Títulos que ajudam a entender e a pensar a condição da mulher no mundo contemporâneo
*Matéria publicada na revista Vila Cultural 166 (fevereiro/2018).
Fotos Divulgação
Leila Diniz
Escrito pelo jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, o livro da Companhia das Letras é um valioso perfil da cidadã e atriz brasileira Leila Diniz (1945-1972). Filha de um líder do Partido Comunista, ela protagonizou, em 1965, a primeira novela da Globo, atuou nas comédias de Domingos Oliveira e nos filmes experimentais de Nelson Pereira dos Santos, em plena época do desbunde. Mais do que sua carreira, no entanto, foi o seu comportamento que influenciou as mulheres. Movida pelo prazer e pela liberdade, espontânea e assumidamente feliz, Leila ajudou, com algumas ousadias pessoais, a traçar um novo papel para a mulher na sociedade brasileira.
O mundo de Aisha
Fascinante, o título da Nemo é uma reportagem em quadrinhos de Ugo Bertotti inspirada pelas imagens e entrevistas da fotojornalista Agnes Montanari, que documenta as mulheres do Iêmen. Obrigadas a se casarem ainda meninas, elas são escravizadas, violentadas, às vezes assassinadas, e vivem cobertas com o niqab, o véu negro que faz com que pareçam fantasmas. Ainda assim, com delicadeza, coragem e determinação, travam uma batalha corajosa por sua emancipação numa revolução silenciosa para ter seus direitos e sua liberdade.
Meu corpo não é seu
O livro publicado pela Companhia das Letras com a assinatura do coletivo Think Olga é essencial para entender como se dá a violência contra a mulher e porque esse é um dos tipos de crime mais recorrentes (e menos punidos) no mundo e no Brasil, que ostenta estatísticas assustadoras. Com um texto claro e informativo, que junta dados de pesquisas, reflexões e depoimentos de mulheres que viveram situações de violência, o livro também investiga por que tão pouco ainda é feito para prevenir e denunciar desrespeitos e violências de toda ordem contra as mulheres.
O segundo sexo
Publicado originalmente em 1949, o livro que consagrou a francesa Simone de Beauvoir na filosofia é um título do catálogo da Nova Fronteira. Tornou-se atemporal e definitivo em seus dois volumes, como na divisão original. No primeiro, Beauvoir aborda os fatos e os mitos que envolvem a condição da mulher. No segundo, a escritora e filósofa analisa a identidade da mulher em todas as suas dimensões – sexual, psicológica, social e política.
A guerra não tem o rosto da mulher
Da Companhia das Letras, o livro da escritora Svetlana Aleksiévitch, Nobel de Literatura, é uma história da bravura feminina reconstruída de maneira intensa ao focalizar a trajetória de quase um milhão de mulheres que lutaram no Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, mas cuja importância nunca havia sido documentada. Em memórias que evocam o frio, a fome, violência sexual e a ameaça permanente da morte, Aleksiévitch agrega uma percepção distinta do ponto de vista mais habitual, sempre masculino com soldados e generais, algozes e libertadores.
Um teto todo seu
Com a assinatura inconfundível de Virginia Woolf, o título publicado pela Tordesilhas é baseado em palestras proferidas pela escritora nas faculdades de Newham e Girton em 1928. O ensaio Um teto todo seu, que dá nome ao livro, é uma reflexão sobre as condições sociais da mulher e a sua influência na produção literária. Woolf reflete e argumenta sobre até que ponto a posição que a mulher ocupa na sociedade acarreta dificuldades para a expressão livre de seu pensamento e todo o processo que se dá a partir daí, ou seja, como essa expressão será escrita “sem sujeição” e, finalmente, como será recebida com consideração “em vez da indiferença comumente reservada à escrita feminina na época”.
Para educar crianças feministas – Um manifesto
No livro da Companhia da Letras, Chimamanda Ngozi Adichie opta por escrever no formato de uma carta endereçada a uma amiga que acaba de se tornar mãe de uma menina. Com sutileza, relaciona “conselhos simples e precisos de como oferecer uma formação igualitária a todas as crianças, o que se inicia pela justa distribuição de tarefas entre pais e mães”. No final, percebe-se a força e o impacto de um “breve manifesto”, cuja leitura mobiliza homens e mulheres, pais de meninas e meninos.
Sejamos todos feministas
Outro sucesso editorial com a assinatura de Chimamanda Ngozi Adichie, que investiga aqui o significado de ser feminista no século 21 e a importância do feminismo para libertar ao mesmo tempo homens e mulheres. A escritora resgata até o primeiro contato que teve com o termo, que ela ouviu pela primeira vez ao conversar com um amigo de infância no dia em que ele a “acusou” de ser feminista. “Não era um elogio. Percebi pelo tom da voz dele; era como se dissesse: Você apoia o terrorismo!”, ela escreve. Apesar da desaprovação, a escritora abraçou o termo e em resposta aos que lhe diziam que feministas são infelizes porque nunca se casaram, que são “antiafricanas” e que odeiam homens e maquiagem, ela começou a se intitular uma “feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”.
Reze pelas mulheres roubadas
Lançado pela Rocco em 2015, o livro de Jennifer Clement é o retrato de um México muito atual ao revelar a dura vida das mulheres na região de Guerrero, onde mais de 40 estudantes foram mortos em 2014. É uma narrativa ficcional escrita em uma década de pesquisas da autora para acompanhar a trajetória da garota Ladydi, que aos 11 anos vê sua melhor amiga ser roubada para o harém de jovens escravas de um chefe do narcotráfico. É para evitar esse destino que as mulheres da região deixam de frequentar a escola, cortam os cabelos ou até mesmo se mutilam para ficarem menos femininas e passarem despercebidas aos olhos da elite do tráfico.