Lançada em abril de 2003, Vila Cultural faz 15 anos e celebra a vocação para compartilhar ideias e informações
Responda rápido, por favor. O que aconteceu na sua vida nos últimos 15 anos? Você mudou demais ou se sente a mesma pessoa lá do começo do século? Sob o seu ponto de vista, trata-se de um intervalo curto ou de uma “eternidade”?
Pelo sim, pelo não, enquanto faz seu balanço pessoal aí, comemore conosco: a revista que você tem em mãos, edição número 168, nasceu há exatos 15 anos, e está fazendo aniversário este mês.
Em abril de 2003, Vila Cultural surgia com uma missão e um destino singular: compartilhar, mês a mês, a programação cultural, as atrações e o dia a dia da Livraria da Vila, fortalecendo, com ideias e informações, o vínculo que se estabelece quando o objeto de interesse comum, seu e nosso, é o livro, a leitura e a produção cultural em suas várias possibilidades de manifestações.
Não importa, portanto, se você acha que 15 anos é muito ou pouco tempo. De um jeito ou de outro, é o tempo de uma “vida” intensa para uma revista mensal, e isso para nós já faz toda a diferença.
Independentemente da sua idade, é importante lembrar o quanto o mundo mudou nesse começo de século. Assim, o código ancestral da escrita, que é o DNA de uma revista, se mantém firme e forte, apesar de tudo o que se deu de mais revolucionário na tecnologia recentemente. Só isso já vale a festa, você não acha?
Aos fatos. Em 2003, o Brasil ainda vivia o contentamento indescritível de chegar ao pentacampeonato de futebol na Copa do Mundo de 2002. Desde então, dezenas de milhões de brasileiros confiam que o hexa está por vir. Quem sabe chegou a hora? Dezesseis anos depois, a Rússia é logo ali. Esperemos mais um pouquinho então.
Por falar em futebol, naquele longínquo ano de 2003, um garoto franzino chamado Neymar ingressava nas categorias de base do Santos. E não é que o moleque virou um craque de um dos times mais poderosos do mundo? Em pouco tempo, não? Voilá! Nem tanto assim.
Se os sonhos rolavam soltos nos gramados do esporte, o ano era inspirador e promissor também para literatura. Foi em julho de 2003 que as ruas de pedra de Paraty receberam, para a primeira edição da Festa Literária Internacional da cidade, a ilustríssima Flip, convidados dos mais ecléticos: Eric Hobsbawm, Don DeLillo, Hanif Kureishi e Julian Barnes ao lado dos brasileiros Antonio Cicero, Luis Fernando Verissimo, Ana Maria Machado, Drauzio Varela, Chico Buarque e Gilberto Gil, na época ministro da Cultura.
A inspiração para a festa foi resultado da combinação de uma paixão da editora inglesa Liz Calder pela cidade colonial no litoral do Rio com o formato do festival literário de Hay-on-Wye, no País de Gales. Um sucesso que
fez história.
Na história dos costumes, quinze anos atrás sequer tínhamos ouvido falar de smartphones, e ter um celular Nokia 330 – que vendeu mais de 120 milhões de unidades do mundo, sem nem uma camerazinha para selfies e só com uma microtela monocromática de 84 x 84 pixels –, era a glória, pelo menos para quem ainda assistia a vida passar em TVs de tubo, acordava com o despertar de um rádio-relógio e achava moderno usar a plataforma mIRC para chats enquanto o MSN Messenger, pelo menos no Brasil, era coisa de uma “elite nerd”. WhatsApp? Como assim? Nem pensar.
Mas o tempo não para, já tinha cantado Cazuza, que vendeu tantos CDs no final do século passado. Que Spotify, Deezer e Youtube que nada! Ninguém sequer imaginava coisas assim. Aliás, vendiam-se CDs aos milhões para consagração e glória do Zeca Pagodinho, que fazia ecoar o sucesso Deixa a vida me levar. Anitta, o fenômeno pop do Brasil, que agora canta em vários idiomas, era uma menina de 10 anos, que ainda nem se chamava Anitta. Era Larissa.
O gigante Google, sem o qual já não sabemos viver, era sim uma grande promessa que se confirmou superlativa. Com perdão do Facebook, do Twitter, do Instagram e das redes sociais que mobilizaram e complicaram o panorama geral do país e do planeta, a alegria e a glória dos brasileiros dos “velhos tempos” se deu em 2004 na configuração googleana. Foi naquele ano que o turco Orkut Büyükkökten, funcionário do Google, desenvolveu uma ferramenta de relacionamento social entre usuários da internet. Lembra do sucesso do saudoso Orkut? No início, era preciso receber um convite de alguém que já fosse membro da rede para poder, só assim, participar, e o negócio virou mania nacional.
Para listar, pensar e refletir com alguma graça e muitos detalhes sobre tudo o que aconteceu nesses últimos 15 anos talvez precisássemos de mais 15 páginas, 15 edições ou quem sabe outros 15 anos, mas na vida que segue, com as melhores lembranças e com tudo o que se movimenta o tempo todo, é importante entender como, afinal, tudo começou. Samuel Seibel, que comanda a Livraria da Vila e deu forma à revista, 15 anos atrás, responde: “Sou jornalista de formação, trabalhei na grande imprensa por quase uma década e acredito sinceramente nesse canal de comunicação. A proposta da revista sempre foi a de criar e fortalecer a relação com nossos clientes-amigos, produzindo boas matérias, resenhas de livros, entrevistas e, claro, compartilhando nossa programação cultural, que faz a Vila ser um ponto de encontro, um lugar para estarmos sempre juntos”.
E qual é a grande satisfação de viver esse projeto um dia após o outro, um mês de cada vez? “Fazer esse trabalho todos os meses, há 15 anos, não é nada fácil. Exige muito fôlego, em todos os sentidos. Mas a grande satisfação é que o nosso cliente se sente mais próximo, mais participativo com a revista em mãos para acompanhar as novidades, os lançamentos e tudo que acontece na Vila. E não há como negar, todos têm interesse em conhecer melhor escritores, atores e artistas. Por isso, por exemplo, as entrevistas, entre outras novidades, são aguardadas sempre com bastante curiosidade”, diz Seibel.
Por essas e outras, parabéns e vida longa para Vila Cultural.