O sol na cabeça narra suspense e ação como experiências cotidianas para crianças e jovens que vivem na favela
*Matéria publicada na revista Vila Cultural 167 (março/2018).
Depois da participação no Desconstruir para Construir, o carioca Geovani Martins aproveita a noite para a sessão paulistana de autógrafos de O sol na cabeça (Companhia das Letras), seu livro de estreia. Nos contos, ele narra a infância e a adolescência de garotos para quem as angústias e dificuldades inerentes à idade soma-se a violência de crescer no lado menos favorecido da “Cidade partida”, o Rio de Janeiro das primeiras décadas do século 21. Mais do que uma experiência solitária, Martins dá voz a muitas pessoas que dividem histórias de vida similares as dele. Em Rolézim, por exemplo, uma turma de adolescentes vai à praia no verão de 2015, quando a PM fluminense, em nome do combate aos arrastões, fazia marcação cerrada sobre os meninos de favela que pretendessem chegar às areias da Zona Sul.
As mudanças ocorridas na Rocinha após a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP, dá o tom de A história do Periquito e do Macaco. Situado em 2013, quando a maioria da classe média carioca ainda via a iniciativa do secretário de segurança José Beltrame como a panaceia contra todos os males, o conto mostra que, para a população sob o controle da polícia, o segundo “P” da sigla não era exatamente uma realidade. A paz ainda passou longe das perspectivas que foram projetadas.
No texto Estação Padre Miguel, cinco amigos se veem sob a mira dos fuzis dos traficantes locais. “Nesses e nos outros contos, chama a atenção a capacidade narrativa do escritor, pintando com cores vivas personagens e ambientes sem nunca perder o suspense e o foco na ação. Na literatura brasileira contemporânea, que tantas vezes negligencia a trama em favor de supostas experimentações formais, O sol na cabeça surge como uma mais que bem-vinda novidade”, anuncia o material de divulgação da Companhia das Letras.