Traço precursor

Três livros do artista suíço Rodolphe Töpffer remontam a descoberta das HQs como uma nova linguagem

O trabalho do artista suíço Rodolphe Töpffer (1799-1846) e o caráter precursor de sua obra prometem dar o tom da conversa que junta, no dia 17 de janeiro, na loja da Fradique, a ilustradora e cartunista Luli Pena, autora de Sem dó (Todavia), e o escritor e historiador André Caramuru Aubert, responsável pela organização de três livros de Töpffer lançados pela Sesi-SP Editora. Para os fãs das histórias em quadrinhos e das artes visuais, o encontro e os livros são imperdíveis.
Filho de um pintor de estilo clássico, Rodolphe Töpffer nasceu e morreu em Genebra, estudou artes em Paris e, além de pintar como o pai, escrevia e desenhava caricaturas. Töpffer trabalhou com educação infantil antes de atuar como professor de literatura na Universidade de Genebra. A história com os desenhos começou meio intuitivamente. Ele desenhava caricaturas e historinhas para presentear os amigos e, na medida em que entendeu o sucesso que fazia nesse circuito, começou a elaborar álbuns e histórias mais completos. Até que um belo dia, também no vaievém entre conhecidos, um dos álbuns caiu nas mãos e nas graças do escritor, dramaturgo e filósofo alemão Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832), o ilustre intelectual de seu tempo.
Monsieur Jabot, considerada, segundo André Caramuru Aubert, a primeira história em quadrinhos publicada no mundo, Monsieur Trictrac e História de Monsieur Cryptogame são os três livros de Rodolphe Töpffer publicados pela Sesi-SP Editora. Foi justamente Monsieur Jabot que ganhou a admiração de Goethe, para quem a pena espirituosa de Töpffer retratara “do modo mais singular esse indivíduo impossível, como se fosse verdadeiro”.
Na apresentação detalhada que faz do livro, Caramuru relata toda a história do aparecimento dos volumes em suas mãos e justifica a denominação de Töpffer como o criador da primeira HQ, inclusive porque, entre outros pontos, era diferente de tudo o que já havia sido feito até então. Constam ainda excertos das cartas de Goethe com comentários sobre os álbuns que recebeu de Töpffer. As palavras elogiosas do poeta foram propulsoras para que ele decidisse publicar seus trabalhos e prosseguisse para a impressão em larga escala. “O que Töpffer criou foi algo, de fato, inédito. As suas histórias, como muitos dos quadrinhos atuais, se parecem com storyboards de filmes. Ou seja, o que ele estava criando era de fato uma nova linguagem, na qual a imagem se punha em movimento e se integrava perfeitamente ao texto, sem que um fosse mais importante do que o outro. E Töpffer sabia o que estava fazendo, com plena consciência do ineditismo de seu trabalho. Tanto que teve muito cuidado antes de publicar, fazendo-o apenas anos depois de ter desenhado o primeiro álbum, e somente quando se sentiu suficientemente endossado”,
escreve Caramuru.
Já em Monsieur Trictrac, o fio condutor da narrativa é a troca de papéis. O protagonista, o ladrão, o chefe de polícia e o boticário vão o tempo todo mudando de roupa e sendo confundidos uns com os outros. Partindo da vontade do protagonista de descobrir a nascente do rio Nilo – uma das maiores obsessões na Europa do século 19 –, Töpffer faz piada com as autoridades, a burocracia, as leis e, especialmente, a medicina.
Monsieur Cryptogame, explica Caramuru, foi uma das primeiras histórias a ser desenhada por Töpffer, ainda que só tenha vindo a público em 1844. Mas esta HQ ainda carrega outra marca de pioneirismo: quando o jornal L’Illustration surgiu em Paris, em 1843, inaugurando a imprensa ilustrada na França, Cryptogame foi a história em quadrinhos escolhida para aparecer em suas páginas, de maneira serializada. “Assim, se as tirinhas nos jornais têm uma história, ela começa bem aqui”, explica Caramuru.

 

ENCONTRO
O que é: Conversa da ilustradora e cartunista Luli Pena com o escritor e historiador André Caramuru
Aubert para o lançamento dos livros de Rodolphe Töpffer publicados pela Sesi-SP.
Loja: Fradique
Quando: dia 17 de janeiro às 18h30