Em Uma mulher transparente, Edgard Telles Ribeiro junta jogos de memória e poder a partir dos anos de 1960
O jornalista e escritor Edgard Telles Ribeiro faz sessão de autógrafos dia 3 de maio na loja do Shopping Higienópolis para o lançamento de seu novo romance, Uma mulher transparente (Todavia). No livro, ele se apropria de ferramentas clássicas do mistério e do romance noir para se dedicar a uma trama que também revisita a história recente do Brasil, com um engenhoso jogo de memória e poder. Sua paixão pelo cinema e pela força dos diálogos também está
posta no livro.
A história se passa no início dos anos de 1960 e começa quando um jovem repórter vê seu chefe, respeitado intelectual, com uma arma escondida na cintura. Antes que pudesse dar qualquer sentido à cena insólita, percebe que há uma comoção na rua e, da janela, vê o corpo de uma mulher estirado na calçada. Mesmo após duas décadas de ditadura, a cena continuará a assombrar o rapaz, e a morte do chefe acenderá novamente o mistério: por que, afinal, ele teria ocultado aquela
arma na cintura?
A partir dessa questão, Edgard Telles Ribeiro cria a atmosfera perfeita para voltar a uma época de incertezas políticas no Brasil. “Arrastei as pernas até um bar que frequentávamos, perto do Teatro Municipal. Guilherme se juntara a nós. Por duas vezes viramos para trás. O grupo na calçada crescia, já não dava para ver o corpo, nem o homem agachado a seu lado. À distância ouvimos uma sirene. Um carro de bombeiros logo passou por nós. ‘Só faltava essa’, disse Herculano. ‘Um incêndio’. Eram palavras que destoavam. De tudo, a começar pela presença daquele corpo na calçada. Como se Herculano procurasse reduzir a importância do que acabara de suceder a algo que pertencesse à rotina da cidade grande. Mas sua frase me levou a olhá-lo de lado. E a reparar que estava sem paletó. Como nós, ele descera a escada às pressas. Olhei para sua cintura. E só então me dei conta de que associara o cadáver ao revólver que vira momentos antes. Uma associação absurda, além de improcedente – um fotograma perdido, inserido na cópia do filme errado”, ele escreve.
Diplomata, cineasta e professor de cinema, Telles Ribeiro já publicou 11 livros, entre eles o Olho de rei e Histórias mirabolantes de amores clandestinos. Seus romances também foram publicados nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Espanha e Austrália.
“O leitor se sente preso o tempo todo e percebe que está lendo textos densos, com uma impressionante carga de vida, tornada mais sugestiva pelo distanciamento estratégico do narrador e pela serenidade da escrita. Edgard Telles Ribeiro é um escritor da melhor qualidade, sobretudo porque sabe trabalhar a linguagem como se ela fosse finalidade antes de ser veículo”, escreveu, comentando O livro das pequenas infidelidades, o saudoso crítico Antonio Candido sobre o trabalho de Telles Ribeiro.
LANÇAMENTO
Livro: Uma mulher transparente (Todavia), de Edgard Telles Ribeiro
Loja: Shopping Pátio Higienópolis
Quando: dia 3 de maio, às 18h30