fizemos uma pequena mudança na categoria: não iremos apenas apresentar os nomes dos projetos, mas divulgar o trabalho de cada um deles. Como diz o ditado popular, “A palavra convence, mas o exemplo arrasta, contagia”.
VC. Como se chegou ao nome de Conceição Evaristo como homenageada em 2019?
PA. Todo ano fazemos pesquisa entre associados da CBL [Câmara Brasileira do Livro], júri e conselho curador do Jabuti para escolher três nomes e levamos para a Comissão. O nome de Conceição foi unanimidade. Vencedora da categoria Contos e Crônicas em 2015, com Olhos d’água, ela tem uma carreira consistente e traz uma mensagem para o Brasil e diversos debates que precisamos fazer. A sua indicação como Personagem Literária do Prêmio Jabuti é um reconhecimento por sua obra e suas lutas. Este ano, conseguimos antecipar a revelação do nome para que as editoras, festivais e eventos literários pudessem ter a oportunidade de levar a sua obra para mais leitores.
VC. Quais são as suas expectativas com a cerimônia-festa no fim deste mês?
PA. São enormes. Estamos criando um evento que deve ultrapassar o círculo da indústria do livro e se tornar uma grande celebração da Cultura no país. E será transmitido ao vivo, todos poderão acompanhar pela internet. Há muitas novidades que serão contadas até o dia da premiação, das apresentações culturais e artísticas. Este evento é feito com enorme cuidado por dezenas de pessoas que veem a literatura como um grande instrumento de transformação de um país.