O começo do fim

O ano de 2019 é estratégico para o desfecho das sagas que mudaram a história do entretenimento pop

*Matéria publicada na revista Vila Cultural Edição 181 (Maio/2019)

A Millenium Falcon em cena de Star Wars: A ascensão Skywalker (The Rise Skywalker), que estreia em dezembro e encerra a saga. / Foto Copyright: (c) 2019 ILM and Lucasfilm Ltd. All Rights Reserved/Divulgação

A estreia de Os Vingadores: Ultimato, dirigido pelos irmãos Anthony e Joe Russo, e toda a movimentação em torno do “epílogo” no longo conflito entre os super-heróis da Marvel e o vilão Thanos começou a materializar o que já se antevia no mundo geek há algum tempo: 2019 definitivamente é ano de conclusões para sagas que são o próprio fundamento, a graça e a glória no circuito do entretenimento e da produção cultural pop que mobiliza mais e mais atenções e fãs ao redor do mundo. E maio, bom lembrar, é um mês estratégico nessa trama toda.

Ainda que não seja um fenômeno recente, a força épica das histórias que recriam uma “realidade irreal” fascinante, entre a fantasia e distopia, parece invencível na era da comunicação online, com as redes sociais e a vida digital movimentando milhões de dólares, interesses e especulações virtuais.

Veja-se, sob outra perspectiva temática, o caso da série The Big Bang Theory – ou apenas TBBT para seus fiéis seguidores. Em exibição desde 2007, com Globo de Ouro e Emmy no currículo, a história cheia de humor ácido e inteligente que junta cientistas com jeitão nerd terá, doze anos depois da estreia, seu último episódio exibido no dia 16 de maio pela rede americana CBS, que ostenta históricos de liderança de audiência com a produção. Preço estimado do anúncio, segundo a imprensa norte-americana: US$ 1,5 milhão (ou R$ 5,5 milhões) por um intervalo comercial de 30 segundos durante a exibição do capítulo final.

Outro sucesso global fenomenal (da rede HBO), Game of Thrones também tem dominado o noticiário desde o anúncio da oitava como a última temporada da série. Ou seja: outro começo do fim neste 2019. Entre reviravoltas, batalhas memoráveis e mortes surpreendentes, a repercussão da produção inspirada nos livros que George R. R. Martin começou a escrever na década de 1990 é tão potente que é considerada hoje como fechamento de um ciclo no mercado do entretenimento audiovisual, já que seria GoT que teria deixado para trás, especula-se, o vasto e longo alcance TV paga, para hegemonia (definitiva?) do streaming, a transmissão instantânea de dados de áudio e vídeo via redes.

Pelo sim, pelo não, Star Wars, a mais longeva das tramas intergalácticas – que já dura bons 40 anos –, com a saga de Skywalker, também “termina” este ano com o filme que é Episódio IX, confirmado para estrear em 19 de dezembro. Tudo, entre idas e vindas, depois de uma suposta “decepção”, já que Os últimos Jedi, o filme mais recente, parece não ter contemplado totalmente as expectativas dos fãs mais exigentes. Gostem ou não, sobram motivos para entender que, entre começos e fins, é vida geek que segue. Inclusive pela efeméride, celebrada por uns, abominada por outros, que indica o 25 de maio como o dia de certo Orgulho Nerd, em data originalmente criada como Dia da Toalha, na citação da obra O guia do mochileiro das galáxias, que Douglas Adams publicou nos fim dos anos de 1970, muito antes do domínio absoluto da cultura pop que se espalhou pelo mundo no novo milênio.

 

Fenômenos de época

Para entender minimamente o sucesso, a repercussão e o domínio de Vingadores, Star Wars, GoT e TBBT

Vingadores: Ultimato
Foi bom enquanto durou, mas agora que todo mundo já sabe o desfecho (sem spoilers aqui, claro), valem as melhores lembranças recentes. No começo de abril, antes mesmo de estrear, o filme tinha, no Brasil, mais de 900 sessões esgotadas só com a pré-venda dos ingressos. A fidelidade e o interesse do público são fenomenais: o lançamento de um trailer oficial do filme foi o primeiro vídeo na história do YouTube a atingir mais de um milhão de curtidas em menos de quatro horas. E chegou à marca de 289 milhões de visualizações em suas primeiras 24 horas, quebrando o recorde anterior, que era do primeiro trailer de Guerra infinita.

 

The Big Bang Theory
Para os fãs da série, que não raro se reconhecem em personagens pouco ligados a traquejo social e mais interessados em conhecimento, hora de desapegar de mais de uma década de ficção e diversão porque o TBBT acaba oficialmente dia 16, com uma memória recordista. Série mais vista nos Estados Unidos em 2016, ficou em segundo lugar no mesmo ranking no ano passado e fecha seu ciclo como sitcom com o maior número de episódios, 276 exatamente. Entre outras, fez de Jim Parsons o ator mais bem pago da TV americana, tamanha a competência com que ele dá vida ao personagem Sheldon Cooper, cuja maior ambição é ganhar o Prêmio Nobel de Física.

 

Game of Thrones
A supremacia atual no noticiário do showbiz é tamanha que já há quem publique, nas redes sociais, a seguinte identificação: “faço parte do 1% da população mundial que nunca assistiu a um episódio de Game of Thrones”. Enquanto isso… os outros 99% se divertem e se envolvem intensamente com a trama que tem ares de literatura medieval fantástica e é inspirada da obra de George R.R. Martin. Com extensos dossiês sobre o roteiro, os personagens, os “escritos originais”, a música e a riqueza de detalhes, há incontáveis sites e blogs especializados na “cobertura” da longa história, que será finalizada em 2019. Tudo depois de sete temporadas de tremendo sucesso, com capítulos semanais, subversões narrativas, figurinos espetaculares, intrigas de toda ordem, sexo, violência e dragões, obviamente, que animam qualquer jogo de poder.

 

Star Wars
São quatro décadas desde a ousadia original do diretor George Lucas nos fantasiosos anos de 1970 – e que rendeu duas trilogias sob o comando do cineasta. A audiência, assumidamente passional, é tamanha que Star Wars virou franquia e se multiplica em jogos, livros e produtos de naturezas diversas. No cinema, a grande expectativa atual envolve Star Wars: A ascensão Skywalker, o terceiro filme da trilogia já sob domínios Disney. Encerra-se um ciclo, mas nem tudo está perdido já que os nomes de Rian Johnson (Os últimos Jedi) e dos criadores de Game of Thrones, David Benioff e D.B. Weiss, são citados potencialmente como forças criativas para pensar “o futuro” da franquia na próxima década. E quem foi que disse, afinal, que boas histórias precisam de um fim?