A princesa Leia

*Matéria publicada na revista Vila Cultural edição 188 (Dezembro/2019)

 

Ícone pop desde Star Wars, a atriz Carrie Fisher também foi autora e roteirista brilhante

 

A morte precoce, aos 60 anos, da atriz, escritora e roteirista americana Carrie Fisher, em dezembro de 2016, foi lamentada e

Ilustração Jonas Ribeiro Alves

comentada mundialmente, como sempre acontece nas perdas de grandes nomes das artes e do showbizz, mas tocou especialmente o coração dos fãs de Star Wars, um dos trabalhos mais marcantes de Fisher. Em algum momento em que ficção e realidade se misturaram, ela personificou com tanta propriedade a Princesa Leia da trama que, ao longo do desenvolvimento da saga, a personagem foi se transformando e ganhando espaço e relevância tamanho o carinho dos fãs.

Foi uma relação visceral, intensa e recíproca, inclusive porque Carrie nunca escondeu a variedade de experiências pessoais que a presença no elenco de Star Wars possibilitou. No livro Memórias da princesa – Os diários de Carrie Fisher (BestSeller), publicado no final 2016, a atriz traz a público lembranças íntimas, às vezes hilárias, do que acontecia nos bastidores do primeiro filme da saga e de toda a repercussão do projeto. “Passando de carro pelo Wilshire Boulevard, em Los Angeles, o cinema Avco tinha o que parecia a fila mais longa que já tinha visto até agora. (…) Então, eu me levantei no banco do carro, e não apenas estiquei a cabeça, mas subi metade do corpo pelo teto solar e gritei: ‘Ei, eu estou nisso! Eu sou a princesa’. Isso certamente causou algum interesse, desde a desdenhosa variedade ‘que imbecil’ até a ofegante ‘você acha que é realmente ela?’ ‘Eu estou nisso!’, repeti para aqueles que não tinham me ouvido pela primeira vez. Então, de repente, percebendo o que eu tinha feito e rapidamente temendo que alguns desses espectadores pudessem me identificar, disse a minha amiga que estava no volante: ‘Rápido! Dirija’. Ela pisou no acelerador e nos afastamos dali”, ela escreve, deixando claro que se divertiu com o sucesso.

Antes de fazer fama como atriz e escritora ou se transformar em ícone da cultura pop a partir de 1977, quando estreou em Star Wars, Carrie já era uma adolescente carismática e talentosa, com vocação precocemente reconhecida para a atuação. Ela sempre esteve cercada por artistas. Filha do cantor Eddie Fisher e da atriz Debbie Reynolds, estudou na Royal School of Speech and Drama em Londres e estreou no cinema logo na sequência, em 1975, com a comédia Shampoo. Era só uma prévia do estrelato instantâneo que viria dois anos depois ao aparecer em Guerra nas Estrelas, contracenando com Harrison Ford, com quem teve um affair, segundo revelou no livro Memórias da princesa.

Depois de aparecer no episódio O império contra-ataca, Carrie atuou no filme Os irmãos cara de pau, ao lado de John Belushi, antes de brilhar, já em 1983, em O retorno de Jedi, o terceiro filme Star Wars. Em Belushi, além de um ótimo colega de trabalho também encontrou um companheiro de vícios, já que nessa época Carrie começou a ter problemas com drogas.

Estrela de Hollywood, a atriz teve um casamento relâmpago de alguns meses com o cantor Paul Simon. Trabalhou com Woody Allen em Hannah e suas irmãs, um clássico dos anos de 1980, e começou a publicar livros. O primeiro foi
Postcards from the edge, uma mistura de biografia e “fantasia” em que não economiza tiradas autoirônicas para se divertir com sua trajetória pessoal. Ela nunca foi de se levar muito a sério. O livro virou filme, Lembranças de Hollywood, e revelou uma nova habilidade brilhante de Carrie Fisher, que estreou como roteirista. A partir daí, começou a trabalhar como roteirista convidada por diretores como George Lucas.

Em 2015, rebatizada como General Leia, a atriz se destacou no retorno de Star Wars aos cinemas. Amigo de Carrie, o diretor e roteirista J.J. Abrams falou recentemente à revista americana Vanity Fair sobre a relação dos dois e de como Carrie Fisher fez falta para o capítulo final da saga, que estreia no dia 19 deste mês (leia o texto aqui). A boa notícia, segundo o irmão da atriz, Todd Fisher, é que a participação de Carrie no filme está garantida por causa de alguns minutos com cenas inéditas que acabaram não sendo aproveitadas na edição final de O despertar da força e Os últimos Jedi, gravadas pelo próprio Abrams e por seu sucessor Rian Johnson.