Em Meus começos e meu fim, Nirlando Beirão relata desafios do presente contando uma história de amor
*Matéria publicada na revista Vila Cultural Edição 181 (Maio/2019)
O jornalista Nirlando Beirão lança este mês o livro Meus começos e meu fim, que sai pela Companhia das Letras. É uma prosa corajosa e pungente, sem concessões, que se dá, como diz o material de divulgação do livro, como um testemunho de fidelidade ao humor e de amor à vida. Em julho de 2016, Beirão foi diagnosticado com Esclerose Lateral e Amiotrófica (ELA) e confrontado com a gravidade da doença degenerativa. O ímpeto de registrar a rápida evolução da doença avivou no jornalista o antigo projeto de escrever a história do amor secreto de seus avós paternos. Assim, passado e presente se misturam no livro.
Nascido em Portugal, António Beirão, o avô de Nirlando, formou-se padre no Seminário de Viseu, onde teve como colega um xará de sobrenome Salazar. Beirão se mudou para o Brasil no início do século passado e se tornou pároco numa pacata cidade no interior de Minas Gerais. Encantado pela jovem Esméria de Miranda, o vigário trocou o amor divino pela paixão terrena. O casal fugiu de Oliveira, deixando para trás sua história, um segredo que pairaria como sombra sobre as futuras gerações.
Em Meus começos e meu fim, esse passado familiar se mescla aos duros desafios das vivências atuais. É como se falar de um amor proibido e corajoso pudesse impedir qualquer acesso de autocomiseração. “Os textos de Nirlando Beirão sempre estiveram entre os melhores do jornalismo brasileiro. Neste livro, ele reúne histórias do passado para confrontá-las com as adversidades enfrentadas por alguém com uma doença que impõe debilidade muscular progressiva, com graves limitações físicas. O resultado é uma reflexão profunda sobre o significado e a fragilidade da existência humana”, escreve, no livro, o médico e escritor Drauzio Varella.
Mineiro de Belo Horizonte há muito radicado em São Paulo, Nirlando tem uma trajetória brilhante no jornalismo e trabalhou nos principais veículos de comunicação do país. Redator-chefe da revista Carta Capital, publica textos essenciais para leitores interessados numa reflexão inteligente sobre questões relevantes no Brasil e no mundo.
“A educação pode reprimir ou libertar. Pode incentivar a busca da verdade ou impor um acervo de dogmas. Pode ensinar-lhe o respeito a opiniões diferentes da sua ou transformar você numa criatura autoritária e insensível. E a educação inclui o risco de forjar cidadãos e de difundir o vírus da democracia. Por isso é que no Brasil 2019 o grande vilão, depois de Lula, é Paulo Freire. A barbárie tratou de retirar o educador cosmopolita e consagrado de seu nicho pedagógico para expô-lo à execração pública como subliminar porta-voz do comunismo ateu – agora, enfim, como prometem as autoridades, em vias de extinção em terras de Pindorama”, escreveu recentemente para a revista, em texto intitulado No Brasil de 2019, o grande vilão – depois de Lula – é Paulo Freire.