Mãe-solo sim, e daí?

A apresentadora Mariana Kupfer compartilha em livro a decisão e as experiências da “maternidade independente”

Mariana Kupfer e a filha Victoria. Foto Rachel Guedes/Divulgação

*Entrevista publicada na revista Vila Cultural Edição 181 (Maio/2019)

Apresentadora do programa e do projeto Amar Maternidade e Amor, disponível na web, Mariana Kupfer autografa dia 8 de maio, na loja do Shopping JK Iguatemi, o livro Eu, mãe e pai – A maternidade independente como escolha (Manole), em que compartilha a experiência indicada no título. Mãe de Victoria, que tem 9 anos, Mariana defende que “ninguém deve desistir do sonho de ter um filho”.

No livro, a partir de sua história pessoal, ela define um “guia de conduta” com todas as informações de processos, valores e questões emocionais que fazem parte da decisão do que chama de “maternidade independente”. O médico Paulo Serafini, especialista em reprodução humana, assina o conteúdo técnico do livro.

Respeitadas as questões individuais e a eventual condição de cada um – mãe-solo, pai-solo, héteros ou homoafetivos, como ela cita –, a defesa de Mariana é de que todos têm o direito de escolher ser mãe ou pai, independentemente de parcerias ou acasalamento.

“O desejo de procriar tem que ser maior do que a preocupação com o que os outros vão pensar. E tem que ser maior do que o sonho da vinda de um ‘príncipe encantado’. Filho é para sempre. Ouvi frases do tipo: ‘Você é tão bonita, tão jovem, por que não espera aparecer alguém?’ Esses comentários nunca fizeram sentido pra mim. Afinal, ser mãe não é um estado civil. E, cá entre nós, não é pequeno o número de mulheres que criam os filhos sem a presença paterna”, escreve Mariana.

Mais do que uma história de vida, o livro aborda temas como modelos familiares, adoção e apresenta dados estatísticos, detalhes técnicos e fundamentações feitas por especialistas. Leia a entrevista que Mariana concedeu à Vila Cultural.

Vila Cultural. Como surgiu a possibilidade de realizar o livro, quanto tempo se dedicou ao projeto e o qual maior contentamento ao vê-lo pronto?
Mariana Kupfer. Desde que tive a minha filha Victoria em “performance-solo”, eu comecei a me apaixonar cada vez mais pelo universo da maternidade. Em 2015, comecei a apresentar o Amar Maternidade e Amor e fiquei cada vez mais interessada pelo tema. Nesse percurso, fiquei com muita vontade de dividir a minha experiência com mães, pais e com as tentantes. Da primeira reunião até o livro ficar pronto, foi cerca de um ano. Estou muito feliz, é mais um filho nascendo e um projeto realizado.

VC. Quando entendeu que queria ser mãe e como define instinto maternal?
MK. Desde pequena já entendia que eu queria ser mãe. Desejo latente e legítimo desde sempre. Instinto maternal é ser aquela pessoa que está sempre disposta a ajudar e cuidar dos outros e ter sempre algo afetuoso a oferecer ao próximo.

VC. Em que contexto começou a pensar ou a viabilizar o projeto de “uma produção independente”?
MK. Quando passei dos 30, pensava: “Vou fazer acontecer, não importa de que maneira, desde que seja honesta e verdadeira comigo, com um eventual parceiro e com a minha filha (o)”. Quando fiz 34 anos, me bateu um estalo muito forte, algo espiritual mesmo, e pensei: “É agora”. Essas coisas não se explicam muito, se sentem. Procurei um médico, o doutor Marcelo Zugaib, que me encaminhou ao doutor Paulo Serafini que, para mim, é a maior sumidade em reprodução assistida do país.

VC. Que tipo de resistência, preconceito ou julgamento precisou enfrentar para viver essa experiência?
MK. Todas. Julgamentos, preconceito e outras reações sempre haverá, em qualquer situação que fuja dos padrões ditos convencionais. Sempre digo para as mulheres que me escrevem e já disse isso em algumas entrevistas: “Seu sonho tem que ser maior que tudo”. Chega um momento em que precisamos escolher entre ser feliz e realizar o que desejamos ou agradar aos outros. Eu optei por seguir meu sonho e nunca fui tão feliz e realizada desde que me tornei mãe.

VC. Qual é, na sua opinião, o principal propósito e o maior desafio ao encarar a jornada da maternidade sozinha?
MK. Meu principal propósito sempre foi deixar um bom legado para Victoria. Ter esse privilégio de educar, criar e conviver com um ser humano, fruto do meu desejo e perseverança, é maravilhoso. Vê-la crescendo, se desenvolvendo tão bem, com saúde, alegria e amor enche meu coração de satisfação. Desafios são inúmeros. Desde educar sozinha mesmo, ser a mãe legal versus a mãe chata, que impõe limites e cobra que a lição seja feita, que ela durma cedo, escove os dentes, e por aí vai. Diria que passei sustos grandes em duas ou três ocasiões em que corri para o Pronto-Socorro, mais perrengues em alguns países com esse tipo de situação. Saber lidar com as adversidades foi me deixando cada vez mais forte
e preparada pro que viesse pela frente.

VC. Do ponto de vista psíquico e/ou emocional, como acha que sua filha lida com a ideia que está no título do livro, de que você é “mãe e pai”?
MK. Victoria é uma criança de luz. Veio pra esse mundo cheia de força e personalidade. Ela é extremamente bem resolvida com a nossa história. Conversamos muito. Claro que não é um mar de rosas, mas eu procuro não pensar muito e ficar quebrando a cabeça, sabe? Vou atravessando as pontes conforme elas aparecem no caminho. E olha que tem dado certo até aqui!

VC. O que você mais tem aprendido com Victoria nos últimos anos?
MK. Tudo. Principalmente a ser uma pessoa melhor a cada dia. Fiquei mais emotiva, mas também muito mais resiliente. Quando eu achei que ia ensinar a vida e o amor pra ela, ela veio e me ensinou tudo que eu não sabia.

VC. Você pretende ter outros filhos?
MK. Penso nisso diariamente, até porque já não sou mais tão garota. Adoraria ter mais um, sou a caçula de três irmãs e acho muito bom ter alguém para dividir, compartilhar experiências.

VC. Diz-se que um livro é como um filho. Você concorda? 
MK. Concordo 1000%. Estou vivendo todos os processos, sabe? Gestando mesmo. Curti e vibrei com cada etapa, e não vejo a hora de curtir o “nascimento”.

VC. Em que outros projetos trabalha atualmente?
MK. Sigo apresentando o Amar Maternidade e Amor, em que entrevisto mães e pais que tenham alguma história relevante para contar. Casos médicos, superação, não importa. Enfim, é um trabalho muito lindo, com o qual já entrevistamos mais de 200 pessoas. Tenho muita satisfação nesse projeto. A passos de formiguinha, acredito que temos ajudado muitas mães.

 

LANÇAMENTO
Livro: Eu, mãe e pai – A maternidade independente como escolha (Manole), de Mariana Kupfer
Loja: Shopping JK Iguatemi
Quando: dia 8 de maio, a partir das 18h30