Caminhos poéticos

Com dois volumes, a artista plástica Calu Fontes publica livro para marcar vinte anos de carreira

 

*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 191 (Março/2020)

 

Fotos Divulgação

A artista plástica Calu Fontes celebra vinte anos de carreira em grande estilo com o lançamento, no dia 25 de março, na loja da Fradique, do livro, ou melhor, dos dois volumes – o livro 1 e o livro 2 – que têm seu nome como título e que saem pela WMF Martins Fontes.

“Foi um processo de revisitação, uma viagem de descobrimento, e incorporei tudo que estava nesse percurso. Os dois volumes são uma narrativa criada a partir do meu olhar para o passado e de um desejo de me abrir para o novo”, declara Calu, que é filha de Iemanjá e Oxum, as senhoras das águas do candomblé, e ficou conhecida ao estampar objetos usando a cor azul, entre sereias, anêmonas e peixes. Com atelier na Vila Madalena, Calu é personagem das mais prestigiadas no famoso bairro paulistano.

Os recortes de um diário ilustrado na adolescência compõem o primeiro volume do projeto. São lembranças, segundo Calu, que remetem à essência, ao início, ao nanquim, e reforçam a representação das letras e dos grafismos agregados não somente pelo significado poético, mas também pela construção estética da palavra como elemento gráfico, ela explica.

Por isso, diz a artista, o livro 1 resgata o desenho genuíno e também destaca outras diversas camadas presentes em seus trabalhos. Em busca da liberdade de formas, Calu explora a textura da argila e encontra um novo jeito de se comunicar pela cerâmica. As peças que quebraram, racharam ou apresentaram alguma “imperfeição” durante a produção não foram descartadas. Os experimentos resultaram em uma série inédita de itens orgânicos, compostos por linhas mais finas e irregulares. Surgiram nesse contexto, inclusive, as obras sem ilustrações, uma de suas marcas registradas.

“Cada peça é única, porque feita só por ela, e toca a gente de algum jeito. Afinal o coração da matéria é a sua própria biografia. Ela faz da memória afetiva seu playground. Nos trabalhos mais recentes, Calu amassa o barro, modela, cria formas orgânicas, irregulares, com ramificações. Vai buscar no próprio material de trabalho a sua melhor forma de expressão. Não importa mais a função, agora não é mais jarro nem prato, a peça é quase uma escultura”, afirma a jornalista Cristina Ramalho, que assina o texto do livro.

Um processo ainda mais inconsciente e experimental é visto no livro 2. Calu comprou papéis, os cortou, usou carimbo, papel milimetrado (herdado da arquitetura), aquarela e nanquim, em um movimento de volta ao passado, mas que agregou descobertas. No segundo volume, as ilustrações dão lugar à colagem. São poesias em formas, cores e elevações colocadas sobre as folhas. As facas utilizadas permitem que os desenhos vazem para a outra página e construam sobreposições que surpreendem o espectador, instigando-o a se perguntar sobre o que vem
pela frente.

Elementos que inspiram a produção de Calu também foram captados pelas lentes de Ding Musa, que assina as fotos do livro. Há fotografias do mar, de plantas e de simbologias impressas nas páginas, complementando a narrativa de uma trajetória tão especial. Luciana Farias e Baba Vacaro assinam a coordenação editorial do projeto, que tem design da Bloco Gráfico e patrocínio da Tok&Stok.

 

LANÇAMENTO
Livro: Calu Fontes (WMF Martins Fontes), de Calu Fontes
Loja: Fradique
Quando: dia 25 de março, às 19h