O legado da força

*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 188 (Dezembro/2019)

 

A estreia de A ascensão Skywalker, encerramento da saga original, faz o tempo lembrar o que fica de Star Wars

 

Não me lembro exatamente da primeira vez que assisti a Star Wars. Como nasci em 1981 – e a primeira trilogia foi lançada entre 1977 e 1983 –, suponho que não deva ter sido no cinema, embora meu pai garanta o contrário: que já assistimos na telona sim, lá atrás. “Peraê, você não era nem nascido quando lançou…”

Pelo sim, pelo não, o que me lembro mais vividamente é de descer até a locadora que ficava no térreo do prédio em que morávamos, no Sumaré, São Paulo, e alugar os filmes em VHS, o bom e velho Video Home System. Que streaming o quê!

Nunca esqueço também do impacto ao observar pela primeira vez – se bem que, pensando agora, até hoje o efeito ainda é muito parecido – os créditos iniciais deslizando pela tela, com aquele amarelo imponente. Acho que nem sabia o que estava escrito ali, mas a música clássica trilhando sonoramente o espaço sideral e o texto subindo “meio torto” (futurista?) foi algo marcante para uma criança de seis, sete anos.

 

A atriz Daisy Ridley em ação como Rey em cena de A ascensão Skywalker, que estreia este mês no cinema./Lucasfilm/Divulgação

 

A frase “Luke, eu sou o seu pai”, dita por Darth Vader, também nunca me saiu da cabeça. É como se tivesse sido dita ontem pelo meu próprio pai. A sequência assustadora em que ela aparece, no episódio V, a gente também nunca esquece: o vilão persegue um inocente e ainda “despreparado” Luke Skywalker pelos subterrâneos da cidade das nuvens e, após cortar sua mão direita, admite o parentesco – para horror deste que vos escreve –, embasbacando-paralisando o herói.

Da trilogia criada por George Lucas me sobram outras tantas memórias marcantes: os robozinhos engraçados, sempre muito astutos e engenhosos; Jaba, o Hut, um monstro larvento gigante e nojento comandando a máfia de Tatooine; Obi-Wan Kanobi, o “‘pai-mestre” de Luke, que o guiou sabiamente para os caminhos da força; e, claro, a Princesa Leia num biquíni dourado (quem não se lembra da Princesa Leia num biquíni dourado?).

Ninguém tem dúvidas sobre o quanto a saga marcou o imaginário de muitas crianças não só da minha geração como de outras que se seguiram. Foi, eu acho, muito mais fácil crescer gostando do universo geek depois de ter sido iniciado por Star Wars (em um nível “mais intelectual” talvez, pois já assistíamos Jiraiya, Jaspion e Black Kamen Rider na TV).

Quase vinte anos depois, George Lucas resolveu, enfim, nos contar a história de Anakin Skywalker, que viraria Darth Vader posteriormente, atraído pelo lado negro da força pelo então senador Palpatine, que, com ajuda de Vader, tornaria-se imperador. Este trio de filmes foi chamado de Prequel.

As opiniões dividiram-se. Se antes havia apenas aqueles que gostavam ou não de Guerra nas Estrelas, agora, sinal dos tempos, já tínhamos também, entre os “adoradores” da trilogia original, quem gostou e quem não gostou da trilogia Prequel. Isso tudo aconteceu entre 1999 e 2005.

Passado mais algum tempo, em 2012 a Disney deu o maior susto nos fãs da saga ao comprar, por US$ 4 bilhões, a Lucasfilm. “E agora?” Anunciou-se o episódio VII pra dali a alguns anos. “E agora??”

“E agora” finalmente chegou em 2015, com O despertar da força. Eu diria que, na média e para a maioria, não houve decepção. Claro que como propriedade/investimento da Disney, as cenas “tipo Disney” seriam inevitáveis. O que dizer de Luke tirando tão casualmente a poeira do ombro após ser saraivado por dezenas de blasters? Mas como continuação de algo que todos esperavam há mais de três décadas, o saldo era satisfatório.

Dois anos depois veio o episódio VIII e agora, em dezembro, a saga original termina com A ascensão Skywalker, episódio IX. Entendo – e respeito – todos os saudosistas (mais radicais) que consideram que a trilogia original ainda é a única que vale a pena ser vista e cultuada. Entendo também quem considera os episódios II e III importantes. Entendo até – acho – quem gosta do episódio I. Mas se não fosse a Disney, tenho minhas dúvidas sobre por quantas gerações mais o universo perduraria, dependendo apenas de pais para ensinar os nomes dos robozinhos desde sempre para os filhos, garantindo o bom gosto para filmes e a sobrevivência da saga.

Esse esforço, no entanto, já não é necessário. Desde a compra pela Disney, a quantidade de produtos Star Wars multiplicou: jogos de computador ou console, jogos de tabuleiro, brinquedos dos mais diversos, séries na TV, filmes a serem lançados ao longo dos próximos anos. A sobrevivência do universo, portanto, está garantida. Já me parece um ótimo motivo para celebrar. E que a força esteja conosco!

 

 

Lucasfilm/Divulgação
Lucasfilm/Divulgação

Monte a sua sequência

Para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de assistir aos filmes mas têm vontade, sugiro a seguinte “ordem-sequência”: IV – V – VI – VII – VIII – IX. Se sobrar tempo e interesse, assista a Rogue One – Uma História Star Wars, já do universo Disney, mas muito interessante. O final deste filme é o começo imediato do episódio IV. Até pode ser visto antes de tudo, mas como foi produzido por agora, os efeitos e qualidades técnicas podem fazer pesar “os anos nas costas” da trilogia inicial.

 

 

 

O universo Star Wars na literatura é ainda mais vasto que no cinema. São muitas dezenas, talvez centenas de títulos relacionados ao tema, todos aprovados pela Lucasfilme. Alguns respeitando a trilogia original, outros evoluindo dela ou até traçando linhas perpendiculares. Vou indicar alguns dos que mais gostei:

 

Uma saga de leituras

 

Trilogia Thrawn
Os livros são de 1991, 92 e 93, e acontecem cinco anos após o desfecho do episódio VI. Narram a história do Grão-Almirante Thrawn, que não estava a bordo da Segunda Estrela da Morte à época da explosão. Gênio militar, ele não aceita a recém-formada república e luta para restituir o Império Galáctico.

 

 

 

Kenobi
Mais recente, de 2015, é um faroeste que se passa em Tatooine, logo após a morte da Rainha Amidala, mãe de Luke e Leia, quando Obi-Wan Kanobi leva o bebê Luke para morar com seus tios. O livro narra o início da história de Obi-Wan no planeta desértico.

 

 

 

Darth Plagueis
De 2012, conta a história do mais poderoso Lord Sith, que pegou o jovem Palpatine como pupilo. Uma história inebriante, que se passa 50 anos antes do início de “uma nova esperança” e explica muito as motivações do futuro imperador.

 

 

 

As dicas da equipe da Vila

Três títulos sob medida para os fãs de Star Wars

 

Star Wars Dark Editon
A DarkSide aproveitou o “fim” da saga em 2019 para lançar, em maio, uma nova edição (muito legal!) de Star Wars: A trilogia. É uma espécie de “novelização” dos filmes mais antigos que, pela riqueza de detalhes, também tem jeitão de “manual que todo e qualquer mochileiro Jedi precisa ter em sua coleção”, como anuncia a editora.

 

Star Wars A resistência renasce
Fique de olho nesse lançamento mundial que a Universo dos Livros acaba de disponibilizar também em português. A história criada por Rebecca Roanhorse se passa entre Os últimos Jedi e A ascensão Skywalker. Inclusive por isso a leitura vem sendo recomendada como um “esquenta” ideal para lidar com as expectativas de estreia, neste mês, do “epílogo” de Star Wars.

 

Star Wars Galaxy’s Edge: Black spire
Da Penguin Random House, o título está em plena sintonia com a vibe do novo filme ao revelar histórias de outros personagens durante a atual trilogia. Tudo no melhor estilo “universo estendido” da Disney. A General Leia Organa, por exemplo, despacha seus agentes pela galáxia em busca de aliados depois das devastadoras perdas nas mãos da Primeira Ordem.