Convidada do Navegar é Preciso, Mônica Salmaso lança DVD Corpo de baile, um de seus projetos mais ambiciosos
A cantora Mônica Salmaso acaba de lançar Corpo de baile (Selo Sesc), DVD dirigido pelo fotógrafo e cineasta Walter Carvalho a partir do show baseado no CD homônimo. Depois de uma turnê memorável de norte a sul do País entre 2015 e 2016, Mônica viu o espetáculo ser citado como um dos melhores shows de música brasileira em tempos recentes e a versão audiovisual do projeto, como ela revela em entrevista exclusiva à Vila Cultural, nasceu de um jeito despretensioso. Mônica e os músicos tinham a curiosidade de ver, como espectadores, sob a perspectiva da plateia, o que acontecia no palco. Tão primoroso quanto o CD e o show, o novo DVD, que foi gravado na apresentação do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, consagra e eterniza um dos trabalhos mais ambiciosos da cantora paulistana cuja carreira foi construída de maneira singular e admirável ao longo de duas décadas.
“É um DVD de música para quem está assistindo. Não é um show filmado que deixa o espectador frustrado por não ter estado na plateia. Há, na filmagem e na edição, pontos de vista e criações que não foram vistos pelo público do show. Ao mesmo tempo, é um resultado que indica o que foram estes shows. Quando combinamos de captar, o Waltinho me disse: ‘O olho humano e a lente da câmera entendem de forma diferente a sobreposição de vocês no palco, com o tule com projeções na frente, então não sabemos ainda o que vamos fazer, mas vamos fazer uma coisa bem legal’. Era tudo o que eu queria ouvir. Ele é um grande artista. Um poeta. Um criador de beleza”, diz Mônica sobre o trabalho do diretor, que é o responsável, no show, pela composição cênica com as projeções e o tule que ela cita.
Em Corpo de baile, Mônica interpreta músicas de Guinga e Paulo César Pinheiro compostas na década de 1970, a maioria até então inédita antes do registro feito pela cantora. Os arranjos são de nomes como Dori Caymmi e Paulo Aragão, além da participação de um quarteto de cordas, sopros, acordeon, contrabaixo, piano e viola caipira. De voz grave, timbre aveludado e domínio técnico que impressiona, Mônica é, na percepção de críticos como Mauro Ferreira, “uma das maiores cantoras do Brasil de todos os tempos”.
Convidada da edição 2019 do projeto Navegar é Preciso, parceria da Livraria da Vila e da Auroraeco, Mônica lançou no ano passado o CD Caipira, que também saiu pela gravadora Biscoito Fino. O disco ressalta “a alma caipira” e essencialmente poética ao revisitar as origens da música brasileira. São 14 canções, apresentadas de um jeito mais intimista (sobretudo se considerada a exuberância de Corpo de baile, trabalho que antecedeu o novo CD), selecionadas a partir de uma pesquisa que Mônica iniciou no começo dos anos 2000. Segundo a cantora, o momento de realizar Caipira teve a ver com a necessidade de apostar em um “remédio de identidade do Brasil em tempos difíceis”. Algo que, diz Mônica, o público parece ter percebido nos shows que ela já realizou a partir de Caipira. “Existe neste projeto um diálogo de afeto com a nossa identidade. Um quentinho. Isso abre a escuta para um carinho e a gente já sentiu essa resposta.”
Citando um “estado de maravilhamento” experimentado na “escala da potência amazônica”, Mônica se diz empolgada com a participação no Navegar. “A ideia de viver esse lugar imerso na literatura e na música é uma espécie de sonho encantado. Eu estou muito feliz por este convite. Confesso que estava com muita vontade de participar dele muito antes do convite chegar! Com o Teco Cardoso e o Nelson Ayres, vamos fazer nossa homenagem ao poeta Vinicius de Moraes”, ela afirma. Leia a íntegra da entrevista da cantora.
Vila Cultural. Você gosta de entrevistas?
Mônica Salmaso. Gosto e acho importante. São momentos em que as pessoas podem conhecer o entrevistado e entender o processo de um trabalho. Confesso que tenho certo temor pelas “aspas” porque elas, às vezes, contêm frases interpretadas pelo jornalista e não as que foram literalmente ditas. Mas são canais importantes de comunicação.
VC. Que avaliação faz da trajetória de Caipira desde o lançamento do álbum e como foram os primeiros shows baseados no CD?
MS. Fizemos shows em São Paulo, Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, e foram lindos. A mesma necessidade que senti de fazer este projeto como uma espécie de “remédio de identidade do Brasil em tempos difíceis” eu vi refletida na maneira como o público reagiu. Agora, mais do que nunca, sinto essa necessidade. Existe neste projeto um diálogo de afeto com a nossa identidade brasileira. Um quentinho. Isso abre a escuta para um carinho e a gente sentiu essa resposta. Muito bonito.
VC. Como surgiu a possibilidade de documentar Corpo de baile em DVD e como avalia o resultado?
MS. Todo o Corpo de baile é um presente único na minha carreira. O material – canções inéditas da parceria do Guinga com o Paulo César Pinheiro, guardadas por 40 anos – era um baú de tesouro muito precioso que chegou até mim. Por conta dessa responsabilidade, o CD levou mais de dez anos pra ser gerado e eu achava que não viraria um show porque os arranjos escritos para ele, com um número grande de músicos, não poderiam ser reduzidos. Decidi que este show só poderia acontecer através de um projeto com patrocínio que pudesse viabilizá-lo. Fizemos o projeto pela Lei Rouanet e o Bradesco foi nosso parceiro em uma turnê por 25 shows em 11 cidades, sempre com todos os músicos (um dream team), a equipe técnica e um vídeo-cenário criado pelo Walter Carvalho projetado sobre um tule que foi colocado entre a gente, no palco, e a plateia, criando uma fusão das imagens sobre nós. Quando passamos por Belo Horizonte, conversei com o Walter Carvalho sobre filmarmos o show sem saber se conseguiríamos desenvolver este material; mas para não perdermos essa oportunidade, como um investimento. Na verdade, eu queria poder ter (eu e os músicos) a oportunidade de ver este show de alguma forma, porque ele tem uma mistura de linguagens, uma poesia plástica feita pelo Waltinho que se soma à música num resultado que a gente não conseguia ver “de dentro”. Pra nossa felicidade, o Sesc abraçou o projeto e o Waltinho trabalhou com toda a liberdade e autoria o material captado somado a sobreposições das imagens que ele desenvolveu. É um DVD de música para quem está assistindo. Não é um show filmado que deixa o espectador frustrado por não ter estado na plateia. Há, na filmagem e na edição, pontos de vista e criações que não foram vistos pelo público do show. Ao mesmo tempo, é um resultado que indica o que foram estes shows. Quando combinamos de captar, o Waltinho me disse: “O olho humano e a lente da câmera entendem de forma diferente a sobreposição de vocês no palco, com o tule com projeções na frente, então não sabemos ainda o que vamos fazer, mas vamos fazer uma coisa bem legal”. Era tudo o que eu queria ouvir. Ele é um grande artista. Um poeta. Um criador de beleza.
VC. De onde vem a sua “devoção” pela música e como define a sua trajetória como artista?
MS. Eu me apaixonei pela música quando era criança. Ouvia muito todos os discos que tínhamos em casa. Discos meus – disquinhos coloridos, com as histórias e músicas em versões do Braguinha, bem feitas, bem arranjadas, orquestradas – e discos dos meus pais, uma coleção bastante eclética e com muita música brasileira. Cantava com os adultos em saraus e rodas de violão que aconteciam em casa. Ouvia deles que eu era afinada, cantava todo o repertório e isso me dava imenso prazer. Na minha adolescência, a profissão de cantora não fazia parte dos meus planos. Era uma realidade muito distante, não havia faculdade de canto popular, não havia selos pequenos ou produção independente. Era uma realidade muito incerta, distante, nem imaginava como poderia acontecer, então não era uma possibilidade concreta pra mim. Considerava ser jornalista, entrei num cursinho pra estudar para o vestibular e me desesperei com aquilo. Odiava. Me matriculei em aulas de canto na escola Espaço Musical pra ser um pouco feliz. Ali, encontrei uma possibilidade real de profissão como cantora. Em poucos meses anunciei em casa que tinha mudado de planos e que precisava me preparar para ser cantora – dar aulas, gravar jingles, cantar à noite, viver dessa profissão de alguma forma – com mais aulas. Foi o que aconteceu. Minha trajetória é a de uma construção lenta e gradual, tijolo a tijolo. Busquei fazer as escolhas que me pareciam boas e respeitosas com a minha natureza. Tenho orgulho da minha carreira. Com todas as dificuldades que ela pode ter, ela fez um caminho, um público e uma identidade autoral. Tenho orgulho disso.
VC. Depois de 13 álbuns lançados, você concorda com a “observação-comentário” de que a sua carreira é singular no cenário artístico brasileiro?
MS. Tem a ver com a resposta anterior. Eu identifico a minha carreira como muito parecida com a dos solistas instrumentistas com quem eu convivo e aprendi muito; principalmente o violonista, compositor e arranjador Paulo Bellinati. Tive uma sorte imensa de fazer o meu primeiro disco em duo com ele. Eu sabia exatamente a responsabilidade que isto me dava e assistia como ele produzia a sua carreira de solista, fazendo contatos, montando projetos, turnês, sozinho com um computador, um aparelho de fax e um telefone. Achei isso lindo. Uma forma de ser o criador da carreira. Me senti segura através desse modelo. Acho que isso definiu a forma da construção da minha carreira. O próprio trabalho gerando os trilhos da carreira. Uma oportunidade gerando uma escolha e isso se desdobrando em novas frentes. Isso demora, mas deixa um gosto bom de coisa sólida. Há mais gente que fez caminhos como este; meus amigos e colegas instrumentistas com quem trabalho, por exemplo. Todos comprometidos com a qualidade da música e a maestria no que fazem.
VC. Você já disse, por causa do ofício da música, “sentir-se mais próxima de um padeiro do que de uma diva.” Na prática, o que isso significa?
MS. Significa que eu gosto do ofício completo. Da parte de cantar e também da parte do escritório, de fazer planilha, de pensar projetos, de estudar como viabilizá-los, até da prestação de contas de projetos (que é chata e trabalhosa) eu gosto. Pra mim, cantar sempre foi um prazer que é resultado de um processo completo de trabalho. Um ofício diário, se sentar pra trabalhar todo dia para, como prêmio, cantar. Não me reconheço como uma diva no sentido de ser a imagem da artista que não é uma trabalhadora comum e humana que se dedica a um ofício. Foi neste sentido que eu disse. E agora, depois de vinte anos, também existe o sentido de que ofereço meu trabalho na música como quem oferece um pão quentinho feito com amor e tempo de experiência.
VC. “Ouvidos apurados sabem que Mônica Salmaso é uma das maiores cantoras do Brasil de todos os tempos.” Pessoalmente, como você reage a comentários como este, do crítico Mauro Ferreira?
MS. Agradeço. Fico orgulhosa e feliz. Acho que quem opta por fazer um caminho como o que eu faço não tem nenhuma margem pra fazer menos do que o seu melhor. É um caminho sem anabolizantes. Um trabalho bem feito, que leva ao seguinte e a outras oportunidades. Então, tem que ser o máximo do bem feito. Feito dessa maneira, quando se recebe um elogio bom, a gente fica contente.
VC. Aliás, o que significam prêmios e elogios para você?
MS. Significam retornos positivos de reconhecimento da qualidade do trabalho que eu busco fazer. São boas coisas dizendo que está tudo bem, tudo certo.
VC. Apesar da diversidade e da riqueza de todos os seus projetos, fala-se muito que a sua “alma é lírica”. O que você pensa sobre isso?
MS. Eu mesma já disse isso, chamando um dos meus trabalhos de Alma lírica brasileira. Não sei se consigo avaliar de fora… Mas acho que o capricho, a busca em tudo por fazer o meu melhor, cercada de pessoas que eu admiro e fico honrada de estarem comigo, tudo isso traz uma densidade para os trabalhos. Essa densidade não é para torná-los de difícil compreensão. Eu realmente acho que não tem nada de difícil, que o que eu faço é de leitura afetiva para toda e qualquer pessoa. Acho preconceituoso quem avalia que é um trabalho elitista e para poucos. Tive, nestes vinte anos, muitas experiências de shows para públicos que alguns pensariam ser improváveis para o meu trabalho e foram shows lindos e de muito retorno. Então, tentando responder, acho que minha alma é mesmo lírica no sentido poético e artístico. Neste sentido, é tão lírica como um bom café coado, um bom bolo quentinho feito na hora e uma boa conversa caipira, sem pressa.
VC. Com cenários políticos e econômicos tão instáveis, a produção cultural (e musical) chancelada pelo Sesc virou uma grande referência. Poderia comentar essa atuação?
MS. A existência do Sesc em São Paulo, principalmente, definiu a minha carreira. Isso é uma certeza. As possibilidades de trabalho que eu encontrei (como criadora ou como participante) foram muitas; conheci muitas pessoas em projetos feitos para o Sesc. Formei público, viabilizei ideias. É muito importante a atuação do Sesc no sentido de promover uma rede enorme de espaços ótimos de trabalhar, com condições de produção. É fundamental. A movimentação cultural promovida pelos Sescs é transformadora. Ela informa, sensibiliza e dignifica seu entorno e seus frequentadores. Oferece o melhor. No mundo ideal, isso deveria crescer nesta proporção, para todo o Brasil.
VC. Poderia, aliás, falar do Tributo a Wilson Baptista?
MS. Um exemplo tanto da importância do Sesc quanto dos possíveis projetos paralelos que acontecem. No início deste ano fui convidada para fazer um show especial para o projeto Samba imenso, do Sesc Pompeia. Este projeto homenageia nomes do samba, num formato de voz e violão. Convidei meu amigo querido Paulo Aragão (violonista, arranjador e pesquisador incrível) e a gente levantou juntos algumas possibilidades de homenageados. Uma delas era o Wilson Baptista. Meu contato mais sólido com a obra dele foi através do CD primoroso Ganha-se pouco, mas é divertido, da Cristina Buarque, sobre a obra dele, com arranjos do Maurício Carrilho. Este CD faz um importante apanhado da obra do Wilson Baptista, que é enorme, mais de 600 canções compostas. O Paulo me indicou a biografia Wilson Baptista – O samba foi sua glória, do Rodrigo Alzuguir, um livro delicioso sobre a história deste compositor contemporâneo de Noel, Ciro Monteiro, Francisco Alves, toda uma geração fundamental para a história da música popular brasileira. Eu mergulhei no livro apaixonadamente e a gente desenhou um show que passa por um bom desenho da obra e da importância do Wilson com histórias sobre ele, as músicas, o Café Nice, os parceiros. Depois deste show criado, decidimos seguir com ele, ampliando a formação com a entrada do Luca Raele (clarinete) e o Teco Cardoso (sax e flautas). O Paulo, o Teco e o Luca escreveram os arranjos de sopros, selecionamos as histórias e o show virou uma “visita-guiada de câmara”, sobre a obra do Wilson Baptista. Delicioso de fazer.
VC. Como lida, na prática, com as transformações da indústria fonográfica e as plataformas digitais na música?
MS. Ainda estou, como tantos amigos, tentando descobrir pra onde estamos indo. Há muito o que ser definido ainda. Nós insistimos em produzir mídia física porque não sentimos, como criadores, que as plataformas digitais dão conta do que produzimos no sentido de obras completas, que têm um projeto gráfico conceitual, informações, letras de músicas, nomes de músicos e compositores, nossos agradecimentos e afetos por um trabalho completo que reflete um momento de criação, uma fase, uma ideia. Pra nós, as plataformas digitais ainda funcionam como um “braço” de divulgação de parte do trabalho e que, queremos crer, leve o ouvinte a ter vontade de ter em casa o CD que fizemos. Mas isso tende a mudar e estamos nos acostumando. No Caipira, por exemplo, eu disponibilizei o material gráfico em PDF para download na compra do CD no i-Tunes, uma forma de sentir que o CD chegará inteiro a quem compra. Há muito o que ser definido em relação aos direitos de informação e de retorno financeiro dos artistas que geram os conteúdos. Isto está mal definido. Precisa ser melhorado ou inviabilizará carreiras. Novos artistas e compositores terão que ter outras fontes de renda. Isto não está certo, pois são eles que geram o conteúdo que alimenta as plataformas. Enfim, sinto que ainda estamos patinando.
VC. Que percepção tem do cenário musical brasileiro neste momento?
MS. Existe uma enorme geração de músicos, intérpretes e compositores muito bons trabalhando e viabilizando suas carreiras à margem de uma indústria que se encolheu brutalmente. Conheço vários artistas que trilham seus caminhos em conjunto e fazem trabalhos lindos. Estão todos construindo seus públicos com dificuldades, mas criativamente buscando soluções. Acho até que, de uns tempos pra cá, esses caminhos paralelos à indústria passaram a abrigar artistas que faziam parte do mainstream, e que sentiram essas mudanças. Sinto que estamos no meio delas. Mas a criação e a produção estão vivíssimas. Posso citar aqui alguns nomes de artistas que estão no cenário musical autoral com trabalhos lindos: Thiago Amud, Rhaissa Bittar, Tatiana Parra, Leandro César, Neymar Dias, Irene Bertachini, Livia Nestrovski, Alexandre Andres, Vanessa Moreno… E destaco uma geração nova de instrumentistas se formando de maneira sólida como, por exemplo, os músicos da Orquestra Jovem Tom Jobim, um dos corpos da EMESP– Escola de Música do Estado de São Paulo, que são exemplos da minha maior esperança no futuro. Cada solista convidado que tem a sorte de trabalhar com eles se apaixona e se emociona num grau absoluto de encantamento. São nossos ouros, nossas pedras preciosas. O que nos interessa pra um Brasil do qual possamos nos orgulhar. E nossos remédios em
tempos obscuros.
VC. Além de programar uma eventual turnê de Caipira, você trabalha em algum outro projeto atualmente?
MS. Uma carreira como a minha, em que o CD lançado não mobiliza uma agenda enorme e que é feita através de uma convivência real e criativa com músicos, grupos e até orquestras, tem a possibilidade de gerar encontros diversos, em projetos paralelos ao do disco de carreira. Isso é uma sorte, porque acontecem coisas lindas como os meus encontros com o Guinga, com o Quinteto de Clarinetes Sujeito a Guincho, com o André Mehmari, com o Marco Pereira (recentemente), com a Orquestra Tom Jobim, a Banda Mantiqueira, todos projetos que me dão imensa alegria.
VC. Que critérios você usa para definir um projeto, um trabalho e como entende que chegou a hora de realizá-lo?
MS. Cada trabalho tem uma história própria. Eu vivo sempre aberta e pensando em várias possibilidades de trabalhos futuros. Cada ideia vai para um baú que eu sempre visito. Em algum momento, algo pede pra ser a vez daquela determinada ideia (é mais ou menos o que mais acontece), ou um convite inesperado abre uma possibilidade que eu não tinha pensado, mas pela qual me apaixono e chega atropelando a hora das outras ideias. O Corpo de baile demorou 13 anos pra eu realizar. O Caipira foi uma ideia que nasceu em 2003 e virou CD no ano passado. O Alma lírica nasceu por acaso durante a turnê do Noites de gala que, por sua vez, fez-se urgente para agradecer o convite que o Chico me fez pra cantar com ele Imagina, no CD Carioca.
VC. Qual a sua expectativa com a participação, no ano que vem, no projeto Navegar é Preciso?
MS. Minha experiência na Amazônia foi um dos acontecimentos mais fortes que eu vivi. Fui para lá, pela primeira vez, num Projeto Pixinguinha (projeto extremamente importante que acabou e merecia ser retomado). A escala da potência amazônica, a escala de tudo, água, natureza, tamanho das folhas, árvores, as cores dos bichos, os sabores da culinária, tudo isso me colocou num estado de puro maravilhamento e numa percepção de escala da nossa importância diante do planeta. Uma experiência encantada e pedagógica pela qual todo mundo deveria passar. Essa ideia de viver esse lugar imerso na literatura e na música é uma espécie de sonho encantado. Eu estou muito feliz por este convite. Confesso que estava com muita vontade de participar dele muito antes do convite chegar! Com o Teco Cardoso e o Nelson Ayres, vamos fazer nossa homenagem ao poeta Vinicius
de Moraes.