Eva e seus Tantãs

Com narrativas sobre pequenos absurdos, Eva Furnari autografa novo livro na loja da Fradique

*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 186 (Outubro/2019)

A escritora Eva Furnari, que autografa seu novo livro dia 26 de outubro. Foto Divulgação

A escritora Eva Furnari lança dia 26 de outubro, sábado, na loja da Fradique, o livro Tantãs (Moderna), que traz pequenos contos e grandes surpresas, a exemplo do que invariavelmente acontece na obra de Furnari. Para o público e para a Livraria da Vila, a presença de Eva é sempre um prazer e um privilégio. Não só por ela ser uma das mais inventivas e importantes autoras da literatura infantojuvenil brasileira, mas igualmente por sua personalidade adorável, em plena sintonia com suas criações.

No novo livro, a criadora de personagens como o coelho Felpo Filva, a família Gorgonzola e a Bruxinha Zuzu, só para citar alguns, aproveita cada narrativa para trazer um pequeno absurdo. Há psicólogos que tratam de eletrodomésticos, gênios que mudam penteados, meninos que querem ser dorminhólogos e por aí afora. A imaginação de Eva, aliada ao seu talento como artista visual, está posta do começo ao fim. Com texto primoroso e ilustrações lindas, que ao primeiro olhar já estimulam o riso mais espontâneo, o livro é dedicado, por exemplo, aos “bules que não servem chá (nem café)”.

De múltiplas habilidades, Eva diz que está especialmente interessada no texto neste momento. “Para você ser um bom contador de histórias pode até ter um certo talento, mas esse ofício requer muita experiência. Então, não dá para cortar caminho. É um ofício que se aprende lentamente. Você faz um livro, faz outro e sempre revê tudo: ‘isso aqui não ficou bom, não deu certo’. Você vai se desenvolvendo o tempo todo”, diz Eva em depoimento à Vila Cultural (leia trechos abaixo).

“A importância que o livro tem para as crianças está muito ligada aos professores. Eu me sinto parceira dos professores nessa história. E somos parceiros já há algum tempo”, ela afirma. Não por acaso, os livros de Eva estão espalhados por livrarias, bibliotecas e escolas de todo o Brasil. “São mais de 60 títulos, que juntos já venderam mais de 3 milhões de exemplares, não só no Brasil, mas também no México, Equador, na Guatemala, Bolívia e Itália. Na Inglaterra, Felpo Filva foi traduzido como Fuzz McFlops pela prestigiada editora Pushkin Books. As obras de Eva também foram agraciados com os principais prêmios para a categoria, entre eles sete Jabutis”, descreve o texto publicado no site da escritora, www.evafurnari.com.br, que reúne outras curiosidades sobre a carreira e os livros de Eva.

TANTÃS, O NOVO LIVRO
“Não sei o que aconteceu na minha cabeça, mas cada vez é uma inspiração diferente. São contos de gente que tem um parafuso a menos e eu gosto especialmente de Veneno, o último conto, que é uma conversa entre vizinhas, duas velhotas conversando no muro. E o assunto é exatamente sobre essas leituras ao pé da letra do mundo, tudo bem de leve. Achei muito difícil escrever textos curtos porque no conto você precisa armar uma situação e ter um desfecho interessante, surpreendente. Fazer isso em uma lauda e meia, duas laudas, não é simples, mas fiquei satisfeita com o resultado.”

COMEÇAR DE NOVO
“Em cada livro que faço me sinto uma aprendiz, começando tudo de novo. Tenho que aprender e pensar como é que eu vou resolver o que inventei porque cada livro é uma situação diferente. Sou muito entusiasmada e reclamo bastante da falta de tempo para escrever mais, para produzir mais. Agora estou muito interessada no texto, na narrativa. Tanto que esse novo livro é para uma faixa etária um pouquinho diferente, para crianças de nove, dez anos. O foco não é a imagem, não é o desenho, que está lá mais para dar um respiro. O texto sobrevive mesmo sem a imagem.”

IMAGENS E PALAVRAS
“Na verdade, a minha criação tem uma predominância visual. Tanto que às vezes tenho dificuldade de traduzir em palavras uma imagem. E é difícil escrever. Parece que escrever para criança é fácil porque o texto é mais curto, mas não é fácil não. É complexo porque ao mesmo tempo em que você precisa ter uma certa emoção, uma sensibilidade no texto, também precisa ter um pensamento lógico muito bem estruturado porque senão não constrói a narrativa. Tem que ter desapego.”

TEMPO VIRTUAL
“O mundo da internet, o mundo visual dos filmes, dos games, tudo é muito interessante, mas ao mesmo tempo não é tão saudável assim para o nosso corpo, que não foi feito para ficar parado. E a criança tem espontaneamente uma ação física muito intensa: ela corre, pula, tem essa necessidade do movimento. Então, a criança parada diante de um vídeo já não é tão saudável. Outro aspecto é que o nosso cérebro acaba se viciando em velocidade, em informação e fica tipo corre-corre. Ele fica viciado em estímulo porque aquilo causa algum prazer e você quer mais. Só que essa velocidade do cérebro, do pensamento, não é a melhor velocidade do corpo e da emoção.”

TEMPO REAL
“O corpo é muito mais lento e precisa de movimentos e coisas completamente opostas: de rotina, de alimento, de descanso. E a emoção precisa de relacionamentos saudáveis, de um tempo para assimilar as relações afetivas, para digerir, para entender essa velocidade mental e a sua alma, o seu corpo, as suas emoções, as suas relações reais. Essas perspectivas do mundo virtual, sempre acelerado, e o mundo real, acabam ficando muito distantes. Então eu acho que essas crianças quando crescerem vão ter um pouco de dificuldade de aceitar o tempo de preparar a comida, o tempo para a planta crescer, o tempo da natureza, o tempo de costurar uma roupa. O virtual faz tudo parecer magia e a magia não tem esse tempo real.”

A HUMANIDADE DO LIVRO
“Tem coisas sedutoras, interessantíssimas, superbacanas, que a gente não pode negar nessa evolução tecnológica, que já está na nossa vida e altera as nossas relações, mas tem essas outras características, esses efeitos colaterais. E eu vou acrescentar que o livro muda tudo isso. Porque o livro tem o ritmo humano. Você, a imagem, o texto e o tempo para digerir aquilo tudo. Ele é mais ‘humano’, e acho que hoje, para fazer frente a essa competição tecnológica, os livros precisam ter muita qualidade. Para ser tão sedutor e ter histórias tão bem contadas como as do mundo virtual.”

LITERATURA NA ESCOLA 1
“A literatura tem uma grande importância que hoje também se dá via escola. Porque as crianças estão muito aceleradas, muito pilhadas, muito estimuladas. Para um professor ficar com trinta e tantas crianças na sala de aula, todas muito pilhadas, é complicado. Além desse aspecto de as crianças estarem muito estimuladas, a liberdade requer cuidados. E existe essa polaridade: dou liberdade para essa criança ou boto disciplina nessa sala de aula, no coletivo e no individual, de maneira que todos tenham que se conter? Então, o professor hoje tem uma grande dificuldade que não é exatamente a matéria, a disciplina, mas como lidar com essas situações. Inclusive porque educar em um ambiente, num sistema democrático, é muito mais complexo do que educar em um sistema autoritário.”

LITERATURA NA ESCOLA 2
“Então, todo esse discurso é para dizer o seguinte: que o professor hoje precisa de uma adesão das crianças. Você não consegue mais impor algo que seja completamente alheio à vontade delas. O professor precisa fazer atividades que interessem às crianças e a literatura é uma das maneiras que os professores têm encontrado para desenvolver atividades e, com essa parte cognitiva, trabalhar valores, discutir questões importantes. O livro acaba trazendo esse universo das relações humanas, dos conflitos, das conquistas, das frustrações e tudo o mais.”

 

LANÇAMENTO
Livro: Tantãs (Moderna), de Eva Furnari
Loja: Fradique
Quando: dia 26 de outubro, sábado, das 15h às 18h