Vivendo e aprendendo

Já usei por um bom tempo a bicicleta para ir da minha casa, perto do Ibirapuera, até o trabalho, na Vila Madalena. Até que fui assaltado na ciclovia da Faria Lima, perto do Tomie Ohtake. Levaram a bicicleta, consegui recuperá-la, mas depois disso fiquei meio encanado para encarar o percurso.

Mesmo superando o fato, comecei a usar mais o táxi ou Uber como transporte.

Tem um lado prático inegável: às vezes até medito (ou será que durmo?), mas poucas vezes fico de papo com o motorista. Nem sempre o alto astral predomina.

Para mim, é como noticiário em rádio ou na TV. Não ouço mais há bastante tempo. Jornal, leio diariamente. Meu problema não é a informação em si, mas recebê-la de forma passiva. Ao destrinchar o jornal impresso, sou eu que “controlo” o que vou ler ou não, em qual ritmo, de que forma.

Bobagem, eu sei, mas funciona bem para mim.

Voltando à minha mobilidade urbana, li uma crônica recente do Antonio Prata na qual ele recusa carona de um amigo só para “usufruir meus pouquíssimos momentos de tranquilidade e ouvir um podcast ou algo do gênero”.

Não cheguei neste ponto ainda, porém outro dia fui surpreendido por um motorista. O “seu” Raimundo, do Maranhão, começa a falar das árvores que existem no caminho até meu destino. Nasci em São Paulo, adoro a natureza e nunca havia reparado na existência daquelas espécies, que estão lá (na Nove de Julho, na avenida Brasil, só para citar as ruas mais conhecidas) desde sempre.

O “seu” Raimundo não sabe o nome das árvores, mas faz muito bem o papel de guia, apontando aqui e ali as “raízes, o tronco, as folhas, os passarinhos nos galhos” das várias árvores do trajeto.

Não bastasse isso, meu agora amigo revela que é ligadão em arquitetura dos anos 50! Isso mesmo. E lá ia o “seu” Raimundo a mostrar os casarões de época. A grande curtição dele é imaginar como trabalhavam os pedreiros e marceneiros daqueles tempos. Verdadeiros artistas, ele define.

Fiquei triste quando a aula, quero dizer, a viagem terminou. Deu vontade de ir conhecer os “prédios antigos” na região de Higienópolis que ele ficou de mostrar na próxima vez. Espero que seja logo.

 

Boa leitura. Abraços.

Samuel Seibel.