Projeto que surgiu a partir de um grupo de conversas, o livro Histórias de baixa visão documenta em crônicas e depoimentos a maneira de enxergar e se relacionar com o mundo de pessoas com deficiência visual
*Matéria publicada na revista Vila Cultural 165 (janeiro/2018).
Organizado pela jornalista Mariana Baierle, o livro Histórias de baixa visão (CRV) tem lançamento marcado para o dia 27 de janeiro na loja da Fradique. Em uma iniciativa admirável, o título traz relatos biográficos e crônicas de 19 autores acerca de suas experiências com a deficiência visual. De acordo com o último Censo do IBGE, trata-se de um problema que atinge 6,5 milhões de brasileiros. Desse total, há 500 mil pessoas cegas e outros seis milhões de indivíduos que têm baixa visão, ou seja, um nível de visão inferior a 30%.
A maneira como o projeto tomou forma é incomum. Em um grupo de WhatsApp, os participantes conversavam sobre as bengalas usadas por pessoas com deficiência visual e sua possível distinção a partir de cores, ou seja, bengala branca para cegos, verde para baixa visão e vermelha e branca para surdocegos. Ali, a exemplo dos melhores fóruns de discussão, os participantes começaram a compartilhar suas experiências de vida, relatos de episódios comuns e os desafios da baixa visão no dia a dia. Por que, então, não pensar em uma maneira mais abrangente de registrar e mostrar essas percepções?
Foi assim que a ideia central do livro surgiu, ou seja, com a intenção de documentar como a baixa visão implica uma maneira peculiar de enxergar e de se relacionar com o mundo, já que há uma “posição intermediária” entre a cegueira e o que é a visão chamada normal. Quem tem baixa visão costuma ter um “resíduo visual” que é imprescindível em diversas situações cotidianas. Ainda que não seja alguém que enxerga normalmente, também não é uma pessoa cega.
Adenirce Davi, André Werkhausen Boone, Ariane Kravczyk Bernardes, Fernanda Shcolnik, Franciele Brandão, Gabriel Pessoa Ribeiro, Gilberto Kemer, Grazieli Dahmer, Maicon Tadler, Manoel Negraes, Mariana Baierle, Marilena Assis, Rafael Braz, Rafael Faria Giguer, Rafael Martins dos Santos, Renato D’Ávila Moura, Teco Barbero e as professoras Fernanda Cristina Falkoski e Heniane Passos Aleixo, que trabalham com pesquisa e ensino de pessoas com deficiência, são os participantes do livro.
“De forma oportuna, no ano de aniversário de 50 anos da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (ACERGS), o livro destaca a representativa quantidade de pessoas com baixa visão (seis milhões de brasileiros), bem como estabelece-se como um marco na promoção das realidades enfrentadas por esses sujeitos que enxergam o mundo em uma perspectiva diferente, mas nem sempre são socialmente percebidos”, escreve Rafael Martins dos Santos, um dos responsáveis pela ideia de realizar e viabilizar o livro.