Toca o barco

Livro traz histórias e bastidores de 32 colegas que trabalharam e conviveram com Ricardo Boechat

*Matéria publicada na revista Vila Cultural Edição 182 (Junho/2019)

O jornalista Ricardo Boechat. Foto Bruno Miranda/Divulgação

Toca o barco! – Histórias de Ricardo Boechat, com textos de diversos autores, ganha noite de lançamento a partir das 18h30 do dia 10 de junho na loja da Fradique. O título sai pela Máquina de Livros e reúne 32 nomes, como os de José Simão, Ancelmo Góis, Datena, Leilane Neubarth, Fernando Mitre, Tatiana Vasconcellos, Joaquim Ferreira dos Santos, Milton Neves, Angela de Rego Monteiro, Luiz Megale, Aluizio Maranhão, Rodolfo Schneider, entre outros bastante conhecidos na imprensa brasileira. Eles aceitaram o convite para contar histórias de bastidores que viveram como colegas de trabalho de Ricardo Boechat, morto tragicamente em fevereiro deste ano.

Dos mais brilhantes jornalistas do país, Boechat construiu uma legião de admiradores ao longo de cinco décadas de atuação em jornais, na TV e, principalmente, no rádio. Sua morte prematura encerrou uma carreira pautada por indignação, credibilidade e paixão, em que não havia distinção entre ricos e humildes, poderosos e anônimos.

“A editora propõe levar para o livro assuntos e personagens que em outros tempos eram frequentes em jornais e revistas: temas de grande interesse popular, que mereciam séries de reportagens. O Boechat é um dos maiores nomes da história da imprensa brasileira e a comoção que se deu após sua morte mostrou isso. É um personagem riquíssimo, que pautou sua vida pela indignação e paixão por tudo que fazia. E enxergamos que caberia um livro sobre ele”, diz Luiz André Alzer, da Máquina de Livros.

“Uma biografia (que futuramente merece ser feita) exigiria muito tempo. Queríamos um livro que traduzisse essa urgência do jornalismo que tanto caracterizou o Boechat. E começamos então a listar nomes que cruzaram com ele ao longo de seus 50 anos de profissão. Conforme íamos convidando os jornalistas, a lista ia crescendo espontaneamente, com uns lembrando de outros. Não é uma relação completa ou definitiva. Mas temos no livro um painel que cobre toda a trajetória de Boechat em cada momento. Lendo todas as histórias, mais o perfil que abre o livro, o leitor vai conhecer a fundo não só o personagem Boechat, mas as sutilezas da sua personalidade”, afirma Alzer.

Toca o barco! inclui charges de Chico Caruso, Aroeira, Cláudio Duarte e André Hippertt, com quem o jornalista cruzou nas redações de jornais. O perfil citado por Alzer cobre toda a trajetória de Boechat, do primeiro emprego no Diário de Notícias, em 1969, até a Band. “O maior legado de Boechat é ter entendido, desde muito jovem, que estava a serviço do leitor, do telespectador, do ouvinte ou do internauta. Que eles eram o seu real patrão. A sua coragem, que se desdobrava em inconformismo, na capacidade de duvidar, de criticar e de jamais comprar uma versão sem checar, foi sempre colocada a serviço de sua audiência. Somados, esses atributos são a base do grande repórter que ele foi. E que tanto contribui para a vida de um sem-número de pessoas”, diz o editor Bruno Thys que dirige, com Alzer, a Máquina de Livros. A editora estreou no ano passado e, entre outros, publicou A farra dos guardanapos, do jornalista Silvio Barsetti, cujos direitos foram vendidos para o cinema.

Alzer diz que a pauta era livre em Toca o barco!, e que cada jornalista convidado abordou uma faceta diferente de Boechat. “Uns optaram por focar na sua vida profissional, outros preferiram lembrar histórias pessoais. O que se destaca nos textos, além de sua apuradíssima veia jornalística, são as características fortes dele: ele era extremamente exigente, mas justo e leal; esbanjava generosidade com amigos e desconhecidos, o que só quem convivia de perto sabia; e equilibrava um incrível bom humor com um lado ranzinza que cativava todo mundo”, afirma Alzer.

Sobre a relevância de evidenciar, em momento de plena revolução da comunicação digital, os valores e os personagens identificados com o melhor “jornalismo-raiz” brasileiro, Bruno Thys diz que “embora ninguém saiba direito o que há no fim do túnel, no chamado futuro, entendemos que o humano estará lá do outro lado, em toda a sua essência”. “E são os recortes dessa essência que buscamos documentar através de histórias reais, do presente ou do passado. Ainda hoje, por exemplo, meio milênio depois, Leonardo da Vinci continua a nos revelar novidades”.

Ao comentar o que aprendeu depois de editar o livro, Thys diz o seguinte: “São inúmeras as lições. O livro traz dezenas delas, segundo o olhar de cada jornalista que participou. A mais surpreendente, sem dúvida, é a sua permanente evolução e, para usar um termo da moda, a reinvenção no capítulo final da vida. Boechat era um nativo de coluna de jornal, um dos maiores e melhores caçadores de notícia da história da imprensa, tinha tinta na veia, e foi se tornar ‘o cara’ do rádio no Brasil. Isso aconteceu porque, como diz no livro a Leilane Neubarth, ele era um animal da comunicação: aliou a uma sólida formação cultural curiosidade infinita, paixão pelo que fazia, muita experiência e nenhuma vaidade. Ele descobriu que podia levar tudo isso para o rádio e se apresentar com todas as suas imperfeições, sem disfarce, colocando-se assim, no mesmo patamar de sua audiência.”

 

 

 

LANÇAMENTO
Livro: Toca o barco! – Histórias de Ricardo Boechat (Máquina de Livros), de vários autores
Loja: Fradique
Quando: dia 10 de junho a partir das 18h30