Aleksandro Reis retrata o vaqueiro Manuelzão, da obra de Guimarães Rosa, na loja da Fradique
Em grandes proporções, uma imagem estilizada do vaqueiro Manuelzão, o personagem da obra de Guimarães Rosa, acaba de ocupar lugar de destaque logo na entrada da loja da Fradique. O narrador-protagonista de Rosa é obra do artista paulista Aleksandro Reis, que escolheu traduzir em cores e formas o apreço mais sincero que tem pelo que chama de “identidade profunda do Brasil”.
Não por acaso, Reis orgulha-se, por exemplo, de dizer que qualquer cidadão brasileiro reconheceria imediatamente a assinatura, o estilo de um conterrâneo na representação que ele fez do cantor italiano Luciano Pavarotti, fundador do Pavarotti Music Centre, quando o artista brasileiro participou do Street Arts Festival Mostar, evento anual de arte urbana na Bósnia. “Mostar é a cidade onde Pavarotti fez concertos em prol das crianças órfãs, vítimas da guerra. Eu escolhi pintá-lo depois que conheci o lugar e sua história. Eu já trazia na memória o período em que Pavarotti fazia shows beneficentes com o U2, mas jamais imaginei que seria ali, na mesma cidade onde realizei o trabalho”, diz Aleksandro.
Independentemente do tema, do cenário ou do personagem retratado, a assinatura de Reis está sempre associada à intensidade das cores, à vibração cromática da chita, tecido de algodão com estampas forais tipicamente brasileiro, e a uma musicalidade que o artista tenta imprimir em cada novo projeto. “Tenho os pés fincados nas nossas raízes”, diz o Aleksandro, que costuma trabalhar simultaneamente em diferentes projetos.
Nos intervalos da produção do Manuelzão da Vila, ideia que ele teve a iniciativa de apresentar à livraria, Reis seguia imerso em outro desafio pictórico-literário com uma representação de Capitães de areia, o romance de Jorge Amado, em um painel em São Caetano Sul, na grande São Paulo. Na cidade, onde vive desde os anos de 1990, Reis já teve a oportunidade de criar obras que confirmam a brasilidade como fio condutor de seu vocabulário artístico, além de imprimir, com uma variedade de pinturas, sua marca registrada no cenário urbano. O acervo que produziu a céu aberto em São Caetano inclui mais de duas dezenas de pinturas em edifícios comerciais e prédios públicos.
Fã de Chico Buarque e leitor de Mia Couto, Reis já ilustrou, da obra de Chico, canções como Meu guri e Brejo da cruz. Na pintura, ele diz que admira as cores de Matisse e se encanta com o trabalho de Beatriz Milhazes, uma das artistas brasileiras mais prestigiadas e valorizadas no circuito artístico internacional. “Ainda somos um país carente de produção cultural”, diz Aleksandro, que, criança ainda, na escola, já tinha o hábito de ficar desenhando intermitentemente.
Em tempo: visite a loja da Fradique para ver o retrato de Manuelzão, que Reis estava concluindo enquanto fechávamos esta edição de Vila Cultural.