Em Poesia com rapadura, Bráulio Bessa mantém a vocação popular, cativante e singela da rima
Poeta, pensador e legítimo ativista da cultura nordestina, que ele divulga e compartilha não importam os canais necessários para que isso aconteça, Bráulio Bessa construiu sua trajetória em versos, palavra por palavra. Depois de juntar a tradição da poesia oral e do cordel com os espaços digitais de comunicação, ganhou visibilidade, prestígio e popularidade na TV aberta por causa do apreço da jornalista Fátima Bernardes, que, sensível ao trabalho do escritor, há cinco anos o convoca semanalmente para apresentar uma “pausa poética” no timing sempre acelerado da televisão.
Natural de Alto Santo, no interior do Ceará, já na adolescência Bráulio rascunhava seus primeiros poemas, fascinado com a obra de Patativa do Assaré, um clássico da produção cultural do Nordeste do país. Em Poesia com rapadura (CeNE), livro que lançou no ano passado, apresenta uma compilação de poemas já conhecidos publicamente e outros, inéditos, que ele traz “guardados no coração”. No trabalho de Bráulio, há uma sucessão de afetos que evidenciam o Nordeste, o amor, a fé e “tudo que há de belo na vida”. “Uma rima de sentimentos e pensamentos de um fazedor de poesias”, como ele diz.
Sobre a importância de eliminar qualquer tipo de preconceito quando o assunto é o amor, por exemplo, Bráulio já escreveu o seguinte: “O importante é amar/Sem rédeas, e sem censura/Mesmo que a sociedade/Às vezes seja tão dura/Amar é sentir coragem/Sem fingir, sem camuflagem /Sem medo de ser julgado/Pois quem julga um amor/Não é juiz, não sinhô,/É no fundo um mal-amado.” Com seu jeito singelo e disponível para perceber o cotidiano de maneira poética sem deixar de estar sempre todo prosa, Bráulio pode falar de uma viagem a Nova York ou descrever o amor de uma forma tão simples quanto cativante: “Amar é ser consciente/da nossa própria loucura,/é quando a gente se junta/formando uma só mistura, /de igualdade e diferença. /Se o amor fosse doença/seria dessas sem cura”. Que seja.